ASEAN Fecha Aliança Tarifária para Proteger Bloco de Impactos das Tarifas dos EUA

Primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, no palco antes da cerimônia de assinatura da Declaração de Kuala Lumpur sobre a ASEAN 2045 durante a 46ª Cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, maio de 2025.
Anwar Ibrahim durante a cerimônia de assinatura da Declaração de Kuala Lumpur sobre a ASEAN 2045 na 46ª Cúpula da ASEAN, Kuala Lumpur, 26 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Hasnoor Hussain.

A mais recente ofensiva tarifária dos Estados Unidos, batizada de “Liberation Day Tariffs”, lançou novas incertezas sobre o futuro do comércio internacional no Sudeste Asiático. Em meio a esse cenário, os países-membros da ASEAN se reuniram em Kuala Lumpur, entre 26 e 27 de maio de 2025, para discutir uma resposta coordenada às novas alíquotas impostas por Washington — que variam de 32% a 49% sobre produtos estratégicos como semicondutores, têxteis e eletrônicos.

A medida, amplamente vista como parte da nova política comercial da administração Trump para conter a influência econômica da China, acabou pressionando aliados tradicionais no Sudeste Asiático, cuja integração nas cadeias de valor globais depende fortemente do acesso ao mercado norte-americano.

Em resposta, a ASEAN tenta equilibrar pragmatismo comercial com solidariedade regional, ao exigir que os acordos bilaterais com os EUA não comprometam os interesses coletivos do bloco. A decisão abre uma nova fase nas relações econômicas Ásia-EUA e pode ter implicações geopolíticas significativas — incluindo espaço para maior influência chinesa na região.

Coesão regional em meio às tarifas “Liberation Day”(“Dia da Libertação”)

Na cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, os dez países membros — totalizando cerca de 660 milhões de habitantes — firmaram um princípio inédito: quaisquer acordos bilaterais de tarifas com os Estados Unidos devem proteger o bem‑estar econômico de todos os membros, sem sacrificar interesses de vizinhos.

Anwar Ibrahim, primeiro‑ministro da Malásia e presidente rotativo da ASEAN, ressaltou que o consenso reflete a necessidade de “proteger o território” comum do bloco, ao mesmo tempo em que se mantém o acesso ao maior destino exportador da região.

Além disso, a ASEAN constituiu um taskforce (força-tarefa) para coordenar uma resposta coletiva, em paralelo às negociações bilaterais já iniciadas por alguns países, reforçando a estratégia de ação unificada contra as tarifas impostas por Washington.

Impacto nas exportações e volume de comércio

Volume de exportações da ASEAN para os EUA em 2024 (US$ bilhões)

PaísExportações em 2024 (US$ bilhões)
Vietnã97,07
Tailândia55,11
Malásia52,00
Singapura43,55
Indonésia28,10

Os números referem-se ao total de bens exportados para os EUA no período.

Projeções de crescimento do PIB em 2025

  • Região (Developing Asia): 4,9 % (Banco Asiático de Desenvolvimento)
  • Vietnã: 5,8 % (FMI) 5
  • Filipinas: 5,5 % (FMI)

Análise de Cenários

Cenário Otimista

  • Redução gradual das alíquotas “Liberation Day”, por meio de um acordo multilateral complementar às bilaterais.
  • Manutenção das cadeias de valor regionais, com leve alta nos investimentos estrangeiros.

Cenário Pessimista

  • Tarifas elevadas (32%–49%) mantidas até julho e além, levando a realocação de exportadores para mercados alternativos (China, UE).
  • Desintegração parcial das cadeias de valor intra-ASEAN e redução do dinamismo exportador.

Implicações Geopolíticas: Oportunidades para a China

  • Maior penetração de produtos chineses em eletrônicos, maquinário e têxteis nos mercados ASEAN, aproveitando a incerteza americana.
  • Fortalecimento de iniciativas como o RCEP e extensão de acordos bilaterais que complementem o multilateralismo econômico liderado pela China.
  • Avanço de projetos de infraestrutura sob o Belt and Road, reforçando o soft power de Pequim na região.

Conclusão

A recente cúpula da ASEAN demonstra a crescente maturidade política e econômica do bloco diante de desafios globais cada vez mais complexos, como as tarifas “Liberation Day” impostas pelos EUA. O consenso em proteger os interesses coletivos reflete a importância da coesão regional para preservar a competitividade do Sudeste Asiático no comércio internacional, especialmente diante da incerteza que permeia o atual cenário econômico global.

As projeções de crescimento indicam que a região ainda mantém uma dinâmica robusta, embora vulnerável a fatores externos. O desfecho das negociações tarifárias será decisivo para definir se a ASEAN poderá continuar sua trajetória de integração e desenvolvimento ou se será obrigada a buscar alternativas para mitigar impactos negativos, como a intensificação das relações comerciais com a China e a União Europeia.

Por fim, o alinhamento geopolítico com parceiros globais, somado à necessidade de uma resposta unificada frente a tensões internas como a crise em Myanmar, reafirma o papel estratégico da ASEAN como um ator-chave na estabilidade e prosperidade do Indo-Pacífico. A capacidade do bloco em articular seus interesses comuns diante das pressões externas será crucial para garantir um futuro econômico sustentável para seus 660 milhões de habitantes.

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