
Autoridades chinesas intensificaram o apelo pelo cancelamento de todas as tarifas unilaterais impostas pelos Estados Unidos, como condição para pôr fim ao prolongado conflito comercial entre as duas maiores economias do planeta. A posição oficial de Pequim veio em duas frentes: declarações do Ministério do Comércio e do Ministério das Relações Exteriores, além de iniciativas voltadas a tranquilizar empresas estrangeiras presentes na China.
Posicionamento oficial de Pequim
Ministério do Comércio
O porta-voz He Yadong declarou em entrevista coletiva em Pequim que, “quem bateu o sino deve desatá-lo” — referência direta às tarifas que Washington impôs de maneira unilateral. Para He, a retirada dessas medidas seria a condição indispensável para qualquer avanço nas tratativas bilaterais. Ele acusou o governo dos EUA de criar um “problema político” em torno de questões essencialmente econômicas .
Ministério das Relações Exteriores
Em pronunciamento separado, o porta-voz Guo Jiakun desmentiu categoricamente notícias sobre conversas tarifárias já ocorridas entre Pequim e Washington, classificando-as como “notícias falsas”. Segundo ele, não houve nem mesmo consultas preliminares sobre o tema, muito menos qualquer tipo de acordo .
Citação de especialistas
“A exigência chinesa de cancelamento total das tarifas funciona como uma poderosa tática de barganha, pois força os EUA a demonstrarem boa-fé antes de qualquer contraproposta”, avalia Dr. Marcos Vinícius, professor de Economia Internacional da Fundação Getulio Vargas. Para ele, esse movimento também visa testar a coesão interna da administração Trump, pressionando por sinais claros de flexibilização antes de retomar negociações formais.
Cenários futuros possíveis
Cenário | Descrição | Consequências principais |
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1. Redução parcial de tarifas | EUA cancelam parte das tarifas (para 50–65%) e mantêm o restante como “garantia”. | – Retomada gradual de investimentos estrangeiros na China – Alívio imediato em cadeias de suprimento globais – Base para negociações setoriais posteriores |
2. Impasse prolongado | Nenhuma das partes cede; impasse persiste. | – Aumento de disputas na OMC e retaliações legais – Maior volatilidade em mercados financeiros – Empresas buscam alternativas de produção fora de China e EUA |
3. Acordo comercial parcial | Negociação de um pacote limitado, com cláusulas de revisão periódica. | – Estabelecimento de “rodadas” de descongelamento de tarifas – Criação de mecanismos de monitoramento de desequilíbrios – Potencial modelo para futuros acordos multilaterais |
Reação das empresas estrangeiras na China
Preocupadas com o impacto das tarifas elevadas em seus custos e operações, mais de 80 empresas e câmaras de comércio estrangeiras participaram, em Pequim, de uma mesa-redonda promovida pelo Ministério do Comércio. O vice-ministro Ling Ji encorajou esses investidores a “transformar crises em oportunidades”, comprometendo-se a solucionar entraves regulatórios e operacionais.
Defesa do sistema multilateral
No âmbito do G20, em Washington D.C., o governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, reafirmou o apoio de Pequim às regras de livre-comércio e ao sistema multilateral de comércio. Em discurso paralelo às reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, ele advertiu contra o risco de fragmentação da economia global caso subsistam medidas unilaterais.
Conclusão
O convite de Pequim para que Washington “desate o sino” das tarifas unilaterais marca um momento crucial na guerra comercial. Enquanto os EUA avaliam reduzir alíquotas, a China reforça que não abrirá mão de sua posição de exigir o fim total das medidas punitivas como condição para negociações. O desfecho desse impasse terá impactos diretos não apenas nas economias chinesa e americana, mas em toda a dinâmica do comércio global e nas cadeias produtivas que já sofrem com incertezas.
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