
Em 25 de junho de 2025, o arcebispo Bagrat Galstanyan, figura de destaque na Igreja Apostólica Armênia, foi detido pelas autoridades de Yerevan sob a acusação de liderar um complô para derrubar o governo do primeiro-ministro Nikol Pashinyan. Além da prisão, o Estado divulgou gravações de supostas reuniões em que Galstanyan e colaboradores planejavam ataques terroristas e a tomada de instituições-chave. Esta detenção ocorre num momento de forte tensão política interna, marcada por protestos massivos, disputas territoriais com o Azerbaijão e a proximidade das eleições parlamentares de 2026.
Detalhes da prisão e acusações oficiais
- Data e órgão responsável: A prisão ocorreu na manhã de 25 de junho de 2025 e foi anunciada pelo Comitê de Investigação da Armênia.
- Acusações principais: Segundo o comunicado oficial, Galstanyan e seus supostos cúmplices teriam “adquirido os meios e ferramentas necessárias para cometer um ataque terrorista e tomar o poder”, recrutando mais de 1.000 pessoas — em sua maioria ex-soldados e policiais — para bloquear estradas, paralisar o tráfego, incitar violência e interromper o acesso à internet.
- Evidências apresentadas: As autoridades divulgaram áudios em que o arcebispo e interlocutores discutem estratégias de desestabilização e formas de “sequestro” de edifícios governamentais.
Contexto de protestos e oposição
- Protestos de 2024: Em resposta às perdas territoriais para o Azerbaijão — especialmente a retomada completa de Nagorno-Karabakh em setembro de 2023 — Galstanyan liderou manifestações que reuniram milhares de pessoas em Yerevan, exigindo a saída de Pashinyan.
- Ruptura com o governo: Em 4 de junho de 2025, o vice-presidente do Parlamento, Ruben Rubinyan (aliado de Pashinyan), acusou o arcebispo de atuar como “agente de influência estrangeira”, após declarações de Galstanyan sobre suposta interferência externa que visaria transformar a Armênia num “centro de revoluções coloridas” ﹘ apontamento que amplia o clima de desconfiança entre Igreja e Estado.
Repercussão política e eleitoral
- Eleições de 2026: Com votação marcada para junho de 2026, o governo de Pashinyan busca consolidar estabilidade e avançar na negociação de um tratado de paz com o Azerbaijão. A detenção de um líder religioso de grande apelo popular pode tanto mobilizar setores nacionalistas em apoio ao Executivo quanto inflamar ainda mais a oposição organizada.
- Repressão a vozes críticas: Este é o segundo caso de prisão de um opositor proeminente em junho de 2025, após o bilionário Samvel Karapetyan ser detido por “convocação à usurpação do poder” — ambos negam irregularidades.
Reação internacional e posição da Rússia
- Enfoque russo: O Kremlin afirmou tratar-se de “assunto interno da Armênia”, mas sublinhou seu interesse em “manter a calma e a ordem” no país, enquanto expressa esperança de que o conflito com o Azerbaijão não seja reavivado.
- Equilíbrio geopolítico: Tradicional aliada de Moscou, a Armênia tem buscado diversificar parcerias, incluindo aproximações com o Ocidente, o que tem causado atritos em sua relação com a Rússia.
Implicações para a estabilidade regional
- Risco de escalada: Qualquer instabilidade interna reduz a capacidade de Yerevan de reagir a violações de cessar-fogo na fronteira com o Azerbaijão, onde confrontos esporádicos aumentaram em 2025.
- Papel da Igreja: Levar à Justiça um arcebispo de alta hierarquia pode redefinir os limites da atuação religiosa na política armênia, com possíveis desdobramentos para a liberdade de expressão e de crença no país.
Conclusão
A prisão de Bagrat Galstanyan representa um ponto de inflexão na política armênia pós-conflito, simbolizando a tensão entre as esferas religiosa e estatal em um momento de grandes desafios internos e geopolíticos. Os próximos meses serão decisivos para avaliar se o governo conseguirá manter a ordem sem aprofundar divisões, enquanto avança nas negociações de paz e se prepara para as eleições de 2026.
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