Bombardeiros H-6 em Ilhas Paracel: análise do pouso estratégico

Bombardeiros chineses H-6 estacionados na pista do aeródromo da Ilha Woody, no arquipélago Paracel, Mar do Sul da China.
Bombardeiros H-6 da China posicionados na pista da Ilha Woody, no disputado arquipélago Paracel, Mar do Sul da China, em imagem de satélite de 19 de maio de 2025. Foto: Maxar Technologies/Reuters.

Imagens de satélite obtidas recentemente revelam o pouso de dois bombardeiros H-6 da Força Aérea do Exército de Libertação Popular (PLA) na Ilha Woody, parte das disputadas Ilhas Paracel, no Mar do Sul da China. A manobra, ininterrupta desde 2020, é interpretada como um sinal claro de capacidade de projeção de poder de Pequim, em um contexto de tensões com Filipinas, Estados Unidos e proximidade dos exercícios regionais mais significativos.

Contexto geopolítico e legal

A China reivindica soberania sobre quase toda a extensão do Mar do Sul da China, confrontando recursos pesqueiros e rotas comerciais com Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan e Vietnã. Em 2016, o Tribunal Arbitral de Haia concluiu que essas reivindicações não têm base no direito internacional (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar), decisão rejeitada por Pequim. Enquanto isso, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) segue dividida, sem consenso sobre medidas de contenção das práticas chinesas.

Detalhes da operação em Woody Island

  • Data: Imagens de 19 de maio de 2025, analistas apontam presença entre 17 e 23 de maio.
  • Ativos identificados:
    • 2 × bombardeiros H-6 (versão K, modernizados)
    • 2 × aeronaves de transporte Y-20
    • 1 × alerta aéreo antecipado KJ-500

Segundo Collin Koh, especialista da S. Rajaratnam School of International Studies, “é um ato de sinalização omni-direcional, direcionado a Manila, Washington e outras capitais na região”.

Dados Operacionais e Técnicos

Estatísticas de missões H-6 no teatro Sul-Mar da China (2015–2025)
Pelo menos cinco missões estratégicas:

  1. Scarborough Shoal (março de 2025) – sobrevoo antes da visita do secretário de Defesa dos EUA às Filipinas.
  2. Exercícios de cerco a Taiwan (outubro de 2024).
  3. Incursão próxima ao território continental dos EUA (julho de 2024).
  4. Pouso em Woody Island (setembro de 2020).
  5. Pouso recente em Woody Island (maio de 2025).
    Média aparente: uma missão relevante a cada dois anos.

Alcance Operacional e Tipos de Carga

VarianteRaio de CombateCarga MáximaArmamento Principal
H-6K~3.500 km~9.000 kgAté 6 × mísseis de cruzeiro CJ-10A (convencional)
H-6A~2.500 km (estim.)~6.000 kg (estim.)Bombas free-fall (capacidade nuclear histórica)
H-6D/J~3.000 km (estim.)~8.000 kg (estim.)Mísseis antinavio C-601 “Silkworm”
H-6M~3.200 km (estim.)4 pilones externosMísseis de cruzeiro DH-10/CJ-10
H-6NEstendido via reabastecimento aéreo~10.000 kg (estim.)Mísseis balísticos aéreo-lançados (nuclear/convencional)

Implicações para a segurança regional

  1. Filipinas: Novas tensões em discussões sobre zonas econômicas e segurança pesqueira.
  2. Estados Unidos: Reforço do “compromisso inabalável” com Manila, anunciado em março de 2025 pelo secretário Pete Hegseth.
  3. Taiwan: Continuam os voos e exercícios de cerco, elevando o nível de alerta da defesa taiwanesa.

Além disso, o Shangri-La Dialogue (30 de maio a 1º de junho de 2025) em Cingapura e a esperada chegada do porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth ao Mar do Sul da China em junho reforçam o caráter multidimensional dessa disputa.

Conclusão

O pouso dos H-6 em Woody Island reafirma a ambição de Pequim de exibir alcance estratégico, ao mesmo tempo que testa as respostas diplomáticas e militares de aliados regionais e globais. À medida que se aproximam encontros de alto nível e exercícios conjuntos, essa movimentação chinesa poderá redefinir posturas e alianças no Indo-Pacífico.

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