França e Arábia Saudita apresentam proposta para reativar solução de dois Estados no conflito israelo-palestino

lustração de mesa de negociações com microfones e bandeiras da França, Arábia Saudita, Israel e Palestina, representando proposta diplomática para solução de dois Estados no conflito israelo-palestino.
Fotomontagem diplomática: proposta conjunta da França e Arábia Saudita para reativar a solução de dois Estados no conflito israelo-palestino.

A busca por uma solução duradoura para o conflito israelo-palestino ganhou um novo capítulo com a apresentação conjunta de uma proposta elaborada por França e Arábia Saudita, cujo objetivo é recolocar a solução de dois Estados no centro das negociações internacionais. O plano surge em um momento de forte escalada militar em Gaza, agravamento da crise humanitária e crescente pressão diplomática sobre Israel devido ao reconhecimento internacional da Palestina por países como Reino Unido, Austrália e Canadá.

O conteúdo da proposta

Segundo informações preliminares, a proposta franco-saudita contém cinco eixos centrais:

  1. Cessar-fogo imediato entre Israel e Hamas, mediado por uma coalizão internacional.
  2. Controle internacional inicial sobre partes de Gaza e da Cisjordânia, possivelmente com participação da ONU e da Liga Árabe, a fim de estabilizar a região.
  3. Liberação de reféns israelenses em troca da flexibilização no bloqueio e libertação de prisioneiros palestinos.
  4. Retirada gradual de forças israelenses de territórios ocupados desde 1967, em consonância com resoluções da ONU.
  5. Passos concretos rumo a um Estado Palestino viável, com Jerusalém Oriental como futura capital, algo que tem sido defendido por parte da comunidade internacional.

O papel da França e da Arábia Saudita

A França, tradicionalmente engajada na diplomacia do Oriente Médio, busca recuperar protagonismo em um cenário no qual os EUA têm perdido influência. Para Paris, apoiar uma solução multilateral é também uma forma de reforçar sua imagem de mediador confiável entre Ocidente e países árabes.

Já a Arábia Saudita, que recentemente ensaiou aproximação com Israel em negociações indiretas mediadas por Washington, aposta em um reposicionamento estratégico: deseja mostrar que pode ser peça-chave na pacificação regional, mas sem abandonar a defesa da causa palestina, que tem enorme peso político no mundo árabe e islâmico.

Contexto histórico

A ideia de dois Estados não é nova. Desde os Acordos de Oslo (1993), passando pelo Road Map para a Paz (2003) e pela Iniciativa Árabe de Paz (2002), diversas tentativas de mediação internacional buscaram garantir um Estado Palestino ao lado de Israel. No entanto, impasses sobre fronteiras, Jerusalém, assentamentos israelenses e o retorno de refugiados palestinos impediram avanços significativos.

A proposta atual, embora diferente em forma, retoma os princípios básicos defendidos há décadas: segurança para Israel e autodeterminação para os palestinos.

Repercussões iniciais

A proposta gerou reações diversas:

  • Israel rejeitou de imediato qualquer plano que envolva retirada de territórios ou divisão de Jerusalém, afirmando que tais pontos comprometem sua segurança.
  • Autoridade Palestina recebeu positivamente o anúncio, embora ressalte que a credibilidade de qualquer iniciativa dependerá da pressão efetiva sobre Israel.
  • Hamas declarou que só apoiaria o plano se houvesse garantias reais de fim do bloqueio e liberdade para Gaza, além da libertação em massa de prisioneiros.
  • Estados Unidos, até o momento, adotaram postura cautelosa, sem endossar abertamente a proposta, mas sinalizando apoio a esforços multilaterais desde que não enfraqueçam a segurança israelense.
  • ONU e União Europeia saudaram a iniciativa, destacando a necessidade de retomar negociações políticas, ausentes há mais de uma década.

Impacto regional

A proposta também repercute em outros países-chave do Oriente Médio:

  • Irã tende a rejeitar o plano, por considerar qualquer acordo internacional que envolva Israel como uma legitimação de sua existência.
  • Egito, historicamente mediador entre Israel e Hamas, pode ver na proposta uma oportunidade de dividir responsabilidades com outros atores regionais.
  • Turquia deve apoiar politicamente a ideia, buscando reafirmar sua influência no mundo islâmico.

Essas reações mostrarão se a proposta pode ganhar fôlego regional ou se ficará restrita ao campo diplomático europeu e árabe-saudita.

Análise: possibilidades e desafios

Apesar de ousada, a proposta enfrenta desafios estruturais:

  • Desconfiança mútua: décadas de negociações fracassadas tornaram difícil qualquer concessão entre as partes.
  • Fragmentação política palestina: a divisão entre Hamas (Gaza) e Autoridade Palestina (Cisjordânia) dificulta a formação de uma frente unificada.
  • Cenário regional: o Oriente Médio vive reacomodações de poder, com múltiplos atores influenciando diretamente o tabuleiro político.
  • Dinâmica interna de Israel: o atual governo, de linha dura, é avesso a concessões territoriais e enfrenta forte pressão de setores que defendem a anexação permanente da Cisjordânia.

Por outro lado, há fatores que podem favorecer o avanço:

  • Crescente isolamento diplomático de Israel diante de novos reconhecimentos internacionais da Palestina.
  • Pressão da opinião pública mundial, sensibilizada pelo agravamento da crise humanitária em Gaza.
  • Interesse de potências médias, como França e Arábia Saudita, em equilibrar o jogo geopolítico diante da retração americana.

Conclusão

A proposta de Paris e Riad pode não resultar em implementação imediata, mas já cumpre um papel essencial: recoloca a solução de dois Estados no centro do debate internacional.

Com um Oriente Médio mergulhado em violência e deslocamentos forçados, a diplomacia franco-saudita lança uma mensagem clara: ainda há espaço para negociações políticas. Resta saber se a proposta terá força suficiente para romper o ciclo de desconfiança e violência que há décadas impede a concretização do sonho de dois Estados — e transformar uma ideia antiga em uma paz duradoura.

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