
Na esteira do impeachment do presidente Yoon Suk‑yeol e da sucessão acelerada de chefes de Estado interinos, a Coreia do Sul vive um momento de intensa instabilidade política. Em menos de seis meses, três figuras diferentes ocuparam o posto mais alto do Executivo, enquanto o país se prepara para uma eleição presidencial antecipada em 3 de junho de 2025. Este artigo analisa os desdobramentos recentes, o perfil do novo candidato Han Duck‑soo, o papel de partidos menores, a reação popular e os impactos potenciais dessa crise no futuro democrático sul‑coreano.
Contexto da Crise Institucional
Impeachment de Yoon Suk‑yeol (14 de dezembro de 2024)
- O ex‑presidente Yoon Suk‑yeol foi destituído após sua declaração de lei marcial em dezembro de 2024, medida que durou menos de seis horas antes de ser rejeitada pelo Legislativo. Apesar de breve, a decisão gerou crise de confiança nas instituições, levando ao seu impeachment e à convocação de eleições antecipadas.
Sequência de presidentes interinos
- Han Duck‑soo – Assumiu em 14 de dezembro de 2024, após o impeachment de Yoon, permanecendo até sua própria destituição pelo Tribunal Constitucional em março de 2025.
- Choi Sang‑mok – Ministro da Fazenda, ocupou o cargo interino após Han, com mandato curto.
- Lee Ju‑ho – Ex‑ministro da Educação, nomeado em 1º de maio de 2025, prometendo “estabilidade” até a eleição de 3 de junho de 2025.
Han Duck‑soo: Perfil de um Candidato Fora dos Partidos
Trajetória Política e Administrativa
- 75 anos, economista de formação, carreira no Serviço Civil.
- Cargos ocupados:
- Primeiro‑ministro em administrações liberais e conservadoras.
- Ministro do Comércio e Indústria; Ministro da Fazenda; Embaixador na Embaixada da Coreia do Sul em Washington.
Plataforma e Propostas
- Limitação do Poder Executivo: Proposta de emenda constitucional para reforçar o sistema de freios e contrapesos, reduzindo decisões unilaterais da Presidência.
- Transparência e Governança: Plano para fortalecer agências de controle e auditoria independentes.
- Alinhamento Conservador: Sem filiação partidária formal, mas sinaliza cooperação com o Partido do Poder do Povo (conservador), herdando parte da base de Yoon.
Análise de Partidos Menores e Oposição
Candidato / Partido | Alinhamento Político | Plataforma Principal | Potencial Impacto |
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Ahn Cheol‑soo (Centro Unido) | Centro | Reforma do sistema de saúde; inovação tecnológica | Atrai eleitores moderados insatisfeitos com os extremos. |
Sim Sang‑jong (Justiça Popular) | Esquerda | Direitos trabalhistas; redução da desigualdade social | Pode roubar votos de Lee Jae‑myung na base da esquerda radical. |
Candidatos independentes regionais | Variável | Foco em desenvolvimento local e combate à corrupção | Influenciam disputa em províncias-chave, especialmente Jeolla e Gyeonggi. |
- Reação à candidatura de Han: Partidos menores veem em Han um candidato establishment, reforçando campanhas anti‑sistema para conquistar eleitores desiludidos.
- Possível desqualificação de Lee Jae‑myung: Se Lee for impedido, independentes e terceiros partidos podem herdar parcela significativa de seu eleitorado, alterando alianças e estratégias de coalizão.
Análise das Reações Populares
Opinião Pública
Pesquisas entre 20 e 25 de abril de 2025 apontam divisão entre desejo de estabilidade e ceticismo sobre as instituições:
- Confiança nas instituições: 35% confiam plenamente na capacidade do governo interino de gerir a crise, enquanto 50% demonstram preocupação com a rotatividade de líderes (Instituto Koreano de Pesquisa Social, abril de 2025).
- Preferência de voto: Com Lee Jae‑myung elegível, ele lidera com 28%, seguido por Han Duck‑soo com 22% e Ahn Cheol‑soo com 10%. Se Lee for desqualificado, Han sobe para 35% e Ahn para 18%, com o restante fragmentado entre outros candidatos (Gallup Coreia, abril de 2025).
Impacto da Instabilidade
- Percepção de crise: 60% acreditam que três líderes interinos em seis meses refletem fragilidade democrática, gerando apatia política em 30% do eleitorado jovem (18–29 anos).
- Voto de protesto: Cresceu de 5% para 12% o número de eleitores que declaram votar em candidatos de “terceira via” para punir os principais partidos.
Desafios e Cenários Futuros
Elegibilidade de Lee Jae‑myung
- O Supremo reverteu sua absolvição por violação da lei eleitoral, retornando o caso à instância inferior. Se condenado antes de 3 de junho de 2025, será impedido de concorrer, abrindo espaço para realinhamentos de última hora.
Percepção Pública sobre Líderes Interinos
- A alternância rápida de chefes de Estado fragiliza a imagem de estabilidade da democracia sul‑coreana. A confiança nas instituições pode sofrer novo abalo se o próximo presidente interino for visto como “candidato em exercício”.
Papel do Partido do Poder do Povo
- A aliança com Han pode manter o eleitorado conservador, mas expõe o candidato ao desgaste das controvérsias de Yoon.
Possível Reformulação Constitucional
- Se Han for eleito e aprovar emendas, o sistema presidencial pode ficar mais cerceado por controles legislativos e judiciais, alterando o equilíbrio de poder em Seul.
Conclusão
A nomeação de Lee Ju‑ho como líder interino busca estabilidade em meio à crise, mas é a candidatura de Han Duck‑soo que moldará o futuro imediato da Coreia do Sul. Veterano do aparelho estatal, Han propõe reformas que podem redefinir a presidência, enquanto carrega o ônus das críticas por sua saída do cargo interino. A presença de partidos menores e o crescimento do voto de protesto adicionam imprevisibilidade, e a possível desqualificação de Lee Jae‑myung pode redefinir alianças de última hora. Cada movimento nas próximas semanas terá repercussões duradouras no equilíbrio de poder e na confiança nas instituições.
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