
Em 20 de agosto de 2025, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, desembarcou em Cabul para uma visita oficial ao Afeganistão, destacando a importância da cooperação trilateral entre China, Afeganistão e Paquistão. Esta visita ocorre em um momento crucial, com o Afeganistão buscando estabilizar sua economia e segurança após décadas de conflito.
Contextualização Histórica
Em agosto de 2021, o Talibã retomou o controle do Afeganistão após a retirada das tropas dos Estados Unidos e da OTAN, encerrando quase 20 anos de presença militar internacional no país. Esse retorno ao poder resultou em uma crise humanitária, com restrições severas aos direitos das mulheres e uma economia em colapso. A comunidade internacional, incluindo a China, observou atentamente os desenvolvimentos, com muitos países mantendo canais diplomáticos com o novo governo talibã, embora sem reconhecimento formal.
Fortalecimento da Cooperação Trilateral
Durante a visita, Wang Yi participou do 6º Diálogo Trilateral de Ministros das Relações Exteriores, reunindo representantes da China, Afeganistão e Paquistão. O encontro focou na construção de confiança estratégica mútua e na intensificação da colaboração em segurança, comércio e conectividade regional. Wang enfatizou a necessidade de melhorar os mecanismos de diálogo em segurança, aprofundar a cooperação em aplicação da lei e combater atividades terroristas transnacionais, incluindo o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM), que representa uma ameaça direta à segurança da China. Além disso, Wang destacou a oposição à interferência externa e a importância do respeito mútuo à soberania dos países envolvidos.
Apoio ao Desenvolvimento Econômico do Afeganistão
A China expressou disposição em apoiar o Afeganistão na revitalização de sua economia. Wang Yi reiterou o compromisso de Pequim em apoiar a política do Afeganistão de priorizar o desenvolvimento econômico e contribuir para sua recuperação. Além disso, a China se opôs à pressão internacional sobre o Afeganistão e ao congelamento de seus ativos, defendendo a retomada das patrulhas bilaterais no Corredor Wakhan para manter a paz nas áreas fronteiriças.
Exploração de Recursos Naturais e Iniciativas de Infraestrutura
A visita também abordou questões econômicas práticas. A China demonstrou interesse em iniciar operações de mineração no Afeganistão, país rico em depósitos de lítio, cobre e ferro. Além disso, Pequim incentivou Cabul a aderir formalmente à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), visando facilitar o comércio e a conectividade regional. Uma proposta significativa foi a extensão do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) para o Afeganistão, visando fortalecer a infraestrutura e o comércio entre os três países e com a Ásia Central.
Implicações Regionais e Geopolíticas
A aproximação da China com o Afeganistão ocorre em um contexto geopolítico complexo. A presença do ETIM na região é uma preocupação significativa para Pequim, que busca erradicar bases terroristas próximas à sua região de Xinjiang. Além disso, a cooperação com o Afeganistão pode fortalecer a posição da China na Ásia Central e no Oriente Médio, ampliando sua influência econômica e estratégica.
Desafios e Perspectivas Futuras
Apesar dos avanços na cooperação, desafios persistem. O Afeganistão enfrenta questões internas, como a necessidade de estabilidade política e segurança, que podem impactar a implementação de projetos conjuntos. Além disso, a comunidade internacional observa atentamente as relações entre a China e o governo talibã, especialmente em relação aos direitos humanos e à governança.
Em conclusão, a visita de Wang Yi ao Afeganistão destaca o compromisso da China em apoiar o país na busca por estabilidade e desenvolvimento. A cooperação trilateral com o Paquistão e o Afeganistão, juntamente com iniciativas de infraestrutura e exploração de recursos, pode representar um passo significativo para a integração econômica e segurança regional. No entanto, a implementação bem-sucedida dessas iniciativas dependerá da capacidade do Afeganistão de superar desafios internos e da disposição da comunidade internacional em apoiar esses esforços.
Conclusão
A visita de Wang Yi ao Afeganistão em agosto de 2025 reafirma a estratégia chinesa de engajamento com países vizinhos para fortalecer estabilidade regional, segurança e desenvolvimento econômico. Ao oferecer apoio político e econômico ao governo talibã, a China busca não apenas proteger seus interesses estratégicos, mas também criar canais de cooperação que podem impulsionar o comércio, a infraestrutura e a exploração de recursos naturais no Afeganistão.
No entanto, o sucesso dessas iniciativas dependerá da capacidade do Afeganistão de enfrentar seus desafios internos, incluindo instabilidade política, segurança precária e questões sociais. Além disso, o olhar atento da comunidade internacional sobre direitos humanos e governança poderá influenciar o ritmo e a profundidade dessa cooperação.
Em síntese, a aproximação entre China e Afeganistão representa uma oportunidade significativa para integração regional, mas é um processo delicado, que exige equilíbrio entre interesses estratégicos, econômicos e sociais para que os resultados sejam sustentáveis a longo prazo.
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