Tensão em Bukavu: Governo do Congo e Rebeldes M23 Trocam Acusações Após Explosões em Comício

Voluntários se reúnem para doar sangue aos feridos enquanto participavam de um comício na Place de l'Indépendance, onde discursava um líder rebelde congolês e coordenador do movimento AFC-M23, no Hospital Geral de Referência Provincial de Bukavu (HPGRB), em Bukavu, no leste da República Democrática do Congo, em 28 de fevereiro de 2025. REUTERS/Victoire Mukenge.
Voluntários doam sangue para vítimas feridas em explosões durante um comício em Bukavu, na República Democrática do Congo. REUTERS/Victoire Mukenge.

Na cidade de Bukavu, situada na região leste da República Democrática do Congo e atualmente sob controle rebelde, um episódio violento intensificou ainda mais a já delicada situação na região. Durante um comício realizado na praça central, explosões tiraram a vida de 13 pessoas e deixaram dezenas de feridos, desencadeando uma série de acusações entre o governo congolês e os rebeldes do grupo M23, apoiado por autoridades de Ruanda.

Uma Explosão que Abala a Região

Na última quinta-feira, enquanto a multidão se reunia para ouvir um dos líderes do M23, a situação se transformou em tragédia. De acordo com o Ministério do Interior do Congo, tropas de Ruanda e seus supostos aliados teriam disparado foguetes e granadas contra os civis presentes no comício. Em uma declaração divulgada por meio de redes sociais, o governo acusou as forças estrangeiras de “bombardear e atirar munição real contra a população”, elevando a tensão na área.

Por outro lado, o líder da aliança rebelde, Corneille Nangaa, apresentou uma versão distinta dos fatos. Segundo Nangaa, as granadas utilizadas no ataque teriam a mesma procedência dos armamentos empregados pelo exército de Burundi, o qual, segundo ele, estaria apoiando as forças do governo. Ainda que as autoridades de Burundi neguem a presença de seus soldados em Bukavu, as divergências revelam a complexidade e o emaranhado de acusações que marcam o conflito na região.

Relatos de Campo e Impactos Humanitários

Dois testemunhos locais relataram à imprensa que um indivíduo tentou lançar uma granada contra um comboio de líderes rebeldes, mas acabou falhando no disparo, resultando na explosão prematura do artefato e na morte do próprio atacante. O episódio agravou o sentimento de insegurança entre os moradores, que se mobilizaram para repor os estoques críticos de sangue nos hospitais locais. Em Bukavu, o hospital geral atendeu 68 pessoas feridas, enquanto fontes do governo afirmam que quase 100 indivíduos sofreram lesões graves.

A tragédia ocorre em meio a um cenário de violência e instabilidade que já vitimou cerca de 7.000 pessoas desde o início do ano. A progressiva expansão dos rebeldes, responsáveis pela tomada das cidades de Goma e Bukavu, tem deixado quase meio milhão de pessoas desabrigadas, e, segundo a Agência da ONU para Refugiados, cerca de 60.000 indivíduos buscaram refúgio em países vizinhos, como Burundi.

Repercussões Internacionais e Dilemas Regionais

As consequências do conflito se estendem além das fronteiras do Congo. Na semana passada, os Estados Unidos impuseram sanções a um ministro ruandês, enquanto a Grã-Bretanha ameaçou pausar a ajuda bilateral e adotar outras medidas diplomáticas caso Ruanda não retirasse suas tropas do território congolês. Segundo o porta-voz do governo do Congo, essas medidas ainda não surtiram efeito, evidenciando a permanência do contingente ruandês na região.

Ruanda, por sua vez, defende que suas ações são pautadas na legítima defesa, uma vez que acusa o governo congolês de articular alianças com grupos armados e tropas irregulares. A complexidade da situação é ainda reforçada pelo fato de que tanto os atores internos quanto os externos apontam dedos uns para os outros, agravando um cenário já volátil e que ameaça desestabilizar toda a região dos Grandes Lagos.

Perspectivas para uma Solução Pacífica

Apesar das acusações e da escalada de violência, alguns líderes regionais ainda vislumbram a possibilidade de um acordo negociado. Recentemente, o presidente de Burundi chegou a afirmar que um desfecho pacífico não estaria fora de cogitação. Contudo, iniciativas diplomáticas, como a reunião prevista entre ministros dos blocos da África Austral e Oriental para discutir um possível cessar-fogo, foram adiadas, refletindo as dificuldades em conciliar os interesses conflitantes dos envolvidos.

A tragédia ocorrida em Bukavu é, portanto, mais um capítulo de um conflito multifacetado que desafia não apenas as autoridades do Congo, mas toda a comunidade internacional. Enquanto os responsáveis pelas explosões trocam acusações, a população civil continua a pagar o preço mais alto, vivendo diariamente o medo e a incerteza de um futuro marcado pela violência.




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