Artilharia renovada das RSF em El-Fasher deixa dezenas de vítimas

Homem observa a fumaça após ataque de drone em Port Sudan
Um homem observa a fumaça espessa que se eleva após um ataque de drone em Port Sudan, importante ponto de apoio humanitário no Sudão, enquanto o conflito continua a se intensificar. [Arquivo: AFP]/ Al Jazeera

El-Fasher, capital do norte de Darfur, voltou a sofrer um violento ataque de artilharia das Forças de Apoio Rápido (RSF) na noite de domingo para segunda-feira. Segundo comunicado das Forças Armadas Sudanesas (SAF), sete civis, entre mulheres e crianças, foram mortos e ao menos 15 ficaram feridos, após bombas atingirem bairros residenciais. No dia anterior, outros nove moradores já haviam perdido a vida em bombardeios semelhantes.

Contexto e dinâmica do conflito

O embate entre SAF e RSF teve início em abril de 2023, quando o paramilitar, antes incorporado ao exército, se voltou contra o governo. Em maio de 2024, a RSF direcionou seu foco para El-Fasher, cidade estratégica a mais de 800 km de Cartum, principal ponto de apoio humanitário para cinco províncias de Darfur.

  • Mortes totais no conflito nacional: mais de 20 mil pessoas, de acordo com dados oficiais da ONU.
  • Deslocados internos: cerca de 15 milhões de sudaneses foram forçados a deixar suas casas.
  • Estimativa de pesquisadores independentes: até 130 mil mortos, sugerindo subnotificação das vítimas.

A ofensiva da RSF visa tomar o controle dos campos de deslocados que circundam El-Fasher, agravando uma crise de insalubridade, fome e falta de acesso a serviços básicos.

Impacto humanitário e falta de resposta internacional

Hospitais locais operam no limite da capacidade: pacientes aguardam atendimento em corredores e faltam medicamentos essenciais. Agências de ajuda relatam que a insegurança constante impede o envio de suprimentos e a evacuação de feridos.

“Não há abrigo seguro — as famílias vivem em valas improvisadas atrás de suas casas para se proteger dos bombardeios”, diz coordenador de ONG presente na região.

A comunidade internacional tem se mostrado reticente: apesar de apelos do secretário-geral da ONU, António Guterres, para interromper o fluxo de armas para o Sudão, não houve medida efetiva para conter o envio de armamentos aos dois lados do combate.

Rejeição de interferência pela União Africana

Em paralelo, a União Africana (UA) declarou não aceitar “qualquer interferência” nos assuntos internos do Sudão, após o governo sudanês acusar os Emirados Árabes Unidos (EAU) de fornecer armas à RSF. O EAU nega as acusações, tidas como “infundadas”.

O presidente da UA, Mahamoud Ali Youssouf, afirmou:

“Cada Estado-membro é soberano; a Comissão jamais apoiará intervenção externa no Sudão. Compete a Cartum apresentar evidências das acusações.”

Uso de drones e nova dinâmica de combate

Recentemente, os confrontos passaram a incorporar ataques com drones, sobretudo em Port Sudan — porto vital para suprimentos humanitários no Mar Vermelho. A intensificação dessas operações aéreas marca uma nova fase no conflito, ampliando o alcance dos combates além de Darfur.

Conclusão

A ofensiva renovada em El-Fasher evidencia o impasse que arrasta o Sudão a uma crise prolongada. A população civil — refém de disputas de poder e interesses internacionais — paga o preço mais alto, em um cenário de impunidade e escassa vontade política externa.

Sem iniciativas concretas para interromper o abastecimento de armas e proteger os civis, o ciclo de violência, deslocamento e sofrimento deverá se agravar nos próximos meses.

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