Carney como líder global: multilateralismo versus protecionismo de Trump

Mark Carney, primeiro-ministro do Canadá, fala após os resultados das eleições, destacando sua visão de liderança global.
Mark Carney, recém-eleito primeiro-ministro do Canadá, se dirige à nação após sua vitória, prometendo um novo caminho de multilateralismo e cooperação internacional. REUTERS/Blair Gable

Na esteira da vitória apertada dos Liberais de Mark Carney nas eleições canadenses de 28 de abril de 2025, o primeiro-ministro emérito reposiciona o país como campeão do multilateralismo, contrapondo-se às políticas protecionistas de Donald Trump. Embora tenha conquistado apenas uma minoria de assentos na Câmara dos Comuns, Carney emergiu com forte mandato moral para construir alianças globais que defendam o livre comércio e a cooperação internacional.

Experiência única para credibilidade imediata

Como o único líder a presidir dois bancos centrais do G7 – Banco do Canadá e Banco da Inglaterra – Carney acumula know-how financeiro e um rolodex diplomático que, segundo especialistas, lhe confere credibilidade instantânea nos fóruns internacionais.

  • Colin Robertson, ex-diplomata canadense, afirma que Carney “entra extremamente bem preparado, com contatos que atenderão sua chamada em razão dos desafios econômicos atuais.”
  • Sua performance durante a campanha, com críticas firmes a Trump, foi acompanhada de perto por parceiros europeus e asiáticos, ansiosos por um contrapeso ao protecionismo americano.

Estratégias para blindar a economia canadense

A prioridade interna de Carney será fortalecer a resiliência econômica diante de tarifas norte-americanas sobre aço, alumínio e veículos. Entre as medidas em estudo:

  1. Expansão de parcerias comerciais com União Europeia, Japão, Austrália e outras democracias asiáticas.
  2. Investimento em infraestrutura para reduzir dependência logística e energética dos EUA, que compra 90% do petróleo canadense.
  3. Aceleração dos gastos militares e diversificação de fornecedores de defesa, alinhando-se ao fundo de 800 bilhões de euros proposto pela UE.

Coalizão multilateral “sem antagonismo explícito”

Analistas apontam que o maior desafio diplomático de Carney será tecer coalizões sem tornar o Canadá alvo de retaliação direta por Trump.

  • Roland Paris, da University of Ottawa, alerta para o “caminho de equilibrismo”: coordenar-se com países afins sem se auto-designar líder de uma oposição.
  • A presidência canadense do G7 em 2025 oferece palco para Carney convocar um encontro de comércio já na cúpula de junho em Alberta, possivelmente incluindo EUA e México.

Limites de influência e “tremor conservador”

Nem todos veem Carney como novo Merkel ou Macron.

  • Chris Hernandez-Roy (CSIS) lembra o orçamento militar deficiente e crescimento econômico lento do Canadá como fatores que podem minar sua liderança ocidental.
  • Para partidos de direita, a lição é clara: eliminar qualquer “tingimento MAGA” para não alienar o eleitorado moderado.

Conclusão

Mark Carney assume uma missão dupla: reerguer economicamente o Canadá frente ao protecionismo americano e construir pontes multilaterais que preencham o vácuo de liderança deixado pelos EUA. Seu sucesso dependerá da habilidade em equilibrar ação proativa com cautela diplomática, evitando transformar o país em “alvo favorito” de Washington. Ao mesmo tempo, sua experiência financeira e rede de contatos globais oferecem ao Canadá uma janela de oportunidade para redefinir seu papel no G7 e além.

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