Tensão no G7 Evidencia Divisões Enquanto Putin e Xi Discutem ‘Arestas’ após Cúpula

Presidente russo Vladimir Putin aperta a mão do presidente chinês Xi Jinping durante recepção no Kremlin, em Moscou, no Dia da Vitória de 2025.
O presidente russo Vladimir Putin cumprimenta o presidente chinês Xi Jinping durante uma recepção no Kremlin, em Moscou, no Dia da Vitória, que marcou os 80 anos da derrota da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial — 9 de maio de 2025. (Foto: Sputnik/Mikhail Metzel/Pool via REUTERS)

Em uma conversa telefônica realizada nesta quinta‑feira, os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jinping, da China, avaliaram as “arestas” — isto é, as fricções internas — surgidas entre os líderes do Grupo dos Sete (G7) durante a cúpula realizada no último fim de semana no Canadá. Segundo o Kremlin, ambos enxergaram discordâncias marcantes sobretudo em torno da guerra na Ucrânia e da forma como os Estados Unidos, sob o presidente Donald Trump, priorizaram a crise Israel‑Irã em detrimento do encontro com Volodymyr Zelensky.

Fricções no G7: Divergências sobre a Ucrânia e Desvio de Foco

A cúpula do G7, realizada entre 14 e 16 de junho em Alberta, tinha na agenda central o apoio à Ucrânia contra a invasão russa iniciada em 2022. Enquanto países como Canadá, França e Alemanha defenderam um endurecimento das sanções e aumento do envio de armamentos a Kiev, o presidente Trump questionou a eficácia de manter a Rússia excluída do grupo e sugeriu reabrir espaço para Moscou — chegando a propor também a inclusão da China em futuras edições do encontro.

A saída antecipada de Trump, alegando a necessidade de lidar com o agravamento da crise entre Israel e Irã, não apenas impediu uma reunião bilateral com Zelensky, mas enviou um sinal de falta de prioridade americana ao conflito europeu, aprofundando as divergências internas.

Ataque à Kiev e Críticas à Resposta Internacional

Na mesma noite em que os líderes do G7 se reuniam, a Rússia lançou um dos ataques mais mortíferos deste ano contra Kiev, empregando 175 drones, 14 mísseis de cruzeiro e dois balísticos. O saldo foi de ao menos 28 mortos e 134 feridos, entre eles um cidadão americano.

Ucranianos criticaram a declaração final da cúpula — que evitou condenar Moscou com a firmeza esperada — e lamentaram a falta de novas promessas de armamentos dos EUA, já que parte dos recursos americanos foi redirecionada para a proteção de aliados no Oriente Médio. Esse episódio reforçou a percepção de desconexão entre as prioridades americanas e as urgências de Kiev.

Alinhamento Sino‑Russo e Agenda BRICS

Durante a chamada de aproximadamente uma hora, Putin e Xi também trataram da escalada Israel‑Irã, reforçando um plano de ação conjunto no Conselho de Segurança da ONU para frear eventuais iniciativas ocidentais que visem sancionar Teerã ou apoiar Tel Aviv.

Além disso, os dois líderes detalharam preparativos para a próxima cúpula do BRICS, em julho, no Brasil. Destacaram, em especial, uma proposta de criação de uma plataforma de investimento voltada ao “Sul Global” — mecanismo que busca rivalizar com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, ampliando o papel de Pequim e Moscou na direção de projetos de infraestrutura em economias emergentes.

Implicações Estratégicas: Desafiando a Coesão Ocidental

Ao expor publicamente as fissuras do G7, Moscou e Pequim procuram minar a credibilidade das instituições ocidentais e enfatizar que a coesão transatlântica não resiste a prioridades divergentes. A proposta chinesa‑russa de financiar o “Sul Global” reforça a narrativa de alternativas aos modelos de governança e financiamento dominados pelo Ocidente.

Em resposta, o G7 divulgou, simultaneamente, sanções secundárias contra empresas chinesas que fornecem semicondutores à Rússia e anunciou compromissos para regulamentar a inteligência artificial, sinalizando uma tentativa de restauração da unidade através de medidas concretas contra aliados de Moscou.

Perspectivas: Da Cúpula Canadense ao Encontro em Brasília

O choque de perspectivas no Canadá prenuncia desafios futuros para o G7, especialmente se os EUA mantiverem uma postura de duplo foco entre Europa e Oriente Médio. Por outro lado, a convergência sino‑russa deverá ganhar corpo em Brasília, onde se definirá o escopo da nova plataforma de investimentos dos BRICS.

O desfecho desses dois processos — a tentativa de preservação da frente ocidental versus o fortalecimento de um bloco alternativo — definirá o equilíbrio de poder global nos próximos meses, colocando à prova a capacidade de ambos os agrupamentos de traduzir retórica em ação efetiva.

Conclusão

O telefonema entre Putin e Xi não foi apenas uma troca de impressões diplomáticas, mas um reflexo de uma reconfiguração geopolítica em curso. Enquanto o G7 luta para manter coesão diante de prioridades conflitantes, Rússia e China avançam com propostas concretas para moldar uma nova ordem multipolar. A reunião do BRICS em Brasília será, portanto, mais do que um encontro entre economias emergentes — será um palco onde se decide parte do futuro equilíbrio global.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*