DA retira-se do Diálogo Nacional em meio a crise na coligação governamental

John Steenhuisen, líder da oposição e Ministro da Agricultura da África do Sul, chegando à Prefeitura da Cidade do Cabo antes do discurso do Estado da Nação de Cyril Ramaphosa, fevereiro de 2025.
John Steenhuisen, líder da oposição DA e Ministro da Agricultura, chega à Prefeitura da Cidade do Cabo antes do discurso do Estado da Nação do presidente Cyril Ramaphosa em fevereiro de 2025. Foto: REUTERS/Nic Bothma

Em 28 de junho de 2025, a Democratic Alliance (DA), principal partido de oposição da África do Sul, anunciou sua retirada do processo de “diálogo nacional” promovido pelo presidente Cyril Ramaphosa para unificar o país após as eleições de 2024. A decisão ocorre na esteira da demissão do deputado-ministro Andrew Whitfield, membro da DA, por ter realizado uma viagem não autorizada aos Estados Unidos. Embora o partido tenha permanecido formalmente no Governo de Unidade Nacional (GNU), a medida expõe a profunda desconfiança entre a DA e o Congresso Nacional Africano (ANC) e pode afetar a estabilidade política e econômica do país.

Contexto e origem do Diálogo Nacional

Após a perda da maioria parlamentar pelo ANC nas eleições de maio de 2024, o presidente Ramaphosa lançou, em fevereiro de 2025, um “diálogo nacional” com partidos e sociedade civil para enfrentar desemprego, criminalidade e desigualdade. A aliança com a DA foi histórica, mas as divergências ideológicas — entre o centro-esquerdista ANC e o liberal-conservador DA — logo tornaram-se um empecilho ao avanço de pautas conjuntas.

Demissão de Andrew Whitfield e reações

Em 26 de junho de 2025, Ramaphosa demitiu Andrew Whitfield do cargo de deputy minister of trade, industry and competition, alegando violação das normas de autorização de viagens ministeriais. A DA contestou o motivo, apresentando comunicado em que Whitfield comprova ter solicitado autorização formal à Presidência em 12 de fevereiro e recebido silêncio como resposta. John Steenhuisen, líder da DA, acusou o presidente de adotar “padrões duplos”, punindo aliados competentes enquanto protege ministros do ANC implicados em corrupção. Para uma análise mais aprofundada sobre o caso e seus desdobramentos, veja o artigo: Ramaphosa demite vice-ministro do Comércio do DA: repercussões e contexto político.

Retirada do Diálogo Nacional e manutenção no GNU

Em coletiva em 28 de junho, a Federal Executive da DA qualificou o diálogo como “desperdício de tempo e recursos” e estipulou um ultimato de 48 horas para que Ramaphosa demitisse ministros acusados de corrupção; caso contrário, a DA abandonaria o processo. Apesar das tensões, o partido optou por manter assento no GNU para evitar colapso institucional e garantir a aprovação de medidas orçamentárias críticas no Parlamento.

Desdobramentos e novas informações

  • Orçamento de 2025: Em fevereiro, o orçamento nacional foi adiado devido a impasse na coligação sobre aumento de VAT; o episódio antecipou o clima de discórdia que culminou na saída do diálogo.
  • Divisão interna da DA: Uma ala dentro da DA já vinha defendendo a saída do GNU, temendo perda de identidade partidária; sem consenso, a decisão de permanecer no governo foi considerada temporária por alguns dirigentes.
  • Expectativa de nomeação: Ramaphosa solicitou formalmente que a DA indique um substituto para Whitfield, sinalizando disposição em manter equilíbrio de forças no gabinete.

Impactos e cenários futuros

  • Para o GNU: A retirada pode dificultar a aprovação de reformas econômicas e medidas de combate à desigualdade, já que o ANC depende dos 87 assentos da DA no Parlamento.
  • Na opinião pública: Pesquisas preliminares indicam queda de confiança na coalizão; eleitores buscam alternativas em partidos menores, o que pode fragmentar ainda mais o Legislativo.
  • No plano internacional: Investidores monitoram o desenlace, temendo volatilidade do rand e possíveis rebaixamentos de rating caso o impasse persista.

Conclusão

A retirada da DA do diálogo nacional reflete uma crise de confiança que ameaça a coesão do Governo de Unidade Nacional. Embora o partido tenha permanecido formalmente na coligação, a condição imposta ao ANC e a retórica dura de Steenhuisen indicam que o acordo de 2024 requer renegociações urgentes. Para evitar paralisação legislativa e resguardar a governabilidade, será necessário restaurar canais de comunicação, aplicar mecanismos formais de resolução de conflitos previstos no Acordo de Intenções e, possivelmente, renovar composições ministeriais em busca de maior equilíbrio e legitimidade.

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