Entre a Renúncia e o Confronto: O Futuro Incerto de Paetongtarn Shinawatra

Primeira-ministra da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, falando durante coletiva de imprensa na Casa do Governo, em Bangcoc, em 19 de maio de 2025.
Primeira-ministra da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, durante coletiva de imprensa na Casa do Governo, Bangkok, 19 de maio de 2025. REUTERS/Athit Perawongmetha/File Photo

Paetongtarn Shinawatra, filha do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, enfrenta sua maior crise desde assumir o cargo em agosto de 2024. O vazamento de uma ligação telefônica com o ex-líder cambojano Hun Sen, em 18 de junho de 2025, desencadeou a retirada de partidos-chave da coalizão, protestos de rua e instabilidade nos mercados financeiros. Apesar dos apelos pela renúncia e rumores de dissolução do parlamento, a premiê afirma que permanecerá no cargo para “resolver as crises do país”.

Paetongtarn pediu desculpas pela divulgação do áudio, mas não comentou publicamente sobre os desdobramentos políticos, optando por reafirmar sua permanência no Executivo. O episódio reacendeu tensões históricas entre civis e militares na Tailândia, enquanto analistas apontam riscos de paralisação legislativa e até intervenção judicial ou militar para resolver o impasse.

O Vazamento e Suas Consequências

Em 18 de junho de 2025, um trecho de nove minutos de uma conversa privada de Paetongtarn com Hun Sen foi divulgado, mostrando-a em tom subserviente e criticando um comandante militar tailandês. O conteúdo gerou revolta nacional e levou o Ministério das Relações Exteriores a convocar o embaixador cambojano para prestar esclarecimentos. A oposição acusou a premiê de comprometer a soberania nacional, agravando ainda mais o embate político.

Desmonte da Coalizão Governista

No dia seguinte ao vazamento, a Bhumjaithai Party anunciou sua saída da coalizão, citando “ofensa à dignidade nacional” e perda de confiança na liderança de Paetongtarn. Logo depois, a United Thai Nation Party condicionou seu apoio à renúncia da premiê, deixando o governo sem maioria clara na Câmara dos Representantes.

Mobilização Popular e Protestos

Grupos de ativistas como o People and Student Network for the Reform of Thailand (NSPRT) e o Dhamma Army organizaram protestos em frente à sede do Executivo. Para 28 de junho, está marcado um grande ato no Victory Monument, onde manifestantes exigirão a renúncia de Paetongtarn, ampliando a pressão social e o potencial de confronto com as forças de segurança.

Impactos Econômicos e Diplomáticos

A instabilidade política refletiu-se na Bolsa de Valores de Bangcoc, com o índice SET atingindo em 20 de junho seu menor patamar em cinco anos, diante do temor de paralisação legislativa e de possíveis sanções econômicas ─ inclusive um eventual rebaixamento de relações diplomáticas com o Camboja.

Ecos Históricos e Possíveis Cenários Futuros

A crise atual remete aos golpes de Estado de 2006 e 2014, ambos envolvendo governos Shinawatra. Especialistas apontam três cenários principais para o desenrolar dos próximos meses:

  • Intervenção Judicial ou Militar: Tribunal Constitucional ou Forças Armadas podem intervir para restaurar a ordem, seguindo precedentes históricos.
  • Manutenção do Governo: Paetongtarn negocia com partidos menores, adia votações sensíveis e sobrevive até o fim do mandato.
  • Eleições Antecipadas: Pressionada pela falta de apoio, convoca pleito para reconquistar uma base legislativa sólida.

Conclusão

Ao recusar renúncia ou dissolução do parlamento, Paetongtarn Shinawatra aprofunda um impasse institucional que põe à prova a resiliência da democracia tailandesa. Com a coalizão fragilizada e a sociedade mobilizada, as próximas semanas serão decisivas para definir se o país seguirá por vias eleitorais, judiciais ou até mesmo militares, moldando o futuro político e a estabilidade regional da Tailândia.

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