Lammy defende cessar‑fogo sustentável e diálogo entre Índia e Paquistão

David Lammy fala à imprensa durante conferência sobre a Ucrânia e segurança europeia em Londres, 12 de maio de 2025.
O chanceler britânico David Lammy concede entrevista à imprensa durante conferência sobre a Ucrânia e a segurança europeia na Lancaster House, em Londres, em 12 de maio de 2025. REUTERS/Carlos Jasso/Pool/File Photo

Em visita oficial a Islamabad, o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, reafirmou o compromisso conjunto de Reino Unido e Estados Unidos em consolidar o recente cessar‑fogo, firmado em 10 de maio, e em promover medidas concretas de construção de confiança entre Índia e Paquistão.

Contexto e antecedentes históricos

  • Desde a partição de 1947, Índia e Paquistão travam três guerras abertas e dezenas de crises, quase todas centradas em torno da região da Caxemira.
  • Os conflitos de 1947–48, 1965 e 1971 resultaram em mais de 100.000 mortes diretas, estima o SIPRI.
  • Nos últimos 30 anos, escaladas pontuais em 1999 (Kargil) e em 2019 (atentado em Pulwama) ilustram a fragilidade dos acordos anteriores.

Papel diplomático de Londres e Washington

Lammy explicou que a mediação anglo‑americana foi essencial para deter o ciclo de retaliações que incluiu disparos de mísseis em território adversário. Segundo o ministro:

“Continuaremos a trabalhar com os Estados Unidos para garantir que o cessar‑fogo perdure e que o diálogo, em local neutro, seja retomado com urgência.”

ao unir sua diplomacia à dos EUA, Londres amplia a pressão sobre Nova Délhi e Islamabad para que respeitem não só o armistício imediato, mas também compromissos futuros.

Questão das águas do Indo

Um dos pontos de maior tensão é a decisão de Delhi de suspender sua participação no Tratado das Águas do Indo (1960), pacto que regula seis rios fundamentais para a agricultura paquistanesa:

  • Índia controla 20% do fluxo total, enquanto o Paquistão detém os 80% restantes.
  • Disputa pendente: Islamabad considera a suspensão uma “provocação” que pode caracterizar “ato de guerra” se afetar o abastecimento.

“Exortamos todas as partes a cumprir suas obrigações legais no âmbito do tratado”, concluiu Lammy.

Construção de confiança e segurança regional

Segundo especialistas do International Institute for Strategic Studies (IISS), medidas como:

  • Reabertura de postos de controle transfronteiriços;
  • Troca de informações de inteligência sobre grupos insurgentes;
  • Projetos de intercâmbio cultural e educativo;

já reduziram em até 40% incidentes de tiro na linha de controle em períodos anteriores, mas carecem de supervisão multilateral contínua.

Reações de atores externos

  • ONU: o Secretário-Geral saudou o armistício como “oportunidade para retomar negociações de longo prazo”.
  • Arábia Saudita: eloquente em nota da chancelaria, manifestou-se “otimista quanto à restauração da paz e segurança”.
  • Emirados Árabes Unidos: ressaltaram que o acordo é “etapa fundamental para estabilidade econômica na região”.
  • Sri Lanka: ofereceu sua mediação técnica para conversações futuras.

Críticas e paralelos internacionais

Em tom mais contundente, Lammy associou a solução sul-asiática à crise na Ucrânia, criticando a postura de obfuscação russa que tem emperrado negociações de cessar‑fogo em solo europeu. Perguntou:

“Até quando aceitaremos a resistência de Putin em aceitar paz duradoura?”

Perspectivas e cenários futuros

Cenário otimista: estabelecimento de uma comissão binacional para monitorar o Tratado das Águas do Indo e lançamento de uma cúpula de segurança em Nova Délhi ou Genebra até o final de julho.


Riscos: retórica nacionalista em ambos os Parlamentos, próximas eleições em Islamabad (outubro) e em Nova Délhi (fevereiro de 2026), além de flutuações de poder militar interno.

Conclusão


O esforço anglo‑americano reflete a importância estratégica do Sul da Ásia para a segurança global. A efetividade do acordo de 10 de maio dependerá, sobretudo, da capacidade de Índia e Paquistão em implementar mecanismos de supervisão e diálogo civil que ultrapassem meras declarações oficiais.

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