Brasil propõe Contribuições Globalmente Determinadas (GDC) na COP30 para fortalecer ação climática multiescalar

Presidente da COP30, embaixador André Correa do Lago, participa de evento climático em Brasília ao lado do secretário da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell.
O presidente da COP30, embaixador André Correa do Lago, ouve o secretário da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, durante evento sobre clima em Brasília, em 6 de fevereiro de 2025. Foto: REUTERS/Andressa Anholete

Em novembro de 2025, a cidade de Belém, na Amazônia brasileira, sediará a COP30 — marco que celebra o 10º aniversário do Acordo de Paris. À frente da conferência, o embaixador André Correa do Lago apresentou, em carta de 20 de junho de 2025, uma iniciativa inovadora: incorporar compromissos de empresas, governos estaduais e municipais no processo de revisão das metas climáticas globais. A proposta de Contribuições Globalmente Determinadas (GDC) visa dinamizar e ampliar a ambição das Nationally Determined Contributions (NDCs) tradicionais, reconhecendo que atores não estatais podem acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.

Desafios atuais das NDCs

O Acordo de Paris de 2015 estabeleceu que todos os signatários apresentassem NDCs—planos de redução de emissões—e os revisassem a cada cinco anos. Contudo, muitos países não enviaram suas atualizações até o prazo de fevereiro de 2025, comprometendo a meta de manter o aquecimento bem abaixo de 2 °C. A saída formal dos Estados Unidos em 2020 e seu retorno em 2021 expôs lacunas na liderança nacional, criando espaço para ações subnacionais e privadas.

A proposta de GDC

  • Objetivos principais: fortalecer a ambição, aumentar a transparência e integrar diferentes níveis de ação climática.
  • Definição e escopo: As GDCs agregariam metas corporativas e subnacionais ao Global Stocktake, processo de avaliação quadrienal do progresso do Acordo de Paris.
  • Termo e tradução: Em inglês, “Globally Determined Contributions” (GDC) e, em português, “Contribuições Globalmente Determinadas”.

Benefícios esperados

  • Visibilidade para a Amazônia: a COP30 em Belém reforça o protagonismo brasileiro e destaca a defesa do bioma como questão central.
  • Maior ambição coletiva: empresas e cidades frequentemente anunciam cronogramas de neutralidade de carbono mais agressivos que governos centrais.
  • Pressão política positiva: ao expor metas subnacionais, governos com compromissos mais tímidos podem ser incentivados a elevarem suas NDCs.

Desafios e considerações

  • Coerência de políticas: equilibrar iniciativas locais e setoriais sem diluir a responsabilidade dos governos centrais.
  • Juridicidade: adequar estatutos da UNFCCC para reconhecer GDCs exigirá emendas e consenso das Partes.
  • Transparência e verificação: consolidar dados de diferentes atores demanda plataformas unificadas e auditorias independentes.

Perspectivas de adoção

Até o momento, diplomatas brasileiros negociam com blocos regionais (UE, AOSIS, G77+China) para incluir GDCs no manual de procedimentos do Global Stocktake. A expectativa é que um texto de decisão seja apresentado para votação durante a plenária de Belém, entre 8 e 19 de novembro de 2025.

Conclusão

A criação das GDCs representa uma evolução na governança climática, reconhecendo o papel vital de atores não estatais na redução de emissões. Se implementada com mecanismos robustos de governança, a proposta brasileira poderá servir de modelo para tornar o regime climático mais inclusivo, dinâmico e eficiente, ampliando as chances de alcançar a neutralidade de carbono até meados do século.

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