
Na primeira semana de julho de 2025 (6 e 7 de julho), a África do Sul foi abalada por um duplo choque: um escândalo de interferência política nas investigações de assassinatos e uma volatilidade cambial, com o rand despencando cerca de 1 % diante de ameaças de tarifas dos EUA contra países do BRICS. A combinação de fragilidade institucional e incerteza econômica elevou o país ao centro das atenções internacionais, suscitando dúvidas sobre a governabilidade e a atração de investimentos estrangeiros.
Contexto: Um País em Busca de Segurança Eficaz
Apesar de contar com legislação avançada de combate ao crime, a África do Sul convive há anos com índices alarmantes de violência. Em 2024, foram registradas quase 27 000 mortes intencionais – uma taxa de homicídios de 45 por 100 000 habitantes, uma das maiores globalmente.
O partido dominante, o African National Congress (ANC), no poder desde o fim do apartheid em 1994, enfrenta perda de confiança após sucessivos escândalos de corrupção e crises internas, o que agrava o ceticismo da população em relação às instituições do Estado.
As Acusações: Interferência nas Investigações
Em 6 de julho de 2025, o Comissário Provincial de Polícia de KwaZulu‑Natal, Tenente‑General Nhlanhla Mkhwanazi, acusou formalmente o Ministro da Polícia, Senzo Mchunu, e o Deputado Comissário Nacional, Shadrack Sibiya, de:
- Obstrução de investigações da “Political Killings Task Team (Força-Tarefa de Assassinatos Políticos)”, desfeita em dezembro de 2024.
- Conluio com sindicatos do crime e empresários suspeitos, citando laços de Mchunu com o empresário Vuzimusi “Cat” Matlala, preso por tentativa de homicídio.
Analistas locais repercutiram com veemência: a professora de Direito da Universidade da Cidade do Cabo, Dr. Leila Moodley, apontou que “essa interferência mina qualquer esperança de justiça para famílias de vítimas”. O economista Justin Visagie alertou que “a confiança em instituições básicas do Estado é pré-condição para a recuperação econômica”.
Reação Oficial: Segurança Nacional Sob Pressão
Enquanto participava da cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, o Presidente Cyril Ramaphosa classificou as acusações como “um grave problema de segurança nacional”, comprometendo-se a instaurar “processos de investigação rigorosos e transparentes” logo após seu retorno ao país.
No Parlamento, a Comissão de Polícia exigiu a criação imediata de uma comissão independente, com prazos claros para apresentação de resultados e publicização de relatórios. A líder da Aliança Democrática (DA), Helen Zille, declarou que “sem transparência não há governação legítima”.
Impacto Econômico: Rand em Queda e Riscos de Crédito
Em 7 de julho de 2025, o rand sul‑africano caiu cerca de 1 % para 17,7550 por dólar, em reação ao anúncio de tarifas de 10 % pelo presidente dos EUA a países do BRICS que apoiassem políticas “anti‑americanas”. O rendimento do título soberano 2035 chegou a 9,83 %, nove pontos-base acima do fechamento anterior.
Adicionalmente, em 4 de julho, a agência de classificação Fitch Ratings revisou a perspectiva de crédito da África do Sul de Estável para Negativa, mantendo o rating em ‘BBB-‘ e citando infighting político, elevado endividamento público e baixo crescimento econômico como principais fatores.
Análise: Desafios à Governança e ao Crescimento
- Fragilização Institucional: interferências políticas reduzem a imparcialidade das investigações e minam a confiança pública.
- Coalizão em Xeque: tensão crescente com a Aliança Democrática (DA), principal aliada no Parlamento, pode atrasar reformas cruciais.
- Vulnerabilidade Econômica: volatilidade cambial e risco de maiores barreiras comerciais pressionam a inflação e elevam o custo da dívida externa.
- Imagem Internacional: escândalos e ameaças de tarifas podem deter investimentos e parcerias estratégicas, sobretudo no contexto dos BRICS.
Caminhos de Mitigação
- Investigação Independente: comissão autônoma, com participação de entidades civis e prazo definido.
- Diálogo Nacional: amplo engajamento de partidos e sociedade civil para consenso em segurança e recuperação econômica.
- Estabilidade Macroeconômica: medidas fiscais e monetárias coordenadas para conter a desvalorização do rand e controlar a inflação.
- Fortalecimento do Judiciário: garantia de autonomia plena às instituições responsáveis pela persecução de crimes políticos.
Conclusão
A conjuntura recente expõe fissuras no contrato social sul‑africano, enquanto o país busca papel de liderança entre economias emergentes. A capacidade de Cyril Ramaphosa de conduzir apurações transparentes e de restaurar a confiança dos mercados será determinante para o futuro político e econômico da nação.
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