Presidente do Panamá Alega que Trump Mentiu Sobre a “Reconquista” do Canal do Panamá

Presidente do Panamá, José Raul Mulino, faz um gesto durante uma coletiva de imprensa na Cidade do Panamá, Panamá, 13 de fevereiro de 2025. REUTERS/Enea Lebrun/Foto de arquivo.
José Raul Mulino, presidente do Panamá, durante coletiva de imprensa em 13 de fevereiro de 2025, na Cidade do Panamá. REUTERS/Enea Lebrun/Foto de arquivo.

Em um clima de tensão e reviravolta nas relações comerciais e geopolíticas, o presidente panamenho José Raúl Mulino declarou nesta quarta-feira que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mentiu ao afirmar que sua administração estaria “reconquistando” o Canal do Panamá. A afirmação de Trump, feita durante um discurso no Congresso, ganhou novos contornos após a divulgação de um acordo liderado pela firma norte-americana BlackRock para adquirir a maior parte do negócio portuário, avaliado em US$ 22,8 bilhões, pertencente ao conglomerado de Hong Kong CK Hutchison, que inclui ativos estratégicos localizados ao longo do Canal do Panamá.

O Contexto da “Reconquista” do Canal

Durante seu pronunciamento no Congresso, Trump afirmou que os Estados Unidos estariam “reconquistando” o Canal do Panamá. Essa expressão, usada para sugerir um retorno ao controle ou influência sobre uma das rotas comerciais mais estratégicas do mundo, causou grande repercussão. Historicamente, o Canal do Panamá foi transferido para o controle panamenho em 1977, após os Tratados Torrijos-Carter, que garantiram a soberania do Panamá sobre essa importante via de navegação.

A escolha do termo “reconquistar” pelos Estados Unidos foi amplamente criticada, pois ignora décadas de reconhecimento internacional da soberania panamenha sobre o canal e pode ser interpretada como uma tentativa de reverter um acordo histórico estabelecido em prol da estabilidade regional.

A Resposta do Presidente Panamenho

Em resposta, o presidente José Raúl Mulino afirmou categoricamente que Trump estava mentindo ao utilizar o termo “reconquistar”. Mulino declarou que o Canal do Panamá é, e sempre foi, patrimônio soberano do Panamá, e que não há nenhuma iniciativa governamental americana para reaver o controle desse ativo estratégico.

Essa declaração não apenas reafirma a posição do Panamá em relação à sua soberania, mas também serve como um forte recado para que os Estados Unidos revisem a retórica que pode afetar negativamente as relações diplomáticas com os países da região. Para o governo panamenho, tais afirmações podem ser vistas como uma afronta à história e à identidade nacional.

A Nova Operação de BlackRock e CK Hutchison

A polêmica em torno das declarações de Trump ganhou novos contornos com o anúncio, na terça-feira, de um acordo liderado pela firma norte-americana BlackRock para comprar a maior parte do negócio portuário de CK Hutchison, avaliado em US$ 22,8 bilhões. Esse acordo inclui ativos localizados ao longo do Canal do Panamá, o que reacende debates sobre a influência e o controle de infraestruturas estratégicas na região.

Embora Trump tenha utilizado sua retórica para sugerir uma “reconquista” do canal, o acordo em questão reflete uma dinâmica completamente diferente: trata-se de uma transação comercial que visa ampliar a presença de investidores americanos em ativos portuários, sem qualquer implicação direta sobre a soberania panamenha.

Implicações Geopolíticas e Econômicas

Soberania e Relações Diplomáticas

A afirmação de Trump sobre “reconquistar” o Canal do Panamá contrasta fortemente com a realidade histórica e jurídica do canal. Enquanto os Estados Unidos mantêm relações econômicas e de cooperação com o Panamá, qualquer tentativa de retórica que questione a soberania panamenha pode gerar atritos diplomáticos e prejudicar parcerias estratégicas. O governo panamenho, ao rechaçar tal alegação, reafirma seu compromisso com a manutenção do status quo, que tem garantido a fluidez do comércio global e a estabilidade regional.

O Papel dos Investimentos Estrangeiros

O acordo de BlackRock com a CK Hutchison demonstra que os Estados Unidos continuam interessados em expandir sua influência no setor portuário, mas através de mecanismos puramente comerciais. A aquisição dos ativos portuários, que incluem operações próximas ao Canal do Panamá, visa potencializar investimentos e fortalecer a competitividade dos portos norte-americanos. No entanto, é crucial diferenciar a expansão de investimentos — que ocorre no âmbito do mercado financeiro global — da reivindicação de soberania sobre infraestruturas que pertencem a outros países.

Reflexos no Comércio Internacional

A retórica agressiva de Trump em relação às tarifas e à “reconquista” do Canal também se insere em um contexto mais amplo de guerra comercial. Ao afirmar que os EUA imporiam tarifas recíprocas para combater práticas tarifárias consideradas abusivas, Trump tenta reequilibrar, segundo sua visão, relações comerciais com países como Brasil, Índia, e outros. Essa estratégia, no entanto, corre o risco de desencadear retaliações e aumentar a instabilidade nos mercados globais, especialmente em setores estratégicos como o transporte marítimo e a logística, nos quais o Canal do Panamá desempenha um papel fundamental.

Conclusão

As declarações de Donald Trump sobre a “reconquista” do Canal do Panamá ilustram a complexidade e a sensibilidade que envolvem questões de soberania e influência geopolítica. Enquanto o presidente dos EUA tenta usar uma retórica agressiva para justificar suas políticas comerciais e tarifárias, o presidente panamenho José Raúl Mulino reafirma que o Canal do Panamá continua sendo um ativo soberano e inegociável para o Panamá.

A recente operação liderada pela BlackRock para adquirir ativos portuários de CK Hutchison, que inclui propriedades ao longo do canal, adiciona uma camada de complexidade à questão, evidenciando que, na arena internacional, o jogo de poder se dá tanto por meio de transações econômicas quanto por meio de discursos políticos. No final, o episódio ressalta a importância de respeitar acordos históricos e a soberania nacional, elementos fundamentais para a manutenção da estabilidade e da cooperação no comércio global.

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