
Na 25ª Reunião Ministerial da Horn of Africa Initiative (HoAI), co-presidida por Nnenna Nwabufo, Vice-Presidente de Desenvolvimento Regional do Banco Africano de Desenvolvimento, e Bihi Iman Egeh, Ministra das Finanças da Somália, líderes de Djibuti, Eritreia, Etiópia, Quênia, Somália e Sudão definiram a integração digital como pilar central para reduzir barreiras comerciais, melhorar serviços públicos e gerar empregos para os jovens.
O que é a Horn of Africa Initiative?
Lançada em outubro de 2019 pelos ministros das Finanças de seis países — Djibuti, Eritreia, Etiópia, Quênia, Somália e Sudão — com o respaldo de parceiros como Banco Mundial, FMI e União Europeia, a HoAI promove cooperação regional em quatro pilares: infraestrutura, comércio, resiliência climática e capital humano.
Infraestrutura Digital como Eixo de Poder
Principais propostas em Nairóbi:
- Corredores de fibra óptica terrestre (Horizon Fiber Initiative entre Etiópia, Djibuti e Sudão, com MoU assinado em dezembro de 2024);
- Conexão transfronteiriça via cabo submarino PEACE (Pakistan & East Africa Connecting Europe), com capacidade de até 24 Tbit/s para conectar a costa do Quênia, Somália e Djibuti ao Sudeste Asiático e Europa;
- Interoperabilidade de sistemas de identidade digital e plataformas de pagamento (inspirado no modelo M‑PESA, Quênia);
- Parcerias público-privadas para incubadoras de fintech e hubs de inovação em Addis Ababa e Nairobi
Essa malha digital visa transformar o Chifre da África num hub regional de tecnologia, atraindo investimentos estrangeiros e reforçando a integração econômica.
Disputa de Influência Externa
A digitalização da região ocorre em meio à competição estratégica entre grandes potências:
- China: Huawei e ZTE lideram redes 5G e expansão de data centers; projetos financiados por empréstimos do Exim Bank chinês para infraestrutura digital;
- União Europeia: Programas de capacitação digital (EU Digital for Development), legislação de proteção de dados (modelo GDPR) e fundo de €200 milhões para startups africanas;
- Estados Unidos: “Digital Africa Initiative”, focada em segurança cibernética e interoperabilidade de sistemas críticos.
Os países do Chifre devem equilibrar os benefícios desses investimentos com os riscos de vigilância e dependência tecnológica.
Cibersegurança e Governança de Dados
A expansão de identidades digitais e serviços eletrônicos aumenta a superfície de ataque:
- Ataques DDoS a portais de governo eletrônico;
- Uso político de bancos de dados civis;
- Necessidade de um centro regional de cibersegurança, em discussão para sediar em Nairobi até o final de 2025.
Desenvolver políticas de proteção de dados e protocolos regionais de resposta a incidentes é imperativo para preservar direitos civis e a integridade dos sistemas de Estado.
Juventude, Emprego e Dividendo Demográfico
Com 60% da população abaixo de 25 anos, a África é o continente mais jovem do mundo. A digitalização oferece:
- Cursos de capacitação em programação e gestão de dados, já implementados em 12 parques de tecnologia financiados pelo AfDB;
- Plataformas de microempreendedorismo digital que conectam artesãos e agricultores a mercados globais;
- Redução da migração forçada ao gerar oportunidades locais.
Essas iniciativas estreitam a coesão social e reduzem tensões em áreas vulneráveis a conflitos internos.
Conclusão: Desenhando o Novo Tabuleiro Geopolítico
A integração digital no Chifre da África ultrapassa a esfera tecnológica: ela redefine alianças, potencializa o poder suave de atores externos e coloca a região no centro de disputas globais por soberania digital. O verdadeiro desafio para os países membros da HoAI é garantir que essa revolução seja usada como ferramenta de autonomia, e não de subordinação geopolítica.
A história da próxima década na África Oriental será escrita não em tratados de paz ou gasodutos, mas em cabos de fibra óptica, protocolos de cibersegurança e legislações digitais que moldarão o equilíbrio de poder continental e mundial.
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