Brasil entre potências: o dilema das aquisições militares e a dependência tecnológica

Helicóptero militar Black Hawk pousado em campo aberto ao lado de soldados brasileiros uniformizados manuseando um sistema antitanque Javelin durante treinamento em ambiente natural.
Helicóptero militar Black Hawk pousado em campo aberto ao lado de soldados uniformizados manuseando um sistema antitanque Javelin durante treinamento em ambiente natural.

Nos últimos meses, o Brasil enfrenta desafios estratégicos que combinam pressões geopolíticas, riscos às aquisições militares e vulnerabilidades decorrentes da dependência tecnológica. A recente imposição de tarifas punitivas pelos Estados Unidos, somada ao aprofundamento da aproximação do país com potências como China e Rússia, coloca em xeque a continuidade de programas de defesa e a autonomia estratégica nacional.

Tarifas, diplomacia e impacto nas aquisições

Em agosto de 2025, os EUA adotaram tarifas de até 50% sobre uma série de exportações brasileiras, justificadas por questões políticas internas brasileiras. Essa medida provocou o cancelamento de reuniões diplomáticas e tensionou ainda mais as relações bilaterais. Diante desse cenário, o governo brasileiro tem buscado alternativas comerciais e estreitamento de laços com o bloco do BRICS, especialmente China e Rússia.

O ambiente político-comercial conturbado afeta diretamente acordos de aquisição e suporte de equipamentos militares, cuja operação depende de cadeias de suprimento globais e confiança diplomática.

Black Hawk e Javelin: aquisições vulneráveis

Dois exemplos ilustram os riscos: os helicópteros Black Hawk (UH-60M) e os sistemas antitanque Javelin (FGM-148). O contrato para 24 helicópteros Black Hawk, com valor aproximado de US$ 500 milhões, prevê entregas até 2026, incluindo suporte técnico americano essencial para manutenção e fornecimento de peças. Já os Javelin, com investimento estimado em US$ 150 milhões, têm entregas previstas até 2027 e dependem integralmente do fornecimento e assistência norte-americana.

As tarifas impostas pelos EUA elevam em cerca de 20% os custos totais dessas aquisições, prejudicando orçamentos e cronogramas de entrega. A fragilidade do ciclo de vida desses equipamentos fica exposta diante da instabilidade diplomática.

PROSUB e a dependência tecnológica

O Programa de Submarinos (PROSUB) é outro exemplo crítico. Resultado de uma parceria com a França, o projeto envolve a construção de quatro submarinos convencionais da classe Scorpène e o desenvolvimento do submarino nuclear Álvaro Alberto, com investimento total próximo de US$ 5 bilhões.

O cronograma prevê a entrega do primeiro submarino nuclear até 2035, mas a complexidade tecnológica e a dependência da transferência de conhecimento francês tornam o programa suscetível a atrasos e restrições em componentes e sistemas sensíveis. Essa vulnerabilidade é agravada pela tensão crescente nas relações internacionais do Brasil com países ocidentais.

ProjetoQuantidadeInvestimento (US$ bilhões)Entrega prevista
Submarinos convencionais Scorpène42,52024–2030
Submarino nuclear Álvaro Alberto12,52035 (estimado)

Convergência de riscos

A vulnerabilidade nas aquisições militares e a dependência tecnológica no desenvolvimento de programas estratégicos evidenciam um desafio sistêmico. Interrupções no fornecimento de peças e assistência técnica nos equipamentos adquiridos afetam diretamente a operacionalidade das forças armadas, ao mesmo tempo em que restrições tecnológicas podem atrasar projetos de defesa fundamentais para a segurança marítima e a soberania nacional.

Esse contexto impõe ao Brasil a necessidade de equilibrar sua autonomia estratégica com as realidades geopolíticas atuais, em que a diversificação de parcerias e a ampliação da capacidade interna de desenvolvimento tecnológico são imperativos para garantir a continuidade dos programas militares.

Conclusão

O Brasil vive um momento decisivo em sua trajetória de defesa nacional. As tensões com os Estados Unidos, combinadas à aproximação com potências como China e Rússia, criam um ambiente de incertezas que impactam diretamente aquisições militares essenciais e projetos estratégicos de alta complexidade tecnológica. Superar a dependência externa e garantir a continuidade dos programas militares exigirá um esforço coordenado entre governo, indústria e academia para fortalecer a autonomia tecnológica e diversificar parcerias internacionais. O futuro da segurança e soberania do país dependerá das escolhas feitas agora para enfrentar esses desafios multifacetados.

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