China e UE buscam diálogo reforçado enquanto navegam por interesses centrais e tensões comerciais

Wang Yi cumprimenta Antonio Costa durante reunião oficial em Bruxelas, 2 de julho de 2025.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, aperta a mão do presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, em Bruxelas, Bélgica — 2 de julho de 2025. Foto: REUTERS/Yves Herman.

No dia 2 de julho de 2025, o Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reuniu‑se em Bruxelas com Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu, além de encontros subsequentes com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell. No comunicado oficial, Wang sublinhou a necessidade de “melhorar a comunicação” bilateral e “respeitar os interesses centrais” de cada lado, reiterou o apoio de Pequim a negociações de paz na Ucrânia e criticou o “unilateralismo e atos de intimidação” que prejudicam a ordem internacional.

Contexto histórico dos 50 anos e números mais recentes

  • Meio século de relações: 2025 marca o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas China–UE, momento em que Pequim destaca a Europa como “parceiro estratégico fundamental” para um mundo multipolar.
  • Fluxo de comércio em 2024:
    • Exportações da UE para a China: € 213,3 bilhões.
    • Importações da UE da China: € 517,8 bilhões.
    • Déficit: € 304,5 bilhões.
  • Investimentos Diretos (FDI):
    • Fluxo da UE para a China em 2024: € 10,1 bilhões; desde 2000, total de € 185 bilhões.
    • Fluxo da China para a UE em 2024: € 9,4 bilhões; estoque acumulado de € 188 bilhões.

“Interesses centrais”: significado e fricções

  • Definição chinesa: engloba soberania, integridade territorial e segurança nacional, incluindo assuntos sensíveis como Taiwan, Xinjiang e Hong Kong.
  • Posição europeia: Bruxelas promove valores democráticos e direitos humanos, mas Pequim exige que a UE não interfira em assuntos considerados internos.

Rejeição ao unilateralismo e “atos de intimidação”

  • Alvo velado: crítica às políticas unilaterais dos EUA e também a medidas protecionistas na UE.
  • Mensagem chinesa: Wang afirmou que, combinando diálogo e cooperação, China e Europa podem “impedir a formação de blocos antagônicos”.

Voz europeia: Josep Borrell e o contraponto

  • Borrell em Bruxelas: o Alto Representante elogiou o “desenvolvimento admirável” da China, defendeu a gestão apropriada das diferenças e se opôs a “desvinculação” econômica, reafirmando que o bloco “precisa manter engajamento forte e construtivo” com Pequim.
  • Autonomia estratégica: Von der Leyen e Michel têm enfatizado simultaneamente a necessidade de “des‑risco” (de‑risking) de dependências críticas e de manter canais abertos para diálogo em tecnologia e clima.

Tensões comerciais e perspectivas de um “pacote”

  • Principais disputas: tarifas sobre veículos elétricos, antídumping a madeira chinesa e restrições a terras‑raras.
  • Proposta de “pacote”: segundo Noah Barkin, poderia envolver retirada de medidas antissubsídio em troca de garantias de fluxo de terras‑raras — mas analistas como Janka Oertel (MERICS) alertam que “ceder direitos definidos sob lei europeia seria fatal e só convidaria a mais coerção”.

Iniciativas concretas de cooperação

  • Diálogo setorial ampliado: além do estratégico e econômico, mecanismos cobrem clima, digitalização, energia limpa e IA, criando projetos como o EU–China Clean Energy Centre e chamadas conjuntas no Horizon Europe.
  • Intercâmbio acadêmico e cultura: reforço ao programa Erasmus+ e fundação de redes de universidades para pesquisas de ponta em saúde e biotecnologia.
  • Infraestrutura na Europa Central e Oriental: continuidade de parcerias BRI em logística verde e transporte intermodal.
  • Cooperação em vacinas e saúde pública: ampliação de ensaios clínicos conjuntos pós‑COVID e trocas entre EMA e autoridades chinesas sobre novos mRNA.

O papel mediador na crise ucraniana

  • Posicionamento de Pequim: apoio a “negociações de paz” e solução política, sem condenar abertamente a invasão russa.
  • Cautela da UE: aceita contribuições que reduzam a violência, mas receia que acordos pivoteados pela China reforcem o status quo russo.

Perspectivas para a cúpula de julho

  • Datas e local: 24 e 25 de julho de 2025, em Pequim e Hefei, 13ª Cúpula de Líderes China–UE.
  • Agenda central:
    1. Tecnologia e inovação (5G, IA, semicondutores).
    2. Resolução de litígios comerciais (tarifas, acesso a mercados).
    3. Ação climática e neutralidade de carbono.
  • Expectativas: analistas projetam reafirmação de compromissos, mas sem grandes avanços em temas sensíveis, especialmente se Xi Jinping não participar diretamente.

Fontes de opinião

  • Bruegel: analisa o impacto de um possível acordo sobre terras‑raras e conclui que “sem transparência, qualquer pacote será percebido como condescendente a pressões geopolíticas” (Relatório, maio/2025).
  • MERICS: Janka Oertel observa que “a retórica de respeito mútuo serve sobretudo a fortalecer a coesão interna chinesa, mais do que a alcançar concessões europeias”.
  • Chatham House: sugere que a UE deve focar em “resiliência econômica” e estabelecer guardrails claros antes de fechar pacotes de cooperação (Comentário, junho/2025).

Dimensão pública e midiática

  • Imprensa chinesa: veículos estatais como Xinhua e Global Times enfatizaram o tom firme de Wang Yi contra o “hegemonismo ocidental” e celebraram a postura de liderança de Pequim no multilateralismo.
  • Mídia europeia: Financial Times e Le Monde destacaram o contraste entre o discurso conciliatório de Borrell e as exigências de Pequim, apontando para um “diálogo cauteloso” marcado por interesses divergentes.
  • Redes sociais: ministérios da China e da UE utilizaram infográficos e trechos de entrevistas em vídeos curtos no Twitter e Weibo, visando públicos internos e externos, com tom otimista, mas evitando temas polêmicos.

Conclusão

Com os “interesses centrais” em jogo, descompassos em comércio e valores e a dinâmica da imprensa, China e UE buscam um delicado equilíbrio entre pragmatismo econômico e defesa de princípios. A inclusão de vozes de think‑tanks e a cobertura midiática evidenciam a importância política desse diálogo e preparam o terreno para os desdobramentos da cúpula de julho de 2025.

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