China ratifica tratado de extradição com a Sérvia; reações e contexto global se aprofundam

Bandeiras da China e da Sérvia lado a lado, simbolizando o tratado de extradição entre os dois países.
Bandeiras da China e da Sérvia representam o novo acordo de extradição.

A China anunciou a ratificação de um tratado de extradição com a Sérvia, medida que aprofunda a cooperação jurídica entre os dois países e reforça a presença chinesa no Leste Europeu. O acordo, entretanto, gerou críticas de organizações de direitos humanos e observadores internacionais, que veem nele riscos de perseguição política e de pressões sobre cidadãos de Taiwan.

Cooperação em expansão entre Pequim e Belgrado

A parceria entre China e Sérvia vem se intensificando nos últimos anos, movida por interesses econômicos, diplomáticos e estratégicos. Em maio de 2024, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping a Belgrado, foram assinados 28 documentos bilaterais de cooperação, entre eles justamente o Acordo de Extradição e um Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Civil e Comercial.

O tratado de extradição também precisa passar pelo parlamento sérvio para entrar em vigor.

Dados comparativos: a rede legal global da China

Para entender melhor o que esse tratado significa no escopo das operações legais e diplomáticas de Pequim, estes são alguns números e exemplos:

ItemInformação
Número de tratados de extradição assinadosA China já assinou mais de 59 tratados bilaterais de extradição com outros países, dos quais cerca de 45 foram ratificados até 2024.
Tratados em geral de assistência jurídica e recuperação de bensSão mais de 81 tratados/acordos relacionados ao extradição, assistência jurídica e recuperação de ativos.
Histórico de aplicaçãoDesde 2014, operações como “Fox Hunt” e “Skynet” permitiram que a China procurasse efetivamente fugitivos no exterior, inclusive no contexto europeu.

Temores de perseguição política

Apesar das justificativas oficiais, analistas e grupos de direitos humanos alertam que o tratado possa ser empregado para fins políticos. Há receios de que o mecanismo de extradição seja usado contra:

  • dissidentes ou críticos do regime chinês que estejam em solo sérvio;
  • requerentes de asilo;
  • cidadãos de Taiwan — dada a posição de Pequim de considerar Taiwan parte de sua jurisdição.

Além disso, há precedentes de que tribunais europeus vetaram extraditions para a China com base em risco de maus-tratos ou de violação de direitos humanos.

Reações políticas: Sérvia, União Europeia e o Ocidente

Sérvia

O governo sérvio defende que o tratado de extradição é um passo natural dentro da cooperação bilateral mais ampla com a China, como parte da estratégia de desenvolvimento infraestrutural, econômica e judicial. Belgrado também enfatiza o princípio da soberania e interesse nacional.

União Europeia

A relação entre Serbia e China tem sido objeto de atenção crescente por parte da União Europeia:

  • Bruxelas expressou preocupações sobre a direção estratégica de Belgrado, especialmente no contexto de sua candidatura à UE. A intensidade da cooperação com a China é vista como um possível empecilho para alinhar-se às políticas externas da União — como sanções, declarações de direitos humanos etc.
  • Embora não haja até o momento uma reação oficial pública da UE especificamente sobre esse tratado de extradição (ao menos não divulgada até as notícias mais recentes), observadores apontam que o tratado será monitorado de perto porque pode levantar tensões diplomáticas se for considerado que viola compromissos de direitos fundamentais que a UE exige de candidatos.

Implicações para a Europa e para o Ocidente

Com esses acréscimos, algumas implicações se tornam mais evidentes:

  1. Aumento de transparência exigida
    O fato de 28 acordos (incluindo o de extradição) terem sido assinados simultaneamente mostra uma agenda ampla e rápida. Isso pode gerar pressões para que o conteúdo específico do tratado seja tornado público (ou pelo menos auditável), especialmente em relação a garantias de direitos.
  2. Possível atrito legal
    Mesmo com tratados bilaterais, tribunais europeus — por exemplo, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos — possuem precedentes para recusar extradições se houver risco de violação dos direitos humanos. Isso pode limitar a aplicabilidade prática do tratado, caso critério de proteção legal não seja satisfatório.
  3. Estratégia diplomática de Sérvia
    Belgrado continua fazendo um balanço delicado: por um lado, mantém forte cooperação com a China; por outro, afirma compromisso com a aproximação à União Europeia. Esse duplo alinhamento pode custar credibilidade ou abrir lacunas de política externa entre as expectativas de Bruxelas e as ações domésticas.
  4. Precedente para outros países
    O tratado com a Sérvia fortalece a tendência global da China de expandir sua rede de extradição. Países menores ou com instituições judiciais menos robustas podem ser mais vulneráveis a pressões ou abusos, caso esses tratados não incluam salvaguardas suficientes.

Considerações finais revisadas

A ratificação do tratado de extradição entre China e Sérvia não é apenas uma formalidade bilateral — ela insere-se num panorama global de expansão legal, diplomática e estratégica por parte de Pequim.

Com dados mais concretos, percebe-se que a China tem uma rede extensa de tratados de extradição, mas nem todos estão ativos, nem todos foram ratificados — e muitos enfrentam obstáculos jurídicos quando lidam com questões de direitos humanos.

Para a Sérvia, o tratado reforça sua cooperação com a China, mas também aumenta o escrutínio europeu. Para a UE, será fundamental monitorar como esse tipo de acordo se encaixa nos critérios de direitos humanos exigidos para adesão, e se ele gera possíveis tensões legais.

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