
Na manhã de quarta‑feira, drones ucranianos realizaram ataques contra o espaço aéreo de Moscou, forçando o fechamento temporário da maioria dos aeroportos da capital russa, poucas horas antes da chegada do presidente chinês Xi Jinping. A ofensiva, que já se estendia por três dias, simboliza a capacidade de projeção de força de Kiev e representa um desafio direto ao aparato de segurança russo.
Contexto geopolítico e simbólico
A visita de Xi Jinping — maior comprador de petróleo e gás russos e parceiro estratégico que ajuda Moscou a contornar sanções ocidentais — foi promovida pelo Kremlin como demonstração de solidariedade com Vladimir Putin. Xi está convidado para o desfile do 9 de maio, quando se celebram os 80 anos da vitória sobre a Alemanha nazista. Sua presença oferece a Putin um reforço diplomático significativo, em momento em que a Rússia busca provar que não está isolada no cenário global.
Entretanto, o ataque de drones expôs fragilidades na defesa aérea russa e levantou dúvidas sobre a segurança do cerimonial. Enquanto Pequim apela para negociações de paz e acusa os EUA de “alimentar o conflito” com fornecimento de armas, Kiev mostra sua determinação em levar a guerra ao solo russo.
Impacto imediato nos aeroportos e na segurança do evento
De acordo com o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, pelo menos 14 drones foram interceptados pelas defesas antiaéreas nas últimas 24 horas, mas não antes de provocarem o fechamento dos terminais de Sheremetyevo, Domodedovo e Vnukovo, resultando em dezenas de cancelamentos e atrasos — um transtorno sem precedentes em anos de tensão.
O Serviço Federal de Segurança (FSB) reforçou patrulhas terrestres e aéreas, instalou sistemas móveis de radar e declarou uma operação antiterrorismo para garantir a integridade das celebrações do Dia da Vitória. Fontes militares russas afirmam que “todas as medidas necessárias” foram tomadas para proteger chefes de Estado convidados.
Reações diplomáticas
- China: O porta‑voz do Ministério das Relações Exteriores se limitou a pedir que “nenhuma ação leve a uma escalada de tensões” e não comentou diretamente o ataque, alinhando‑se à postura de neutralidade estratégica de Pequim.
- Ucrânia: Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores ucraniano exortou países neutros a não enviarem tropas ao desfile de 9 de maio, argumentando que tal participação contradiz declarações de neutralidade — uma referência velada à guarda chinesa.
- União Europeia: Em nota de 7 de maio de 2025, o Alto Representante da UE para Política Externa, Josep Borrell, condenou o ataque de drones em Moscou, ao mesmo tempo em que apelou por moderação de todos os lados e reforçou apoio à soberania ucraniana, sinalizando possível aumento de assistência militar a Kiev para defesa aérea .
Implicações de longo prazo
- Capacidade ucraniana: Atingir Moscou demonstra avanço em tecnologia de drones e coordenação operacional, elevando o moral de Kiev e seus aliados.
- Credibilidade russa: A sucessão de interceptações, embora eficaz, evidencia brechas na vigilância do espaço aéreo, podendo minar a narrativa de controle total.
- Parceria sino‑russa: Mesmo sob risco, Xi segue com a agenda, assinando novos acordos de energia e infraestrutura que reforçam a interdependência econômica entre os dois países.
- Cenário europeu: O posicionamento da UE, agora mais vocal, pode acelerar envio de sistemas antiaéreos para a Ucrânia, alterando o equilíbrio no front.
Análise de especialistas
- Yun Sun (Stimson Center): “China e Rússia usarão o desfile para se colocar como baluartes da ordem internacional contra o unilateralismo americano.”
- Maria Zakharova (Ministério das Relações Exteriores da Rússia): “A visita de Xi é um dos eventos centrais nas relações russo‑chinesas em 2025, consolidando nossa aliança estratégica.”
Conclusão
O ataque de drones ucranianos a Moscou, justamente na véspera da visita de Xi Jinping, transcende o aspecto militar e adquire forte carga política. É ato de pressão de Kiev e teste de resiliência da segurança russa. Para Putin, a vinda de Xi representa um trunfo diplomático; para Xi, reafirmação de uma parceria que desafia o Ocidente. Num mundo cada vez mais multipolar, o episódio ressalta como o conflito ucraniano reverbera diretamente no equilíbrio geopolítico global.
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