Canadá: Liberal Party e a Transição de Liderança no Meio da Guerra Comercial com os EUA

Candidatos à liderança do Partido Liberal do Canadá, Montreal, 25 de fevereiro de 2025. REUTERS/Evan Buhler.
Candidatos à liderança do Partido Liberal do Canadá durante evento em Montreal, em 25 de fevereiro de 2025.REUTERS/Evan Buhler.

O Partido Liberal do Canadá está prestes a anunciar o sucessor do Primeiro-ministro Justin Trudeau, no domingo, em meio a uma crise com os Estados Unidos que ameaça afetar gravemente a economia canadense. A transição de liderança ocorre enquanto o Canadá enfrenta uma guerra comercial com os EUA, que inclui ameaças de tarifas adicionais e uma possível disputa eleitoral com os Conservadores.

A Crise com os EUA e o Impacto Econômico

O novo líder do Partido Liberal precisará negociar com o presidente dos EUA, Donald Trump, que já advertiu sobre a imposição de mais tarifas sobre o comércio canadense. Além disso, o próximo primeiro-ministro terá que lidar com a oposição dos Conservadores, que já estão se preparando para uma eleição geral. A situação econômica do Canadá, deteriorada pela guerra comercial com os EUA, e o declínio na popularidade de Trudeau, forçaram uma rápida corrida interna para eleger um novo líder para o partido.

Candidatos ao Cargo de Líder Liberal

Mark Carney, ex-banqueiro central e o principal favorito para o cargo de líder, é amplamente considerado o candidato mais preparado para lidar com Trump, dado seu histórico como ex-governador de dois bancos centrais (o Banco do Canadá e o Banco da Inglaterra). Durante sua campanha, Carney se comprometeu a adotar tarifas retaliatórias em igual proporção às dos EUA e a desenvolver uma estratégia coordenada para aumentar os investimentos no país.

Carney, que obteve o maior número de endossos dentro do partido, também arrecadou mais fundos do que outros candidatos. Se vencer, ele será o primeiro premiê canadense sem experiência política direta, algo inédito no país. Em uma demonstração de apoio, membros do Partido Liberal já distribuem cartazes de Carney em eventos.

Por outro lado, Chrystia Freeland, ex-deputada e ex-ministra de Comércio Internacional, também é uma figura forte na corrida. Freeland tem se destacado por sua experiência negociando com Trump, mas enfrentou dificuldades para se distinguir de Trudeau, especialmente após ser uma das suas principais aliadas durante anos.

Reação Popular e Dados Estatísticos

A crise com os EUA e a transição de liderança geraram uma resposta significativa da população. Em uma pesquisa recente, Carney aparece com uma vantagem considerável, recebendo o apoio de 45% dos membros do partido, enquanto Freeland alcança 30%. Este número reflete o crescente descontentamento popular com a gestão de Trudeau e as perspectivas de uma crise econômica mais profunda.

De acordo com as últimas pesquisas, a popularidade do Partido Liberal caiu drasticamente nos últimos meses, especialmente após o agravamento da guerra comercial com os Estados Unidos. Dados do Globe and Mail indicam que o Partido Liberal estava 20 pontos atrás dos Conservadores no início de 2025, mas agora está praticamente empatado nas pesquisas, refletindo a crescente insatisfação com a situação econômica do país.

Aspectos Regionais e o Papel das Províncias

Além das divisões internas dentro do Partido Liberal, é importante observar como diferentes províncias reagem à crise e à liderança de Carney. Ontário e Quebec, as províncias mais populosas e economicamente importantes do país, têm mostrado sinais de polarização política. Em Ontário, os eleitores têm demonstrado um apoio mais moderado a Carney, enquanto em Quebec, a questão das tarifas comerciais e a relação com os EUA estão gerando debates acalorados. Nas províncias do Oeste, onde a economia está mais diretamente afetada pela guerra comercial, os eleitores estão mais inclinados a apoiar candidatos que prometem uma postura mais agressiva em relação às tarifas.

A análise dessas divisões regionais revela uma complexa paisagem política, com os cidadãos do Oeste canadense exigindo uma posição firme contra as tarifas, enquanto os eleitores de Ontário e Quebec priorizam negociações mais diplomáticas.

Futuro Político Pós-Carney

Independente de quem for o próximo líder do Partido Liberal, a transição não será fácil. O novo premiê precisará lidar com uma oposição forte e com a necessidade de reagir rapidamente à crise. Uma possível aliança entre os Liberais e os NDP (Novo Partido Democrático) pode ser uma estratégia a ser considerada, especialmente se Carney decidir buscar um governo de coalizão para enfrentar os desafios econômicos e políticos. No entanto, as negociações internas e o alinhamento das políticas entre os dois partidos serão complexos.

Além disso, as relações com os Conservadores, especialmente com o líder Pierre Poilievre, que tem se posicionado contra os Liberais, precisam ser gerenciadas cuidadosamente. Poilievre já afirmou que os Liberais tentam “enganar o povo” ao substituir Trudeau por um conselheiro econômico de sua confiança, Mark Carney, e critica abertamente as políticas do partido.

Próximos Passos

As eleições devem acontecer até 20 de outubro, com um possível adiamento para abril ou maio, caso o novo líder decida convocar o pleito antes da reconvocação do Parlamento. Carney pode, teoricamente, assumir como premiê sem ter um assento na Câmara dos Comuns, mas, por tradição, será pressionado a buscar um.

Com as eleições se aproximando, o futuro do Partido Liberal e do Canadá como um todo está em jogo, e a reação popular e o apoio nas províncias desempenharão um papel crucial na definição do próximo capítulo da política canadense.

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