China Critica Interferência Externa em Taiwan em Meio a Crescente Tensão Política

Manifestantes segurando cartazes e faixas em apoio ao movimento de recall em uma rua de Taiwan.
Foto: Hung Mei-hsiu, Taipei Times — Grupo de cidadãos participa de manifestação em Hsinchu, Taiwan, apoiando o movimento de recall em julho de 2025.

As relações entre China e Taiwan voltaram a se agravar esta semana, após acusação formal de Pequim de que potências estrangeiras estão tentando interferir nos assuntos internos da ilha. O estopim foi um movimento popular que visa o recall de 24 parlamentares do principal partido de oposição, o Kuomintang (KMT), acusado de estarem alinhados com Pequim, com a votação marcada para o próximo sábado, 26 de julho de 2025.

Contexto Histórico e Político

Desde o fim da Guerra Civil Chinesa, em 1949, Taiwan se consolidou como uma democracia multipartidária, enquanto a República Popular da China reivindica soberania sobre a ilha. Nos últimos anos, tensões intensificaram-se em razão de visitas oficiais e acordos militares entre Taiwan e países ocidentais, e de voos militares chineses cruzando a Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) taiwanesa.

O Movimento de Recall

A campanha de recall, iniciada por grupos cívicos e apoiada pelo partido no poder, o Democrático Progressista (DPP), utiliza um mecanismo legal pouco explorado para afastar mid-term eleitos que supostamente comprometem a segurança nacional. Sob a Lei de Eleições e Recall de 1994, é necessário que 10% dos eleitores de cada circunscrição subscrevam o pedido para abrir o processo e que, na votação, pelo menos um quarto do eleitorado confirme o afastamento.

Ao todo, 24 deputados do KMT — incluindo nomes-chave como Eric Chu e Johnny Chiang — estão na mira. O KMT nega ser “pró-Beijing”, defende a importância de manter canais de diálogo com o continente e qualifica o recall como um ataque partidário ao resultado das eleições de 2024.

Acusação de Pequim: “Interferência Externa Evidente”

Em pronunciamento, o Conselho de Assuntos do Continente (MAC) de Taiwan afirmou que as tentativas chinesas de influir no processo eleitoral são “evidentes e claras” e ressaltou que cabe única e exclusivamente ao povo taiwanês decidir o destino de seus representantes. A China, via seu Escritório de Assuntos de Taiwan, permaneceu em silêncio oficial, mas veículos de mídia estatal, como a CCTV e jornais como o Global Times, publicaram dezenas de artigos denunciando o recall como manobra de “terror verde”.

Implicações Regionais e Internacionais

A votação de 26 de julho pode alterar o equilíbrio no Legislativo taiwanês, hoje fragmentado entre DPP, KMT e Taiwan People’s Party (TPP). Para os EUA e aliados, a defesa de Taiwan é parte central de sua estratégia no Pacífico, enquanto Pequim intensifica pressão militar — com rotação de navios de guerra pelo Estreito — e diplomática para reafirmar sua soberania.

Recentemente, o Parlamento taiwanês aprovou o Anti-Infiltration Act, lei que criminaliza colaboração com “forças estrangeiras hostis”, incluindo proibição de financiamentos e propaganda externa, com pena de até cinco anos de prisão e multa de até NT$10 milhões, indicando preocupações crescentes com segurança e desinformação.

Análise: Democracia x Soberania

O recall é vista por muitos como demonstração de vitalidade democrática, mas Pequim o enxerga como desafio à sua integridade territorial. Esse embate evidencia o dilema taiwanês: fortalecer instições democráticas e, ao mesmo tempo, resistir a pressões externas que buscam influenciar suas decisões políticas.

Conclusão

Com a votação de recall se aproximando, o desfecho de 26 de julho tende a marcar um novo capítulo na complexa relação entre China e Taiwan. Mais do que uma disputa interna, trata-se de um teste de resiliência democrática contra intervenções externas, cujas repercussões ecoarão em toda a região Ásia-Pacífico e no equilíbrio de poder global.

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