
Na terça‑feira, 22 de abril de 2025, o chanceler chinês Wang Yi fez dois telefonemas estratégicos — um para o secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy, e outro para a ministra das Relações Exteriores da Áustria, Beate Meinl‑Reisinger — no esforço de rally diplomático contra as medidas tarifárias dos Estados Unidos. Durante as conversas, Wang exortou tanto o Reino Unido quanto a União Europeia a protegerem firmemente os sistemas de comércio multilateral, acusando Washington de “armazenar tarifas para lançar ataques indiscriminados” e de violar abertamente as regras da OMC .
Tarifas como arma comercial
O chamado de Wang ocorre em meio a um acirramento da guerra comercial entre Pequim e Washington, com os EUA impondo alíquotas de até 145% sobre produtos chineses, às quais a China respondeu retaliando com tarifas de 125% sobre exportações norte‑americanas . Essa escalada tem provocado distorções significativas no fluxo bilateral de bens e foi apontada pelo Fundo Monetário Internacional como um dos principais fatores para o corte das projeções de crescimento global, agora estimado em 2,8% para 2025, 0,5 ponto percentual abaixo da previsão anterior.
Discursos de responsabilidade internacional
Em sua conversa com David Lammy, Wang Yi enfatizou que China e Reino Unido compartilham a responsabilidade de zelar pela ordem internacional diante do que chamou de “bullying unilateral desenfreado”. Ele propôs trabalhar em conjunto para “eliminar todas as distrações” e reforçar os pilares do comércio aberto .
De forma paralela, no diálogo com Beate Meinl‑Reisinger, o ministro chinês reafirmou o compromisso de Pequim em intensificar intercâmbios de alto nível com a UE e fortalecer os grupos de trabalho econômicos criados após a visita do vice‑presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič, em março, abordando cadeias de suprimento de veículos elétricos e acesso ao mercado agroalimentar .
Apelo presidencial à globalização
No início de abril, o presidente Xi Jinping havia pedido à UE, em reunião com o primeiro‑ministro espanhol Pedro Sánchez, uma aliança em defesa da globalização, reforçando o movimento diplomático de Pequim . A coordenação discretamente ampliada entre Beijing e Bruxelas inclui diversos encontros de alto nível e mostra que a China busca consolidar blocos de parceiros que possam contrabalançar o uso político das tarifas pelos EUA.
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Opiniões de Especialistas
Para contextualizar as possíveis consequências da escalada tarifária, analistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial trouxeram perspectivas preocupantes. Segundo a diretora‑geral do FMI, Kristalina Georgieva, as tarifas dos EUA levaram o FMI a cortar sua projeção de crescimento global para 2,8% em 2025, refletindo um cenário de incerteza e condições financeiras apertadas. Em seu último relatório semestral, o FMI também advertiu que os riscos à estabilidade financeira aumentaram de forma significativa, enfatizando a necessidade de um seguro financeiro global robusto e de vigilância multilateral para mitigar choques advindos de tensões comerciais.
Analistas do Banco Mundial, reunidos nas discussões anuais em Washington, destacaram que a guerra tarifária pode provocar uma redução de investimentos e pressões inflacionárias, sobretudo em economias de mercados emergentes dependentes das cadeias globais de suprimento, o que pode comprometer metas de desenvolvimento sustentável .
Aprofundamento na Reação da União Europeia e do Reino Unido
União Europeia
Em Bruxelas, a resposta da UE foi marcada por uma postura de equilíbrio estratégico. Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, enfatizou que UE e EUA precisarão de negociações sérias e detalhadas em setores específicos — como o automotivo e de tecnologia — para resolver as tensões sem sacrificar a integração econômica. Ao mesmo tempo, o bloco busca preservar o acesso ao vasto mercado chinês, mantendo diálogo aberto tanto com Washington quanto com Beijing.
Reino Unido
Londres adotou um tom pragmático. O governo britânico afirmou confiar que um acordo de livre comércio com os EUA está próximo, visando minimizar o impacto dos arancelamentos e fortalecer sua economia aberta. Apesar de ter sido poupado das tarifas mais altas — recebendo apenas 10% de alíquota no pacote anunciado por Trump — o Reino Unido reforça que manterá seus princípios de livre comércio e continuará explorando oportunidades tanto com Washington quanto com Beijing.
Desafios e perspectivas
O esforço chinês de mobilizar aliados europeus ilumina uma fragilidade crescente do sistema multilateral de comércio, erodido por práticas protecionistas. Caso Reino Unido e UE atendam ao chamado de Wang Yi, poderão contribuir para reafirmar a credibilidade das instituições internacionais, mas isso dependerá de negociações concretas e de uma visão de longo prazo que contemple reformas na OMC e acordos de investimento mais sólidos.
À medida que o mundo observa o desenrolar dessas conversas, fica claro que a disputa entre as duas maiores economias globais ultrapassa a mera imposição de tarifas: trata‑se de uma batalha pela arquitetura do comércio internacional e pelo futuro do multilateralismo em um cenário geopolítico cada vez mais fragmentado.
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