
6 de maio de 2025, o primeiro-ministro canadense Mark Carney visitou a Casa Branca para sua primeira reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump. Entre gestos de cortesia, Carney transmitiu uma mensagem inequívoca: o Canadá não está — e nunca estará — à venda. O encontro, ocorrido num dos momentos mais tensos das relações bilaterais em décadas, teve foco nas tarifas, no futuro do USMCA e na defesa da soberania canadense.
Tarifas e retaliações: o ponto de ruptura
Desde março de 2025, Trump impôs 25% de tarifa sobre aço, alumínio, veículos e autopeças canadenses, e chegou a ameaçar 100% de tarifa sobre filmes estrangeiros, mirando diretamente a indústria cinematográfica do Canadá. Em retaliação, Ottawa aprovou tarifas iguais sobre produtos americanos. Em março, as exportações canadenses para os EUA caíram 6,6%, enquanto aumentaram 24,8% para outros mercados, reduzindo o superávit dos EUA a apenas CA$ 506 milhões.
Discurso no Salão Oval
Na abertura, Trump descartou discutir anexação: “Never say never”(Nunca diga nunca), afirmou, sugerindo, porém, que seria um “casamento maravilhoso”. Carney respondeu de imediato:
“Não está à venda, não estará à venda — nunca.”
Na sequência, Trump ponderou que, independentemente de divergências, “seremos amigos do Canadá” e que os EUA sempre protegeriam seu vizinho norte. Ainda assim, deixou claro que não pretendia aliviar as tarifas sem garantias de reciprocidade.
Efeitos na opinião pública
Pesquisas recentes mostram que a retórica de Trump fomentou um forte nacionalismo no Canadá: apenas 10–22% dos canadenses considerariam se tornar o 51º estado americano, enquanto até 90% rejeitam a ideia. Um levantamento do Politico/Focaldata indica que 75% dos canadenses desaprovam Trump, e quase metade enxerga os EUA como potência hostil. Esse clima contribuiu para a vitória liberal em abril, enfraquecendo o partido conservador.
O futuro do USMCA e da relação bilateral
O Acordo EUA-México-Canadá (USMCA) será revisado em 2026. Carney sugeriu ajustes pontuais, sem propor uma revisão radical, enquanto Trump o classificou como “bom para todos”. Nos bastidores, o governo canadense estuda:
- Diversificação de exportações: ampliar acesso à UE e à Ásia, reduzindo a dependência de 75% de vendas atuais para os EUA.
- Fortalecimento da defesa: investir na segurança no Ártico e em parcerias multilaterais.
- Ações diplomáticas: mobilizar aliados no G7 e na OTAN para pressionar por remoção de tarifas.
Análise de especialistas
Greg MacEachern, da KAN Strategies, elogiou Carney pela postura firme e diplomática, que evitou escalada de crise sem ceder nos princípios. Já o Cato Institute alerta que o protecionismo de Trump pode afastar o Canadá de décadas de integração econômica, empurrando-o para parcerias estratégicas com UE e Ásia.
Conclusão
O primeiro encontro Carney‑Trump consolidou um equilíbrio delicado entre cortesia diplomática e defesa intransigente da soberania canadense. Embora sem avanços imediatos na remoção de tarifas, Carney estabeleceu o tom de sua gestão: negociar sem abdicar dos interesses nacionais. Resta saber se, até a revisão do USMCA em 2026, Washington optará por reduzir barreiras ou se o impasse fomentará um redesenho mais profundo da interdependência norte-americana.
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