Intensificação do bombardeio em Gaza durante visita de Trump ao Golfo

Palestino inspeciona o local de um ataque israelense a uma casa em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, 14 de maio de 2025.
Palestino inspeciona os destroços de uma casa atingida por um ataque aéreo israelense na área de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 14 de maio de 2025. REUTERS/Mahmoud

Nesta quarta-feira, 14 de maio de 2025, a faixa de Gaza sofreu uma intensificação sem precedentes dos ataques aéreos israelenses, resultando na morte de pelo menos 70 palestinos, incluindo 22 crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza e hospitais locais. Os bombardeios atingiram principalmente residências no campo de refugiados de Jabalia, ao norte do território, e em Khan Younis, ao sul. Médicos relataram que “algumas vítimas ainda estão sob os escombros, em locais onde as equipes de resgate não podem chegar”, evidenciando o colapso da resposta de emergência diante da escala da destruição.

Alvo em Jabalia e alegações sobre Mohammad Sinwar

Fontes militares israelenses afirmaram que um ataque na terça‑feira tentou eliminar o líder militar do Hamas, Mohammad Sinwar, em um bunker subterrâneo sob o Hospital Europeu de Khan Younis. Embora não haja confirmação nem de Israel nem do Hamas sobre sua morte, testemunhas descreveram que um bulldozer que chegava ao local foi atingido, gerando múltiplos feridos. Especialistas em direito internacional humanitário, como a Anistia Internacional, alertam para o risco de violação das convenções de Genebra quando instalações médicas são usadas como alvos militares.

Impacto humanitário e reação internacional

Organizações como a Save the Children e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) descrevem um cenário de colapso dos serviços essenciais: falta de água potável, de eletricidade e de insumos médicos básicos. “Estamos operando em condições pré‑históricas, com deficit de anestésicos, antibióticos e curativos”, afirmou um coordenador da Médicos sem Fronteiras em Gaza. A ONU e agências como o World Food Programme alertam para risco iminente de fome em larga escala, enquanto o bloqueio total de suprimentos, vigente desde 2 de março, é classificado por líderes mundiais como possível crime de confinamento forçado.

Em Paris, o presidente Emmanuel Macron condenou o bloqueio de ajuda humanitária por Israel, chamando‑o de “vergonha” e exigindo a reabertura imediata das fronteiras para corredores de socorro. Rússia, China e Reino Unido também rejeitaram a proposta norte‑americana de uso de contratados privados para distribuição de auxílio, instando Israel a levantar o bloqueio e restaurar o fluxo de vida à população sitiada. O coordenador de ajuda da ONU, Tom Fletcher, chegou a alertar para um “risco de genocídio” se a população de Gaza continuar sem acesso a alimentos e remédios.

Dimensão política: visita de Trump ao Golfo

A escalada dos ataques coincide com a visita de Estado do presidente dos EUA, Donald Trump, à Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Embora não haja agenda oficial em Israel, observa‑se que governos árabes tentarão usar o encontro para pressionar por um cessar‑fogo. Em Riyadh, Trump reiterou que “mais reféns serão libertados” após a liberação de Edan Alexander — último estadunidense em cativeiro — pelo Hamas, e defendeu um “futuro melhor” para Gaza.

Esforços de negociação e cenários futuros

Até agora, as negociações intermediadas por Egito e Catar resultaram apenas na libertação de Alexander. Enviados especiais dos EUA encontraram‑se com famílias de reféns em Tel Aviv, mas sem avanços concretos sobre uma trégua ampla. A proposta americana de reabrir o fluxo de ajuda por meio de operadores privados foi endossada por Israel, mas enfrenta oposição de entidades multilaterais, que questionam a transparência de financiamento e fiscalização.

Analistas de segurança internacional advertem que, sem reforço diplomático real, o conflito tende a se prolongar. Possíveis desdobramentos incluiriam:

  • Operação terrestre ampliada, caso Israel decida destruir de vez as estruturas militares do Hamas.
  • Retirada parcial de forças, condicionada a garantias internacionais de não reatamento imediato.
  • Conferência de paz regional, envolvendo EUA, UE, Ligue Árabe e ONU, para discutir um cessar‑fogo duradouro e reconstrução.

Conclusão

A intensificação dos ataques em Gaza expõe o impasse entre a segurança israelense e as necessidades humanitárias de uma população sitiada. Enquanto Donald Trump busca solidificar alianças no Golfo, a crise humanitária avança em ritmo acelerado, testando os limites da diplomacia internacional. A questão central permanece: equacionar a exigência de Israel por segurança com a urgência de um cessar‑fogo que salve vidas e abra caminho à reconstrução de Gaza.

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