Bolívia entra em segundo turno histórico após derrota do MAS em eleição de 2025

Eduardo del Castillo falando ao microfone durante evento político na Bolívia
Eduardo del Castillo, candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), não avançou para o segundo turno das eleições presidenciais da Bolívia em 2025.

A Bolívia vive um momento político histórico após as eleições presidenciais realizadas no último domingo, 17 de agosto. Pela primeira vez em mais de duas décadas, o Movimento ao Socialismo (MAS), partido que dominou a política boliviana desde a ascensão de Evo Morales, não avançará para o segundo turno. Com 91% das urnas apuradas, a disputa final será entre Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), e Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente e líder da aliança de direita Libre, marcando uma guinada histórica no cenário político do país.

Contexto histórico do MAS

O Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Evo Morales, esteve à frente da Bolívia por quase duas décadas, entre 2006 e 2025, consolidando um modelo econômico baseado em forte intervenção estatal, nacionalização de setores estratégicos como gás e mineração, e programas sociais voltados para redução da pobreza. Durante esse período, o MAS construiu uma base eleitoral sólida entre setores indígenas e urbanos, tornando-se o partido hegemônico da política boliviana. A ausência de Morales e de Arce nesta eleição abre espaço para uma mudança inédita na trajetória política do país.

Resultados preliminares e derrota histórica do MAS

Segundo os resultados divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral, Rodrigo Paz lidera com 32,8% dos votos, seguido por Jorge Quiroga com 26,4%. O MAS, que governou a Bolívia por quase 20 anos, sofreu um revés dramático: Eduardo del Castillo, candidato oficial do partido, obteve apenas 3,16% dos votos, enquanto Andrónico Rodríguez, outro nome da esquerda, ficou em quarto lugar com cerca de 8%. A ausência do presidente Luis Arce e a impossibilidade legal de Evo Morales concorrer criaram um vácuo que abriu caminho para a oposição. Morales chegou a pedir voto nulo, gesto que contribuiu para reduzir a participação efetiva da base tradicional do MAS e consolidou a derrota histórica da legenda.

Contexto econômico e social

As eleições ocorreram em meio à pior crise econômica dos últimos 20 anos na Bolívia. Com inflação entre 24% e 25%, reservas cambiais pressionadas e desabastecimento crônico de combustíveis, a população vive um clima de incerteza. Relatórios recentes do FMI apontam vulnerabilidades fiscais e cambiais que exigem reformas urgentes, e a economia emergiu como tema central da campanha eleitoral.

O país também enfrenta desafios estratégicos em setores-chave, como o lítio. A Bolívia possui uma das maiores reservas globais desse mineral, essencial para baterias elétricas e a transição energética. O próximo presidente terá de decidir entre manter o controle estatal rígido ou abrir espaço para parcerias privadas e estrangeiras, decisão que poderá redefinir o posicionamento econômico internacional do país.

O segundo turno e o papel da juventude

O segundo turno será realizado em 19 de outubro de 2025, e todos os olhos estarão voltados para a capacidade de mobilização de eleitores em um cenário polarizado. Mais da metade do eleitorado tem até 35 anos, grupo decisivo que foi alvo de estratégias digitais, transmissões ao vivo e eventos que mesclam política e cultura. Apesar do engajamento online, especialistas alertam para o risco de abstenção, especialmente entre jovens desiludidos com os partidos tradicionais.

Rodrigo Paz apresenta um discurso moderado, focado em reformas econômicas graduais e estabilidade institucional. Já Jorge Quiroga aposta em uma agenda mais conservadora e liberal, defendendo abertura de mercados e acordos de livre comércio. A campanha do segundo turno promete ser acirrada, com debates intensos sobre economia, investimento estrangeiro e políticas sociais.

Implicações políticas

Analistas internacionais observam que esta eleição marca uma transição histórica. O MAS, partido hegemônico por quase duas décadas, viu sua base reduzir-se dramaticamente, e a política boliviana entra agora em um período de maior pluralidade. A transparência do processo será acompanhada por observadores internacionais, em meio ao risco de protestos caso o resultado seja apertado.

Para investidores e parceiros comerciais, o segundo turno será decisivo para entender a direção das reformas econômicas e políticas de abertura de mercado. A eleição de outubro não apenas definirá o presidente, mas também o rumo da economia boliviana e a posição estratégica do país na geopolítica do lítio.

Conclusão

As eleições de 2025 representam um divisor de águas para a Bolívia. Entre a crise econômica mais profunda em duas décadas, o potencial estratégico do lítio e a força da juventude nas urnas, o país enfrenta um momento de redefinição política. O segundo turno de outubro será mais do que uma escolha presidencial: será um teste sobre a capacidade da Bolívia de equilibrar estabilidade, desenvolvimento econômico e inclusão social em uma década decisiva para sua trajetória.

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