
Em um desfecho diplomático de alta relevância para o Sudeste Asiático, Tailândia e Camboja concluíram um acordo de cessar - fogo imediato e incondicional na madrugada de 28 de julho de 2025. As negociações foram conduzidas em Kuala Lumpur, sob mediação do governo da Malásia — à época presidente da ASEAN — e com o apoio diplomático e político dos Estados Unidos e da China.
Contexto e escalada do conflito
O embate remonta a tensões acumuladas ao longo de 2025:
- Fevereiro: desentendimentos sobre cânticos do hino nacional cambojano no templo de Preah Vihear, no alto da disputa histórica pela região.
- Maio: tiroteio breve em 28 de maio resultou na morte de um soldado cambojano, seguido de recuo diplomático e apelos ao ICJ para definição de fronteiras.
- 23 de julho: explosão de mina pêssega que feriu cinco soldados tailandeses em Nam Yuen, província de Ubon Ratchathani; a Tailândia respondeu suspendendo postos de fronteira e reduzindo laços diplomáticos.
Entre 24 e 27 de julho, as hostilidades escalonaram a intensidades não vistas em mais de uma década: armas de fogo, artilharia e bombardeios ocasionaram pelo menos 35 mortos, incluindo dezenas de civis, e mais de 260 mil deslocados nas províncias fronteiriças de Preah Vihear, Surin e Siem Reap.
“Comprometemo-nos a restaurar a estabilidade imediatamente. Nossos povos merecem paz, não bombas”, declarou o primeiro-ministro cambojano Hun Manet após a assinatura do acordo.
Mediação e pressão internacional
- ASEAN e Malásia: o primeiro - ministro malaio Anwar Ibrahim, como presidente rotativo da ASEAN, planejou e conduziu as conversas em Kuala Lumpur, visando demonstrar capacidade regional de resolução de crises.
- Estados Unidos: o presidente Donald Trump ameaçou barrar negociações comerciais e aplicar tarifas contra ambos os países caso o conflito se prolongasse; o secretário de Estado Marco Rubio ofereceu infraestrutura de apoio às negociações multilaterais.
“A paz é a única via aceitável para parceiros comerciais dos EUA. Estamos prontos para apoiar, mas também para reagir”, afirmou Trump em pronunciamento oficial em 27 de julho.
- China: tradicional aliada do Camboja, enviou embaixadores-observadores às mesas de negociação e declarou disposição para atuar como garante político do acordo.
Termos do acordo de cessar - fogo
- Vigência: a partir das 00h00 (UTC+7) de 28 de julho de 2025.
- Retirada simultânea das tropas dos pontos de maior tensão, com supervisão de observadores civis e militares da ASEAN.
- Investigação conjunta sobre a origem das minas responsáveis pelo estopim do conflito.
- Comissão bilateral permanente para tratar de disputas fronteiriças e de desminagem.
- Compromissos formais de não militarização da faixa de fronteira, respeitando tratados anteriores e acórdãos da Corte Internacional de Justiça.
Repercussões e análise
Cooperação EUA–China
A intervenção simultânea de Washington e Pequim — historicamente em lados opostos em questões globais — evidencia o interesse comum pela estabilidade do corredor do Mekong, crucial para o comércio e a segurança alimentar regional.
Fortalecimento da ASEAN
A rápida mobilização e a condução malasia reforçam a credibilidade do bloco como mediador efetivo, rompendo o discurso de incapacidade de evitar a militarização de crises internas.
Desafios futuros
- A linha de fronteira, por vezes mal mapeada, ainda pode gerar incidentes locais.
- A efetividade da comissão bilateral dependerá da boa-fé de ambos os governos e da pressão diplomática contínua.
- A desminagem total da região pode levar anos, exigindo financiamento de agências multilaterais.
Conclusão
O acordo de 28 de julho marca uma vitória diplomática de grande significado: demonstra cooperação pragmática entre potências, ação regional eficaz da ASEAN e abre caminho para um processo de paz sustentável. Contudo, a rota pós-cessar-fogo exigirá monitoramento constante, compromissos financeiros e diálogo técnico para converter a trégua em paz duradoura.
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