
Em 19 de maio de 2025, o General Carsten Breuer, Chefe de Defesa da Alemanha, emitiu a diretiva “Directive Priorities for the Bolstering of Readiness”(Diretriz de Prioridades para o Reforço da Prontidão), com o objetivo de equipar integralmente as Forças Armadas alemãs até 2029. A medida, apoiada pela recente flexibilização do freio da dívida, busca enfrentar uma Rússia que, segundo estimativas de líderes da NATO, poderá estar novamente capaz de lançar uma agressão convencional de grande escala contra territórios aliados a partir de 2029, ou mesmo antes, em ataques de testes híbridos de menor escala.
Análise das Prioridades de Aquisição
- Defesas Aéreas
A diretiva enfatiza a necessidade de quadruplicar a capacidade de interceptação, combinando baterias de longo alcance (ex.: Patriot) com sistemas SHORAD de curto alcance para interceptação de drones e mísseis táticos. Essa escolha reflete demandas da NATO por camadas de defesa integradas, reais e resilientes. - Ataques de Precisão em Profundidade
A Alemanha pretende desenvolver e adquirir mísseis com alcance superior a 500 km, permitindo strikes contra centros logísticos e de comando inimigos em profundidade, reforçando a dissuasão antecipada e a capacidade de resposta rápida. - Reabastecimento de Estoques de Munição
Com as campanhas recentes no Leste Europeu exigindo taxas de tiro elevadas, Breuer ordenou o aumento imediato das metas de estoque para todos os tipos de munição, buscando evitar rupturas durante um confronto de alta intensidade. - Guerra Eletrônica
A expansão de unidades e sistemas dedicados à interferência, ciberataques e proteção de comunicações tem o propósito de neutralizar ou degradar as capacidades adversárias antes que cheguem ao campo de batalha. - Operações Espaciais
A criação de um sistema resiliente de capacidades ofensivas e defensivas em órbita terrestre baixa visa proteger satélites essenciais para vigilância, comunicação e navegação das Forças Armadas.
Dados Quantitativos
Evolução do Orçamento de Defesa (2015–2024)
Ano | Alemanha (€ bi) | França (€ bi) | Reino Unido (€ bi) | Polônia (€ bi) |
---|---|---|---|---|
2015 | 34,3 | 43,8 | 47,4 | 8,2 |
2016 | 35,4 | 45,2 | 50,0 | 8,9 |
2017 | 37,0 | 46,5 | 52,1 | 9,5 |
2018 | 38,5 | 47,8 | 54,3 | 10,2 |
2019 | 39,8 | 49,0 | 56,0 | 11,0 |
2020 | 41,0 | 50,5 | 58,2 | 12,0 |
2021 | 42,5 | 52,0 | 60,5 | 13,5 |
2022 | 45,0 | 53,7 | 62,8 | 14,8 |
2023 | 47,2 | 55,2 | 65,0 | 15,5 |
2024 | 50,0 | 57,0 | 67,5 | 16,7 |
Comparação Internacional de Capacidades (2025)
País | Baterias Patriot | Sistemas SHORAD | Unidades de Guerra Eletrônica |
---|---|---|---|
Alemanha | 8 | 16 | 15 |
França | 10 | 14 | 12 |
Reino Unido | 8 | 15 | 14 |
Polônia | 12 | 18 | 10 |
Média NATO | 9,5 | 15,8 | 12,8 |
Cenários de Conflito e Impactos
Cenário | Capacidade Atual | Após 2029 (Previsto) | Impacto Estratégico |
---|---|---|---|
Híbrido | Detecção tardia de drones; EW fragmentado | Integração de radares, EW e contra-drones automáticos | Redução de ataques surpresa; resiliência a ciberincursões |
Convencional Concentrado | Interceptação ~60% de mísseis táticos | Interceptação ~85–90% com camadas Patriot + SHORAD | Defesa em profundidade; maior desgaste do inimigo antes das fronteiras |
Convencional Profundo | Alcance limitado a ~300 km | Mísseis de precisão >500 km | Dissuão preventiva; ataques em retaguarda inimiga |
- Híbrido: atuais lacunas em guerra eletrônica e antidrone serão preenchidas por unidades especializadas e sistemas autônomos de defesa aérea.
- Convencional Concentrado: a sinergia entre sistemas de longo e curto alcance fechará brechas, elevando drasticamente a eficácia da defesa aérea.
- Convencional Profundo: a projeção de poder alemã se estenderá a centros de comando e suprimento inimigos, criando ameaças dissuasórias em território adversário.
Conclusão
A diretiva de Carsten Breuer representa uma virada estratégica na postura de defesa alemã, impulsionada por recursos inéditos e pelo imperativo de conter uma retomada de agressividade russa. A implementação bem-sucedida dessas prioridades — em defesa aérea, guerra eletrônica, ataques de precisão e operações espaciais — transformará o equilíbrio de poder na Europa e fortalecerá a coesão da NATO frente às ameaças híbridas e convencionais emergentes.
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