
Na noite de 16 para 17 de junho de 2025, a Rússia desencadeou uma ofensiva aérea sem precedentes contra a Ucrânia, concentrando uma verdadeira “chuva de fogo” sobre Kiev. Em quase nove horas de bombardeio contínuo, foram lançados mais de 440 drones-kamikaze e 32 mísseis contra ao menos 27 alvos na capital, além de atingirem cidades como Odesa, Zaporizhzhia, Cherníguiv, Zhytomyr, Kirovohrad e Mykolaiv. Autoridades ucranianas confirmam que 15 civis morreram e 124 ficaram feridos, muitos gravemente, tornando este o ataque mais letal a Kyiv em quase um ano. Em resposta, o governo de Volodymyr Zelensky declarou um dia de luto, enquanto o país intensifica seus apelos por reforço defensivo junto aos parceiros ocidentais em meio ao G7 no Canadá.
Detalhes do Ataque
O ataque começou no início da noite do dia 16 de junho e se estendeu por cerca de nove horas, com ondas sucessivas de drones e mísseis disparados por plataformas aéreas, terrestres e navais russas. A capital sofreu impactos em 27 locais, incluindo bairros residenciais, escolas e infraestrutura crítica. Um míssil balístico atingiu um bloco de nove andares no distrito de Solomianskyi, reduzindo parte do edifício a escombros e deixando dezenas de famílias desabrigadas. Equipes de resgate utilizaram guindastes e mangueiras de água para apagar incêndios e retirar civis presos sob os escombros.
Em Odesa, o ataque deixou ao menos um morto e 17 feridos, conforme reportado pelo Ministério do Interior da Ucrânia. Outras regiões, como Zaporizhzhia e Zhytomyr, também registraram danos a residências e redes de distribuição de energia elétrica, causando interrupções no fornecimento local.
Nova Tática de Saturação
Analistas militares descrevem esta ofensiva como parte de uma nova “tática de saturação” russa: o lançamento coordenado de centenas de armas não tripuladas e mísseis simultaneamente para sobrecarregar os sistemas de defesa aérea ucranianos. “O objetivo é forçar as defesas a escolher entre alvos civis e militares, aumentando assim a letalidade e o efeito psicológico”, explica Oleksandr Kovalenko, especialista em defesa, citando observações recentes de falhas pontuais na cobertura antiaérea de Kiev.
Desde o início de junho, essa estratégia tem sido empregada em diferentes frentes, indicando uma tentativa russa de testar novas metodologias de ataque antes de grandes ofensivas de inverno. A coordenação entre drones de ataque e mísseis de cruzeiro ampliou drasticamente o alcance e a dispersão dos pontos atingidos.
Impacto Humanitário e Declaração de Luto
A prefeitura de Kiev, sob o comando do prefeito Vitalii Klitschko, decretou um dia de luto na quarta-feira (17 de junho), em memória das vítimas civis. Entre os mortos estava um americano de 62 anos, atingido por estilhaços enquanto estava em sua residência. O número de feridos (124) inclui idosos e crianças, muitos com ferimentos graves que requerem cuidados intensivos.
Socorristas franceses e parceiros da OTAN em missão de treinamento na Ucrânia reforçaram a assistência às equipes locais, fornecendo equipamentos especializados para busca e salvamento em áreas de escombros e suporte médico avançado.
Reação Internacional e Debate Político
Enquanto o país vivenciava o bombardeio, o presidente Zelensky participava da cúpula do G7 em Ottawa. Em discurso, classificou o ataque como “terrorismo puro” e conclamou os Estados Unidos e a Europa a “responder como sociedades civilizadas”, endurecendo sanções e acelerando a entrega de sistemas de defesa aérea de médio alcance. O ministro das Relações Exteriores, Andrii Sybiha, reprochou o que chamou de “conivência tácita” de líderes que resistem a medidas mais duras contra Moscou.
Em contraste, o presidente americano Donald Trump manifestou-se, segundo fontes oficiais, de forma mais moderada, defendendo diálogos de paz e evitando sancionar diretamente o Kremlin durante a cúpula — postura que gerou desconforto entre aliados europeus.
Desafios à Defesa Aérea Ucraniana
Os sistemas de defesa de Kiev, embora funcionais, mostraram limitações ao interceptar simultaneamente grandes enxurradas de drones e mísseis. Nas primeiras horas, falhas de radar e congestionamento de bases de lançamento comprometeram a taxa de sucesso das intercepções. A Ucrânia vem solicitando, desde abril, a entrega de sistemas Patriot e de defesa ponto-a-ponto, mas enfrentou atrasos na aprovação legislativa de alguns países parceiros.
Especialistas recomendam ainda a integração de sensores móveis de alerta antecipado e o reforço das baterias de canhões antiaéreos de curto alcance para proteger áreas urbanas densas. Além disso, unidades de EW (guerra eletrônica) poderiam degradar sinais de comando e controle dos drones-kamikaze russos.
Perspectivas e Conclusão
Com o conflito adentrando o quarto ano e sem perspectiva imediata de negociação bem-sucedida após duas rodadas de conversas em Istambul, a dinâmica de ataques em larga escala contra civis deve permanecer uma constante. A escalada de táticas de saturação aérea evidencia a urgência de uma resposta coordenada da comunidade ocidental, tanto em termos de ajuda militar quanto de sanções econômicas mais contundentes contra o Kremlin.
A capacidade de Kiev de resistir a esses ataques nos próximos meses dependerá diretamente do grau de coesão entre aliados e da rapidez no envio de equipamentos críticos. Sem fortalezas antiaéreas robustas, o risco de que tragédias como a de 17 de junho se repitam com ainda mais intensidade permanece elevado.
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