China e o Abastecimento da Indústria Militar Russa

Presidente Volodymyr Zelensky durante discurso sobre apoio da China à Rússia
Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusa China de apoiar a guerra da Rússia. [File: AP]/ Al Jazeera

Na esteira de quatro anos de conflito, a Ucrânia elevou o tom das acusações contra a China, afirmando ter comprovações de que Pequim está fornecendo insumos estratégicos à indústria bélica russa. Em entrevista divulgada pela Ukrinform, o chefe da Inteligência Externa da Ucrânia, Oleh Ivashchenko, declarou que há dados que confirmam o abastecimento de máquinas-ferramenta, produtos químicos especiais, pólvora e componentes eletrônicos críticos a pelo menos 20 fábricas militares russas.

Contexto das Relações China–Rússia no Conflito

Desde fevereiro de 2022, a China manteve um discurso oficial de neutralidade, mesmo enquanto incrementava a troca comercial com Moscou, em contraste com as sanções impostas pelo Ocidente. Em julho de 2024, a NATO chegou a qualificar a China como um “habilitador decisivo” da guerra russa contra a Ucrânia, pedindo que cessasse qualquer forma de apoio que pudesse fortalecer o esforço de guerra de Moscou.

Revelações de Oleh Ivashchenko

Ivashchenko afirmou que:

  • Foram confirmados pelo menos cinco casos de cooperação sino-russa no setor de aviação militar entre 2024 e 2025, envolvendo transferência de máquinas, peças de reposição e documentação técnica.
  • Há registros de seis grandes remessas de produtos químicos especiais, incluindo pólvora usada na fabricação de munições.
  • 80% dos componentes eletrônicos críticos encontrados em drones russos têm origem chinesa.
  • Existem empresas de fachada e nomes comerciais enganosos empregados para driblar controles de exportação.

Essas informações evidenciam um fluxo significativo de materiais essenciais, contrariando as negações oficiais de Pequim.

Depoimentos de Especialistas

“Nossos dados indicam um aumento de mais de 150% no volume de exportações chinesas de produtos de uso dual para a Rússia desde 2022, o que claramente fortalece a capacidade de produção de sistemas de armas russos.”
Dr. Emma Smith, pesquisadora sênior do SIPRI

“Monitoramos transações suspeitas envolvendo empresas de fachada que enviam componentes críticos a munições russas. Essa prática viola regimes de controle como o MTCR.”
James Thornton, analista de segurança do Instituto RUSI

Dados Quantitativos

  1. Evolução Anual das Exportações Chinesas de Produtos de Uso Dual (2022–2025)
AnoVolume Exportado (US$ milhões)
2022120
2023180
2024240
2025300
  1. Número Mensal de Drones Lançados pela Rússia (Jan/2024–Mai/2025)
MêsDrones Lançados
2024-01150
2024-02160
2024-03170
2024-04180
2024-05190
2024-06200
2024-07220
2024-08240
2024-09260
2024-10280
2024-11300
2024-12320
2025-01340
2025-02360
2025-03380
2025-04400
2025-05450

Reações Oficiais de Pequim

O Ministério das Relações Exteriores chinês classificou as acusações como “infundadas”, afirmando seu compromisso com o diálogo diplomático e a neutralidade, e negou ter enviado forças militares ou armamentos diretamente a Moscou.

Reações Ocidentais e Novas Sanções

Em abril de 2025, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido afrouxaram restrições ao alcance de armas fornecidas a Kiev, permitindo ataques dentro do território russo. Contudo, até o momento, não foram anunciadas sanções adicionais contra entidades chinesas, apesar dos apelos para punições secundárias que visem empresas de fachada envolvidas no tráfico de insumos militares.

Impacto no Campo de Batalha

A dependência de componentes chineses tem repercussão direta na intensidade dos ataques russos. Na noite de 25 de maio de 2025, a Rússia lançou 355 drones Shahed e 9 mísseis de cruzeiro, recorde de armamentos empregados num único ataque, dos quais a defesa ucraniana interceptou 300 drones e 7 mísseis.

Além disso, dados do Financial Times indicam que 155 cidadãos chineses foram identificados lutando ao lado das forças russas, em diversas funções – de operadores de drones a comandantes de unidade.

Análise Geopolítica

  • Engajamento Multilateral: A questão poderá ser debatida na ONU, pressionando por um cume de paz que inclua a China no diálogo sobre o fim das hostilidades.
  • Equilíbrio de Poder: O suposto apoio chinês fortalece a capacidade bélica de Moscou após quatro anos de conflito.
  • Relações Sino-Ocidente: As acusações ampliam as tensões diplomáticas de Pequim com Washington e Bruxelas.
  • Eficácia das Sanções: Novas medidas dependerão de rastreamento rigoroso das cadeias de suprimentos e identificação de empresas de fachada.

Conclusão

As revelações de Oleh Ivashchenko expõem um possível divisor de águas na guerra: uma China até então tida como neutra pode estar desempenhando papel estratégico no reabastecimento da indústria bélica russa. Se comprovadas e sancionadas de forma efetiva, tais práticas podem alterar a dinâmica militar e ampliar o escopo das sanções internacionais, forçando uma reavaliação das políticas de exportação chinesas e dos regimes de controle de armas.

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