Duterte Busca Libertação Provisória no TPI: Análise do Pedido e Suas Implicações

Rodrigo Duterte aparece em tela durante audiência no Tribunal Penal Internacional em Haia, 14 de março de 2025.
Ex-presidente das Filipinas Rodrigo Duterte em audiência no Tribunal Penal Internacional, Haia, 14 de março de 2025. Foto: Peter Dejong/Pool via REUTERS.

Em 13 de junho de 2025, o ex‑presidente das Filipinas Rodrigo Duterte, detido em Haia por acusações de crimes contra a humanidade, protocolou junto à Câmara de Pré‑Julgamento do Tribunal Penal Internacional (TPI) um pedido de libertação provisória para transferência a um país terceiro, cujo nome permanece confidencial. Aos 80 anos, Duterte invoca razões humanitárias em função de sua idade avançada e compromete‑se formalmente a não fugir ou obstruir o processo. Este artigo revisita os antecedentes do caso, analisa o conteúdo do pedido, as reações das partes envolvidas e os próximos passos do tribunal.

Contexto e Fundamentação Jurídica

  • Mandado de Prisão e Transferência: Em 10 de fevereiro de 2025, a Procuradoria do TPI solicitou mandado de prisão contra Duterte por crimes contra a humanidade — incluindo assassinato, tortura e abuso sexual — relacionados à sua política de “guerra às drogas” entre 2011 e 2019. O mandado foi emitido em caráter secreto em 7 de março e tornado público em 11 de março; no dia seguinte, Duterte foi detido em Manila e levado a Haia.
  • Jurisdição do TPI: Embora as Filipinas tenham se retirado do Estatuto de Roma em 17 de março de 2019, o tribunal mantém competência sobre crimes cometidos enquanto o país era Parte (1 de novembro de 2011 a 16 de março de 2019).

O Pedido de Libertação Provisória

  • Razões Humanitárias: A defesa, liderada pelo advogado Nicholas Kaufman, destaca a idade de 80 anos de Duterte e eventuais fragilidades de saúde, propondo tratamento médico em território estrangeiro.
  • Garantias de Presença e Boa Conduta: O ex‑presidente firmou compromisso de comparecer sempre que convocado e de não praticar novos atos ilícitos. A petição menciona que um Estado terceiro manifestou “acordo prévio e de princípio” para recebê‑lo, sem revelar sua identidade.
  • Ausência de Influência: Alegou‑se que, sem o cargo, Duterte não detém mais poder político ou militar suficiente para pressionar testemunhas ou interferir nas investigações.

Posição da Procuradoria do TPI

  • Resposta Inicial: Conforme comunicado do tribunal, a Procuradoria não se opõe formalmente à libertação provisória desde que o pedido atenda a condições específicas, como vigilância eletrônica, entrega de passaporte, restrições de viagem e proibição de contato com possíveis testemunhas.
  • Próximo Passo Processual: A resposta definitiva da Promotoria, em formato público, deve ser apresentada à Câmara de Pré‑Julgamento nos próximos dias.

Reação das Vítimas e de Defensores de Direitos Humanos

  • Críticas ao Pedido: A assistente de defesa dos representados, Kristina Conti, alerta que a soltura de Duterte poderia “comprometer a integridade das provas” e “intimidar testemunhas”, comprometendo o devido processo.
  • Risco de Obstrução: Conti enfatiza o potencial de influência residual de Duterte sobre grupos nacionais e regionais, realçando o receio de que ele volte a cometer arbitrariedades caso não seja acompanhado por medidas rigorosas.

Critérios do Estatuto de Roma para Liberação Provisória

O Estatuto estabelece três requisitos cumulativos:

  1. Ausência de Risco de Fuga.
  2. Garantia de Não Obstrução do Processo.
  3. Proteção da Ordem Pública.

Casos anteriores, como o do ex‑líder líbio Saif al‑Gaddafi, demonstram que o TPI adota postura mais restritiva em liberdades provisórias de acusados de crimes contra a humanidade.

Agendamento de Audiência de Confirmação de Acusação

Em 14 de março de 2025, durante sua primeira audiência, o TPI agendou para 23 de setembro de 2025 o início da fase de confirmação de acusações, quando será avaliado se há provas substanciais para levar Duterte a julgamento. Podem ser designadas datas adicionais entre 23 e 26 de setembro, sujeitas a ajustes conforme avanço do processo.

Impactos Políticos Internos e Externos

  • Suporte Doméstico: Mesmo preso, Duterte foi eleito prefeito de Davao em maio de 2025, evidenciando sua perseverante base eleitoral.
  • Soberania vs. Justiça Internacional: O acolhimento em país estrangeiro acende debate sobre jurisdição extraterritorial do TPI e respeito à soberania nacional, especialmente em Estados que se retiraram do Estatuto.

Próximos Passos e Possíveis Cenários

  1. Decisão sobre Liberação Provisória: Poderá sair nas próximas semanas, estabelecendo condições estritas ou mantendo a custódia em Haia.
  2. Fase de Confirmação: Se as acusações forem confirmadas em setembro, o processo avançará para julgamento, com risco de prisão perpétua.
  3. Recursos e Apelações: Qualquer decisão poderá ser objeto de recurso junto à Câmara de Apelações do TPI.

Conclusão

O pedido de libertação provisória de Rodrigo Duterte representa um teste decisivo à flexibilidade do TPI entre garantias humanitárias e salvaguardas processuais. A decisão futura moldará não apenas o andamento deste caso emblemático, mas também o tratamento de ex‑chefes de Estado acusados de graves violações, reforçando o papel do tribunal no combate à impunidade global.

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