
A política europeia em relação à guerra na Ucrânia entrou em um novo capítulo depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu a comunidade internacional ao apoiar publicamente a recuperação de todo o território ucraniano perdido desde 2014. A mudança de tom em Washington, celebrada por Kiev, levou o governo alemão a pedir que a Europa assuma um papel mais ativo e estratégico na condução da resposta ao conflito.
Uma guinada inesperada em Washington
Desde sua volta ao poder em janeiro de 2025, Donald Trump vinha sinalizando uma postura ambígua em relação à Ucrânia. Por um lado, defendia cortes nos gastos militares norte-americanos no continente europeu e criticava o que chama de “dependência excessiva” dos aliados em relação a Washington. Por outro, mantinha apoio político a Kiev, ainda que sem comprometer novos pacotes bilionários de ajuda.
A declaração recente marcou uma virada. Trump afirmou que a Ucrânia deve “retomar tudo o que lhe pertence, sem concessões territoriais à Rússia”, deixando claro que, em sua visão, não pode haver acordo de paz baseado em perda de soberania. Além disso, o presidente norte-americano provocou Moscou ao dizer que a Rússia se tornou um “tigre de papel” e que estaria “lutando sem rumo”, apesar de manter aparências de força. Essas falas reforçaram a percepção de que Washington não pretende suavizar sua posição frente ao Kremlin.
Reação da Ucrânia
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu positivamente às declarações de Trump. Em entrevistas recentes, ele expressou surpresa, mas considerou a posição do presidente dos EUA como um “sinal positivo”. Zelensky destacou que Trump demonstrou um apoio mais firme à Ucrânia, o que indica que os Estados Unidos estarão ao lado do país até o fim da guerra. Ele também comentou que Trump pode influenciar outros líderes globais, como o presidente chinês Xi Jinping, a reavaliar suas posições em relação à guerra da Rússia na Ucrânia. Zelensky enfatizou que qualquer futuro acordo de paz não poderá incluir concessões territoriais, alinhando-se à nova postura de Trump.
A reação de Berlim
O governo alemão, tradicionalmente cauteloso em temas de segurança, respondeu com firmeza. Porta-vozes em Berlim destacaram que a Europa não pode depender das oscilações da política norte-americana e precisa construir sua própria capacidade de resposta. Para a Alemanha, isso inclui ampliar a ajuda militar e econômica à Ucrânia, coordenar esforços diplomáticos mais robustos e investir na indústria de defesa do bloco.
O chanceler alemão afirmou que “o destino da Ucrânia é também o destino da Europa”, sublinhando que a guerra ameaça diretamente a segurança continental e exige protagonismo europeu. A mensagem foi clara: com os Estados Unidos redefinindo prioridades, a União Europeia deve demonstrar independência estratégica.
Impacto na União Europeia
O posicionamento alemão reacende debates internos no bloco. Países da Europa Central e Oriental — como Polônia e Estados Bálticos — há muito pedem maior firmeza contra Moscou e veem a nova postura dos EUA como alinhada às suas preocupações. Já membros como Hungria e Eslováquia mantêm reservas quanto ao envio de armamentos pesados e preferem uma solução negociada.
Bruxelas enfrenta, portanto, um dilema: fortalecer a unidade europeia diante de uma Rússia cada vez mais agressiva, sem deixar que divisões internas minem a credibilidade do bloco. A Alemanha, como maior economia da UE, assume papel central nesse equilíbrio.
Rússia observa com cautela
Em Moscou, a mudança de discurso de Trump foi recebida com desconfiança. A imprensa russa sugeriu que se trata de uma “tática de barganha” para obrigar Kiev a adotar posições mais flexíveis em futuras negociações. O Kremlin, no entanto, reforçou sua retórica, afirmando que “qualquer tentativa de retomar territórios será respondida de forma decisiva”.
Além disso, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reagiu diretamente às declarações de Trump. Ele rejeitou a afirmação de que a Rússia estaria em dificuldades econômicas ou militarmente enfraquecida, dizendo que essas observações distorcem a realidade. Em resposta à comparação feita por Trump, Peskov ironizou: “não há ursos de papel; a Rússia é um urso real”. Ele ainda ressaltou que a economia russa segue estável, apesar das sanções, e que a operação militar é conduzida de forma planejada para preservar recursos e minimizar perdas. Segundo Peskov, o chanceler Sergei Lavrov deverá consolidar essa posição nas próximas negociações diplomáticas com os EUA.
O peso da reconstrução e da segurança
Além da questão militar, está em jogo o futuro da reconstrução ucraniana e a redefinição do papel europeu no sistema internacional. Economistas alertam que o custo da guerra já ultrapassa centenas de bilhões de euros e que somente uma coordenação global poderá sustentar a recuperação de longo prazo.
Para a Alemanha, assumir protagonismo não significa apenas enviar tanques ou sistemas de defesa aérea, mas também liderar uma coalizão econômica e política capaz de garantir estabilidade após o fim do conflito.
Conclusão
A guinada de Donald Trump ao apoiar a retomada total do território ucraniano reposiciona o debate sobre a guerra e coloca a Europa diante de uma escolha estratégica. A resposta alemã evidencia a consciência de que, independentemente da política em Washington, o continente precisa assumir mais responsabilidades.
Nesse novo tabuleiro, a União Europeia pode sair fortalecida se conseguir unir esforços e mostrar capacidade de liderança global. Caso contrário, corre o risco de permanecer refém de decisões externas e exposta às incertezas de uma guerra que continua a moldar o futuro da ordem internacional.
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