
Em resposta a um convite dos Estados Unidos, Coreia do Sul e EUA realizarão, ainda esta semana, negociações comerciais de alto nível na capital americana. Segundo comunicado divulgado pelo Ministério do Comércio sul‑coreano no último domingo, o ministro das Finanças, Choi Sang‑mok, e o ministro do Comércio, Ahn Duk‑geun, se encontrarão com o representante de Comércio americano, Jamieson Greer, e com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, em reuniões paralelas às Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Contexto histórico e tensões recentes
Desde a entrada em vigor do KORUS FTA (Acordo de Livre‑Comércio entre Coreia e Estados Unidos), em 2012, a relação comercial bilateral vem se aprofundando, com intercâmbios anuais superiores a US$ 150 bilhões. Em janeiro de 2025, o então presidente Donald Trump anunciou a aplicação de uma tarifa recíproca de 25% sobre produtos sul‑coreanos — medida que afetaria sobretudo o setor automotivo e de aço — gerando apreensão em Seul e repercutindo negativamente nos mercados asiáticos. A aplicação foi suspensa dias depois, mas permanece sem resolução definitiva, exigindo diálogo direto entre os governos para evitar escalada de restrições comerciais.
Agenda e participantes
- Ahn Duk‑geun partirá de Seul na quarta‑feira (23 de abril), com chegada prevista em Washington.
- Choi Sang‑mok acompanhará as reuniões para discutir não apenas o impasse tarifário, mas também oportunidades de cooperação em tecnologia verde e infraestrutura digital.
- A pauta não foi detalhada oficialmente, mas analistas apontam como foco principal a redução ou eliminação da tarifa de 25%, além de temas como facilitação de investimentos e padrões regulatórios para semicondutores e veículos elétricos.
Objetivos de Seul
- Reduzir barreiras tarifárias para preservar a competitividade de exportações de automóveis, aço e componentes eletrônicos.
- Ampliar parcerias em inovação, especialmente em semicondutores e baterias de carros elétricos, setores nos quais a Coreia do Sul é referência global.
- Reforçar o papel de aliado estratégico dos EUA no Indo‑Pacífico, alinhando‑se a iniciativas de segurança econômica e diversificação de cadeias de suprimentos.
Expectativas de Washington
- Obter maior acesso aos mercados sul‑coreanos para produtos agrícolas americanos e serviços financeiros.
- Implementar regras de origem mais rígidas no KORUS FTA, reduzindo importações “reexportadas” de terceiros países.
- Promover cooperação em políticas digitais, com foco em cibersegurança e proteção de dados.
Citações de especialistas
“Uma eventual resolução desse impasse tarifário não apenas fortaleceria a relação bilateral, mas também enviaria um sinal positivo ao mercado global de que as grandes potências podem equilibrar interesses econômicos e políticos de forma construtiva”, analisa Marcus Noland, vice‑presidente sénior do Peterson Institute for International Economics.
Para Dr. Lee Ki‑hoon, pesquisador do Korea Institute for International Economic Policy, “a troca de concessões em setores estratégicos, como semicondutores, pode gerar ganhos mútuos, desde que ambos os lados estejam dispostos a flexibilizar padrões regulatórios”.
Impacto para os consumidores
A redução das tarifas de importação poderia:
- Diminuir os preços de automóveis sul‑coreanos nos EUA, beneficiando o consumidor americano com modelos mais competitivos.
- Baratear componentes eletrônicos e dispositivos de tecnologia de ponta, já que 25% de sobretaxa representa um custo expressivo para fabricantes que repassam ao varejo.
- Em contrapartida, consumidores sul‑coreanos poderiam enfrentar alterações menores nos preços de produtos agrícolas e serviços financeiros importados dos EUA, caso haja compensações setoriais.
Impactos econômicos e setoriais
- Automotivo: Hyundai e Kia ganhariam fôlego para aumentar vendas nos EUA.
- Siderurgia: Exportadores de aço teriam redução de custos, fortalecendo a competitividade em licitações de infraestrutura.
- Tecnologia: Investimentos americanos em parques de semicondutores na Coreia do Sul poderiam crescer, consolidando cadeias de suprimentos mais resilientes.
Perspectivas e cenários futuros
- Acordo integral: eliminação da tarifa e criação de novas comissões de acompanhamento.
- Concessão parcial: redução escalonada de tarifas, aliada a revisão periódica de regras de origem.
- Status quo: manutenção das divergências, elevando o risco de retaliações e incertezas para investidores.
Conclusão
As negociações comerciais em Washington serão determinantes para o equilíbrio da aliança trans‑pacífica. Além de tratar da tarifa recíproca de 25%, o encontro pode abrir portas para cooperação em tecnologia avançada, infraestrutura digital e segurança de cadeias de suprimentos. O desfecho influenciará não só o comércio bilateral, mas também o cenário geopolítico no Indo‑Pacífico, definindo rumos estratégicos para os próximos anos.
Não é só a Coreia do Sul que busca negociar; o Japão já vinha tomando iniciativas semelhantes para resolver seu próprio impasse tarifário, conforme analisado em Trump Assume Papel Central nas Negociações de Tarifas entre os EUA e o Japão: Um Enfrentamento Econômico de Alto Risco.
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