
Conforme falamos no artigo anterior Bhumjaithai abandona coalizão de Paetongtarn Shinawatra em meio a crise diplomática com o Camboja, a saída do maior parceiro de governo criou um vácuo de poder que agora se aprofunda com a iminente exigência de renúncia por parte do United Thai Nation (UTN). Nesta nova fase da crise, somam‑se petições judiciais, protestos marcados para 28 de junho e sinalizações de descontentamento militar, tudo isso enquanto a premiê busca costurar apoios e demonstrar liderança em questões de soberania.
Ameaça de Colapso da Maioria Parlamentar
Após a desistência do Partido Bhumjaithai, a coalizão de Paetongtarn depende crucialmente do UTN, que anunciou que só permanecerá no governo se a premiê se afastar do cargo.
O Partido Democrata renovou seu apoio, mas sua bancada isolada dificilmente compensaria a perda de até 30 votos que o UTN detém.
Nos bastidores, discute‑se a entrega de ministérios estratégicos ao UTN como moeda de troca; no entanto, tal manobra pode ser vista como clientelista e agravar a percepção de fragilidade do Pheu Thai
Reivindicações do UTN por Reforma Ministerial
Em 16 de junho, 22 deputados do UTN, liderados pelo vice‑líder Suchart Chomklin, protocolaram um ofício solicitando o “remanejamento imediato” dos ministérios sob sua cota, alegando falta de “integridade inquestionável” em algumas pastas.
A petição enfatiza que, sem essas mudanças, “o partido não vê condições éticas e políticas para seguir na coalizão”.
A resposta oficial do governo tem sido cautelosa, com Paetongtarn afirmando que está “aberta ao diálogo” mas sem confirmar qualquer alteração iminente no gabinete.
Pressões Econômicas e Comerciais
Com projeção de crescimento em torno de apenas 1% em 2025, o baht acumulou queda de 23,4% no ano, reflexo da incerteza política e de tarifas ameaçadas pelos EUA sobre exportações tailandesas.
A aprovação do orçamento de 3,78 trilhões de baht para 2026 corre risco de atraso, o que comprometeria investimentos em infraestrutura e projetos sociais essenciais para a retomada pós‑pandemia.
Crise Diplomática na Fronteira com o Camboja
O vazamento de um telefonema com o ex‑líder cambojano Hun Sen, em que Paetongtarn pedia moderação e criticava um general tailandês, gerou reação de 69 senadores que ajuizaram ações no Tribunal Constitucional e na agência anticorrupção.
Em 19 de junho, para reafirmar sua postura nacionalista, a premiê visitou tropas em Ubon Ratchathani, na “Emerald Triangle”, distribuindo mantimentos e posando ao lado do general Boonsin Padklang, alvo de sua crítica anterior.
Analistas lembram que a influência militar na política tailandesa, legada por 13 golpes desde 1932, torna vital o apoio das Forças Armadas para qualquer governo se manter estável.
Clima de Protestos e Sentimento Público
Grupos ativistas já convocaram manifestações em Bangkok a partir de 28 de junho, apontando a “ameaça à integridade nacional” como estopim para pedir a saída de Paetongtarn.
Uma pesquisa recente mostrou que 51,2% dos tailandeses acreditam que a premiê permanecerá no cargo até o fim de 2025, mas 39,9% preveem aumento da turbulência política, e 15,3% não descartam dissolução do Parlamento.
O turismo, um dos pilares da economia, já sente os efeitos dos protestos planejados, elevando a apreensão de empresários e investidores.
Alternativas e Cenários Futuros
Renúncia negociada: poderia aplacar o UTN, mas seria vista como fraqueza e estimularia a oposição a exigir eleições antecipadas.
Grande reforma ministerial: atende às exigências do UTN e tenta preservar a coalizão, mas arrisca acusações de troca de favores.
Apostar em resultados econômicos rápidos: controles de inflação e geração de emprego poderiam reconquistar a confiança popular, mas demandam tempo e capital político que Paetongtarn parece não ter de sobra.
Eleições antecipadas: última opção, mas daria ao Partido do Povo a chance de capitalizar o descontentamento, possivelmente reconfigurando o mapa político.
Conclusão
Paetongtarn Shinawatra vive o ápice de sua provação política, com cada movimento rigorosamente calculado entre pressões de aliados que agora se mostram hostis, adversários de olho em sua queda e um eleitorado ansioso por soluções. O desfecho desta crise determinará não apenas o futuro do Pheu Thai e do legado Shinawatra, mas também a trajetória democrática e econômica da Tailândia nos próximos anos.
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