Dinamarca reforça defesa com armas de longo alcance em resposta à ameaça russa

Modelo do Joint Strike Missile (JSM) exibido em feira de defesa, representando o possível armamento adquirido pela Dinamarca, segundo analistas.
Modelo do Joint Strike Missile (JSM) apresentado em feira internacional de defesa. Analistas sugerem que este tipo de míssil de precisão de longo alcance pode fazer parte do arsenal que a Dinamarca adquiriu para reforçar sua defesa contra a Rússia.

A Dinamarca anunciou nesta semana um novo passo em sua estratégia de defesa: a aquisição de armas de precisão de longo alcance, justificando a decisão como resposta direta ao aumento das tensões militares com a Rússia. O movimento reflete a preocupação crescente entre países europeus diante das ambições geopolíticas de Moscou e de seus exercícios militares na região do Báltico.

O contexto da decisão

O anúncio ocorre em meio a um cenário de instabilidade no Leste Europeu. Desde a invasão russa da Ucrânia em 2022, a segurança continental entrou em um novo patamar. Embora a Dinamarca não compartilhe fronteira terrestre com a Rússia, sua localização estratégica no mar Báltico e a proximidade com países diretamente expostos — como Estônia, Letônia e Lituânia — fazem do país um elo relevante na defesa da OTAN.

Nos últimos meses, Moscou intensificou exercícios conjuntos com Belarus, como a manobra militar “Zapad-2025”, interpretada pela Aliança Atlântica como uma demonstração de força e um recado ao Ocidente. Para Copenhague, tais sinais reforçam a necessidade de preparar suas Forças Armadas para cenários de conflito de alta intensidade.

O que são as armas de longo alcance adquiridas

Embora o governo dinamarquês não tenha divulgado oficialmente quais sistemas de mísseis foram comprados, especialistas em defesa apontam algumas possibilidades. A Dinamarca tem estreita cooperação militar com os Estados Unidos e outros países da OTAN, o que levanta hipóteses sobre os seguintes armamentos:

  • Tomahawk (EUA): míssil de cruzeiro de longo alcance, capaz de atingir alvos a mais de 1.000 km, utilizado amplamente pela Marinha americana.
  • Storm Shadow/SCALP (Reino Unido/França): míssil de cruzeiro com alcance de cerca de 560 km, projetado para destruir alvos estratégicos em profundidade.
  • Joint Strike Missile (Noruega/EUA): versão mais moderna do míssil Naval Strike Missile, já integrado a caças F-35, aeronaves que a Dinamarca opera.

Independentemente do modelo escolhido, trata-se de um salto qualitativo para as capacidades militares dinamarquesas. Esses armamentos permitem não apenas a defesa do território nacional, mas também a projeção de poder em cenários de coalizão, aumentando o peso do país dentro da OTAN.

A percepção da Rússia e o risco de escalada

Moscou tende a interpretar tais aquisições como parte da “expansão militar da OTAN” — uma narrativa usada pelo Kremlin para justificar suas próprias movimentações militares. Autoridades russas já acusaram países bálticos e nórdicos de transformarem a região em um “arsenal ocidental”.

O risco é que medidas defensivas, embora justificadas pelo aumento das ameaças, sejam vistas como provocação por parte da Rússia, alimentando ainda mais o ciclo de desconfiança. Esse dilema é central na atual segurança europeia: como reforçar a defesa sem alimentar a escalada?

Dinamarca e a transformação da defesa europeia

A decisão dinamarquesa não é isolada. Nos últimos dois anos, vários países da região vêm reforçando seus arsenais:

  • Suécia e Finlândia, agora membros da OTAN, aumentaram consideravelmente os investimentos em defesa aérea e naval.
  • Polônia está em processo de se tornar uma das forças terrestres mais poderosas da Europa, adquirindo tanques, sistemas de defesa antiaérea e caças de última geração.
  • Alemanha, tradicionalmente reticente em expandir seu poder militar, também lançou um fundo especial bilionário para modernizar suas Forças Armadas.

Esse movimento coletivo mostra que a Europa entrou em uma nova era de rearmamento, impulsionada pelo receio de que a Rússia não se limite à guerra na Ucrânia.

Implicações para a OTAN

Para a OTAN, a aquisição fortalece a coesão defensiva do flanco norte, área considerada vulnerável. O estreito de Categate, entre a Dinamarca e a Suécia, é uma rota marítima vital que conecta o mar do Norte ao Báltico. Controlar essa passagem é estratégico em qualquer cenário de conflito. Com maior capacidade de dissuasão, a Dinamarca torna-se peça-chave na contenção de Moscou.

Além disso, o gesto demonstra alinhamento total com a política de defesa norte-americana, que insiste na necessidade de os aliados europeus aumentarem suas próprias capacidades militares. Para Washington, esse esforço coletivo é essencial para dividir os custos da segurança transatlântica.

Conclusão

A decisão da Dinamarca de adquirir armas de precisão de longo alcance marca um divisor de águas em sua política de defesa. Mais do que uma simples compra de armamento, trata-se de um reposicionamento estratégico em um continente onde a percepção de ameaça da Rússia cresce a cada ano.

Se, por um lado, a medida fortalece a segurança dinamarquesa e da OTAN, por outro também carrega o risco de alimentar a narrativa de confronto propagada por Moscou. Nesse equilíbrio delicado, a Europa segue se rearmando, consciente de que a estabilidade continental dependerá, em grande parte, da sua capacidade de dissuadir qualquer nova agressão.

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