
O governo da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo rebelde M23 realizaram, na semana passada, conversas privadas no Catar, marcando a primeira reunião entre as partes desde a nova ofensiva dos rebeldes no leste do país. As negociações, que ocorreram em Doha, representam um possível avanço rumo à paz após meses de combates intensos e crise humanitária crescente.
Segundo uma fonte com conhecimento direto das negociações, que falou à agência Reuters sob condição de anonimato, os encontros foram considerados positivos. Como gesto de boa vontade, o M23 teria recuado da cidade estratégica de Walikale, uma área rica em minerais como estanho. A retirada foi confirmada por dois moradores locais, um funcionário do governo e membros do exército congolês.
As conversas formais entre o governo congolês e o M23 estão previstas para ocorrer oficialmente no próximo dia 9 de abril, também em Doha. Apesar de a promessa de retirada já ter sido feita anteriormente, o grupo havia acusado o exército da RDC de descumprir compromissos, como a permanência de drones de ataque na região.
Contexto do Conflito
O grupo rebelde M23, liderado por membros da etnia tutsi, retomou as armas em 2022, alegando discriminação e falta de representatividade no governo congolês. Desde então, o movimento tem avançado rapidamente em território congolês, tendo capturado importantes cidades no leste do país, incluindo Goma e Walikale.
A atual ofensiva do M23 desde janeiro de 2025 provocou grande preocupação internacional. A ONU e governos ocidentais acusam Ruanda de fornecer apoio militar e logístico ao grupo rebelde. Kigali, por sua vez, nega as acusações e alega estar apenas se defendendo de ameaças vindas do território congolês, especialmente de milícias ligadas aos perpetradores do genocídio de 1994.
Situação Humanitária Grave
A intensificação do conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC) desde janeiro de 2025 resultou em um cenário humanitário alarmante.
De acordo com a primeira-ministra congolense, Judith Suminwa, aproximadamente 7.000 pessoas perderam a vida nesse período, incluindo combatentes e civis. Especificamente, cerca de 3.000 dessas mortes ocorreram na cidade de Goma. Além disso, cerca de 450.000 indivíduos ficaram desabrigados após a destruição de 90 campos de deslocados na região.
A cidade estratégica de Walikale, com uma população de aproximadamente 15.000 habitantes, foi palco de intensos combates entre os rebeldes do M23 e as forças armadas congolesas, resultando em sua captura pelos rebeldes em março de 2025.
A crise humanitária se agravou com a captura de Goma, a maior cidade do leste do Congo, pelos rebeldes do M23. Esse evento deslocou centenas de milhares de pessoas e intensificou os temores de um conflito regional mais amplo.
Riscos de uma Guerra Regional
Além do M23, diversos outros grupos armados atuam na região, contribuindo para a instabilidade. O envolvimento de países vizinhos como Uganda e Burundi, que possuem tropas no leste do Congo, eleva os riscos de uma escalada para um conflito de maiores proporções.
Especialistas alertam que, sem uma solução diplomática ampla, o leste do Congo pode se tornar palco de uma guerra regional prolongada, com consequências devastadoras para toda a região dos Grandes Lagos africanos.
Perspectivas
A retomada do diálogo direto entre o governo da RDC e o M23, mesmo que de forma privada, sinaliza uma possível abertura para soluções negociadas. O sucesso das conversas em Doha poderá depender de garantias mútuas de cessar-fogo, retirada de forças e comprometimento com mecanismos internacionais de monitoramento.
A comunidade internacional acompanha com atenção o desenrolar dessas negociações, com a esperança de que possam trazer alívio para uma população duramente afetada por anos de violência, deslocamentos forçados e insegurança constante.
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