Brasil e China avançam em corredor ferroviário bioceânico para integrar América do Sul e dinamizar exportações à Ásia

Bandeiras do Brasil e da China unidas por um trilho ferroviário
Bandeiras do Brasil e da China unidas por um trilho ferroviário, simbolizando a construção do corredor ferroviário bioceânico que visa integrar a América do Sul e fortalecer o comércio entre Brasil e Ásia.

Em 7 de julho de 2025, Brasil e China assinaram um memorando de entendimento para estudos conjuntos de viabilidade técnica, econômica e ambiental de um corredor ferroviário bioceânico que conectará o litoral baiano ao Oceano Pacífico, via Peru. A iniciativa, apoiada por Infra S.A. — estatal brasileira vinculada ao Ministério dos Transportes — e pelo China State Railway Group, visa reduzir em até 12 dias o tempo de transporte de cargas ao mercado asiático, além de oferecer alternativa estratégica ao Canal do Panamá e fortalecer parcerias Sul–Sul.

Contexto e objetivos

Com exportações brasileiras para a Ásia estimadas em US$ 350 bilhões anuais, sobretudo minério de ferro e soja, o desafio logístico atual passa pela longa distância marítima — em torno de 20.000 km e cerca de 40 dias de viagem, com custos elevados. O corredor ferroviário bioceânico promete criar uma rota intermodal de aproximadamente 6.500 km que encurte distâncias, reduza prazos e aumente a competitividade brasileira no mercado asiático.

Principais termos do acordo

O acordo, firmado entre Infra S.A., Ministério dos Transportes do Brasil e China State Railway Group, prevê estudos de viabilidade e, posteriormente, a construção de um corredor ligando o Porto Sul, em Ilhéus (BA), ao Porto de Chancay, no Peru.

Características técnicas

O projeto envolve a integração das ferrovias Fiol e Fico, com extensão total aproximada de 6.500 km, passando por sete estados brasileiros, antes da travessia da Cordilheira dos Andes. Além do modal ferroviário, o corredor contará com trechos rodoviários, hidroviários e portuários, promovendo uma infraestrutura intermodal robusta.

Impactos esperados

Além da redução de até 12 dias no tempo de transporte e uma economia de cerca de 10.000 km na distância, o projeto deverá diminuir os custos logísticos, melhorar a frescura dos produtos agrícolas exportados e impulsionar o desenvolvimento econômico regional.

Desafios e riscos

Especialistas alertam para os riscos socioambientais, especialmente na Amazônia, e para a complexidade da engenharia nos Andes. O licenciamento ambiental, a consulta às comunidades indígenas e a viabilidade financeira são desafios que exigirão coordenação entre governos, setor privado e sociedade civil.

Implicações geopolíticas

Este corredor se alinha à iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda, ampliando a influência da China na América Latina e colocando o Brasil em posição estratégica como hub logístico intercontinental.

Vozes do projeto

Simone Tebet

Ministra do Planejamento e Orçamento
“Estamos levando desenvolvimento a uma região atualmente considerada a mais rica devido à qualidade de seu solo e agronegócio, mas que carece de infraestrutura.”

“O plano é, de fato, rasgar o Brasil de leste a oeste.”

Leonardo Ribeiro

Secretário Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes
“Celebramos hoje a assinatura deste memorando de entendimento, um marco na cooperação entre o Brasil e a China na área ferroviária.”

Marcus Cavalcanti

Secretário Especial do Programa de Parcerias de Investimentos da Casa Civil
“Essa ligação bioceânica é um grande sonho do Brasil. Essa ferrovia chegando ao Pacífico vai reduzir o tempo em cerca de 10 dias para os navios que se dirigem da costa brasileira à Ásia para entregar os produtos brasileiros.”

Wang Jie

Diretor-geral da China State Railway Group
“Esta parceria é um fruto da sabedoria e da confiança mútua, e vai contribuir no dinamismo e desenvolvimento dos transportes em nossos países. Que a amizade entre o Brasil e a China perdure por longo tempo e continue a frutificar.”

Cronograma e próximos passos

  • Até dezembro de 2025: conclusão dos estudos de viabilidade técnica, financeira e ambiental.
  • 1º semestre de 2026: elaboração dos projetos executivos e preparação para leilões.
  • 2º semestre de 2026: leilões de concessão dos trechos prioritários.
  • 2027 em diante: início das obras, com operação parcial prevista para a década de 2030.

Conclusão

O acordo entre Brasil e China para a criação do corredor ferroviário bioceânico representa uma oportunidade única de modernizar a infraestrutura logística sul-americana, fortalecendo o papel do Brasil como um hub estratégico no comércio global. Além de reduzir significativamente o tempo e o custo das exportações para o mercado asiático, o projeto tem potencial para promover o desenvolvimento regional, ampliar a integração entre países e impulsionar parcerias econômicas multilaterais.

Entretanto, seu sucesso dependerá de uma execução cuidadosa, que respeite as questões socioambientais e garanta a inclusão das comunidades locais, além de uma governança eficiente entre os países envolvidos. Se bem-sucedido, o corredor bioceânico poderá se tornar um marco da cooperação internacional, transformando as cadeias produtivas e reforçando a presença do Brasil no cenário geopolítico global.

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