Canadá Rebate Convite do Reino Unido a Trump para Visita de Estado

Mark Carney, Primeiro‑Ministro do Canadá, faz um discurso durante sua campanha eleitoral em Trois-Rivières, Quebec, em 22 de abril de 2025.
Mark Carney, em visita à Marmen Inc., em Trois-Rivières, Quebec, em 22 de abril de 2025, durante sua campanha eleitoral pelo Partido Liberal. REUTERS/Carlos Osorio/File Photo

O primeiro‑ministro canadense Mark Carney criticou duramente o convite feito pelo Reino Unido para que o presidente dos EUA Donald Trump realize uma segunda visita de Estado a Londres, argumentando que o gesto “minou” os esforços de seu governo em apresentar uma frente unida contra declarações de Trump sobre a possível anexação do Canadá como 51º estado americano.

Contexto Diplomático

Desde janeiro de 2025, Trump tem repetidamente sugerido que o Canadá deveria se tornar o 51º estado dos EUA, o que gerou forte indignação popular no país. Para Carney — eleito em grande parte com a plataforma de defender a soberania canadense — o envio de uma carta real de King Charles por intermédio do premiê britânico Keir Starmer, durante visita à Casa Branca em fevereiro, ocorreu em momento muito inoportuno e feriu o princípio de não ingerência nas questões internas de Ottawa.

Papel do Monarca e Simbolismo

King Charles, que também ocupa formalmente o título de chefe de Estado do Canadá, tem adotado gestos simbólicos de apoio: usou medalhas canadenses em cerimônias oficiais, plantou uma árvore de bordo no Parlamento de Ottawa e referiu‑se a si mesmo como “rei do Canadá”. Sua presença na abertura do Parlamento canadense, marcada para 27 de maio de 2025, é vista por Carney como um reafirmar da independência nacional em face das provocações externas.

Reforço na Relação Bilateral

Em 6 de maio, durante encontro no Salão Oval, Trump afirmou que “só quer ser amigo” do Canadá, enquanto Carney respondeu que há “lugares que não estão à venda” — sentença que repercutiu como um choque diplomático e reafirmou a negativa canadense a qualquer proposta de anexação. Além disso, Trump e Starmer assinaram um acordo comercial limitado neste mês, parte da estratégia britânica de consolidar o “Global Britain” pós‑Brexit, enquanto Carney advertia que tal aproximação não pode sacrificar a soberania canadense.

Análise de Especialistas

  • Dr. Ana Pereira, professora de Relações Internacionais da Universidade de Toronto, salienta que “o episódio expõe o dilema histórico do Canadá: equilibrar laços coloniais e suas próprias necessidades estratégicas e comerciais”.
  • James Richardson, analista do Canadian Global Affairs Institute, enfatiza que “o uso do simbolismo monárquico, embora cerimonial, ganha força em períodos de crise de soberania, mas não substitui políticas de defesa efetivas”.

Implicações e Próximos Passos

A polêmica tende a reforçar o comprometimento do Canadá com alianças multilaterais (G7, NATO) e acelerar a diversificação de parceiros comerciais, como o Acordo Transpacífico (CPTPP) e o CETA com a UE. Por outro lado, o Reino Unido terá de conciliar sua estratégia de ainda atrair investimentos americanos com o risco diplomático de desgastar relações com Ottawa.

Conclusão

A reação firme de Mark Carney ao convite britânico para uma segunda visita de Estado de Donald Trump destaca não apenas a crescente tensão diplomática entre Canadá, Reino Unido e Estados Unidos, mas também uma disputa mais ampla sobre soberania, influência internacional e legitimidade política. Ao reforçar os laços simbólicos com a monarquia e afirmar sua independência perante as provocações americanas, o governo canadense sinaliza que não está disposto a permitir que a retórica populista comprometa sua integridade territorial ou institucional.

Para o Reino Unido, o episódio evidencia os desafios de sua política externa pós‑Brexit: ao buscar estreitar relações com Washington, corre o risco de alienar aliados históricos, como Ottawa. Já para Trump, as provocações à soberania canadense parecem fazer parte de uma estratégia para galvanizar sua base eleitoral, embora isso aprofunde o isolamento político dos EUA em certos círculos diplomáticos ocidentais.

Em um cenário internacional cada vez mais marcado por nacionalismos assertivos, alianças pragmáticas e gestos simbólicos ganham novo peso. O desenrolar dos próximos meses — especialmente com a presença do rei Charles no Canadá — dirá até que ponto os laços históricos entre as nações da Commonwealth serão reforçados ou postos à prova.

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