
Em 18 de junho de 2025, a premiê da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, sofreu um duro revés político quando o Bhumjaithai Party — segunda maior legenda de seu governo, com 69 assentos no Parlamento — anunciou sua retirada da coalizão. O movimento, motivado pelo vazamento de uma ligação telefônica entre Paetongtarn e o ex‑primeiro‑ministro cambojano Hun Sen, deixa o governo com uma maioria fragilíssima e reacende dúvidas sobre sua capacidade de estabilizar a economia e lidar com a disputa territorial na fronteira com o Camboja.
A saída do Bhumjaithai e a matemática parlamentar
- Motivação oficial: O Bhumjaithai justificou sua decisão alegando que o conteúdo da ligação — em que Paetongtarn pedia a Hun Sen que desconsiderasse “vozes internas” na Tailandia — comprometeu a “integridade e honra nacionais” e enfraqueceu o país perante o exército.
- Impacto numérico: Antes da saída, a coalizão dispunha de apenas 255 dos 500 assentos, pouco acima dos 251 exigidos para a maioria. Sem os 69 parlamentares do Bhumjaithai, o governo agora soma apenas 186 cadeiras, ficando dependente de apoios eventuais para aprovar qualquer medida legislativa.
O estopim: disputa de fronteira com o Camboja
- Escalada no campo de batalha: Em maio, a morte de um soldado cambojano na área contestada de Chong Bok levou a desdobramentos militares de ambos os lados, com envio de tropas e blindados às províncias de Surin e Sisaket. Enquanto generais tailandeses adotavam tom beligerante, Paetongtarn mantinha aposta na via diplomática.
- O vazamento do telefonema: Na conversa de 15 de junho, Paetongtarn ressaltou a pressão interna sobre sua gestão e criticou um general que defendia endurecimento militar, o que foi visto pelo Bhumjaithai como traição aos interesses da nação.
Consequências políticas internas
- Confiabilidade abalada: Fontes em Bangkok afirmam que, desde o início de junho, ministros do Bhumjaithai já vinham adotando postura de distanciamento, chegando frequentemente atrasados a reuniões cruciais sobre a crise fronteiriça.
- Risco de desintegração da coalizão: Analistas políticos alertam que outras legendas menores podem seguir o exemplo do Bhumjaithai, inviabilizando por completo a governabilidade de Paetongtarn. Até o momento, nenhum porta‑voz oficial do governo retornou pedidos de comentário.
Repercussões econômicas e diplomáticas
- Ameaça de tarifas americanas: A Tailândia enfrenta lento crescimento pós‑pandemia e negociações delicadas com os EUA, que condicionam a redução de tarifas sobre produtos eletrônicos a compromissos de abertura de mercado. Um governo instável enfraquece sua posição nas conversas.
- Equilíbrio regional: Um posicionamento militar mais duro pode levar Camboja e Vietnã ainda mais para a órbita chinesa, complicando a tradicional política de neutralidade de Bangkok dentro da ASEAN. A aposta diplomática de Paetongtarn busca evitar essa polarização.
Perspectivas e cenários futuros
- Reaproximação com aliados menores: Paetongtarn poderá oferecer cargos‑chave a pequenos partidos ou independentes, numa tentativa de recompor a maioria.
- Eleições antecipadas: Caso não consiga apoio, poderá dissolver o Parlamento e convocar urnas, risco que interessa principalmente aos militares e conservadores.
- Intervenção militar: Apesar de improvável num primeiro momento, a forte presença das Forças Armadas na crise de fronteira mantém aberta a possibilidade de um novo golpe — cenário sempre presente no jogo político tailandês.
Conclusão
A saída do Bhumjaithai Party expõe a tênue sustentação de Paetongtarn Shinawatra no poder e aprofunda as dúvidas sobre sua capacidade de resolver a crise econômica e diplomática que ameaça a estabilidade da Tailândia. Enquanto o país observa com apreensão, a premiê precisará recompor alianças e demonstrar eficácia governamental, sob o risco de ver sua curta trajetória política naufragar diante da histórica influência militar no país.
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