
O Egito, maior importador de trigo do mundo, mantém um programa de subsídio ao pão que beneficia cerca de 70 milhões de pessoas. Em meio a pressões inflacionárias e desafios econômicos, o governo fixou uma meta ambiciosa de colher entre 4 e 5 milhões de toneladas de trigo da safra local — estimada em 10 milhões de toneladas. Contudo, documentos oficiais obtidos por agências de notícias revelaram que, até 28 de junho de 2025, apenas 3,91 milhões de toneladas foram coletadas, levando ao encerramento antecipado de diversos centros de recepção de trigo.
Esse cenário expõe fragilidades na segurança alimentar do país e levanta questões sobre a sustentabilidade do subsídio ao pão, a composição dos estoques estratégicos e a dependência de importações. Este artigo analisa os fatores que contribuíram para o déficit na coleta local, as implicações para o programa de subsídio e as possíveis consequências econômicas e sociais dessa situação.
Panorama Geral da Campanha de Coleta
Em 28 de junho de 2025, a Autoridade de Abastecimento do Egito começou a fechar antecipadamente vários centros de recepção de trigo da safra local, diante de entregas abaixo do esperado. O governo tinha como meta adquirir entre 4 e 5 milhões de toneladas do total estimado em 10 milhões de toneladas; até essa data, porém, apenas 3,91 milhões de toneladas haviam sido coletadas. A safra, iniciada em meados de abril, está oficialmente programada para durar até meados de agosto, mas as baixas entregas pelos agricultores motivaram o fechamento de unidades que permaneceram sem registro de entrega por 3 a 5 dias seguidos.
Queda nas Importações Complementares
Além do déficit na produção local, o Egito também enfrenta redução nas importações de trigo. Dados de mercado revisados até junho de 2025 indicam uma queda de 30% nos volumes importados em comparação ao primeiro semestre de 2024, enquanto as importações de milho caíram 4% e as de soja subiram 22%. Historicamente, o país importa cerca de 5 milhões de toneladas anuais para reforçar estoques estratégicos e alimentar seu programa de subsídio ao pão.
Estoques Estratégicos e Agências de Compra
- Reservas: O Primeiro‑Ministro Mostafa Madbouly assegurou que os estoques estratégicos de trigo e demais gêneros são suficientes para mais de seis meses de consumo interno.
- Mudança na agência compradora: Em dezembro de 2024, a agência militar Future of Egypt (Mostakbal Misr) passou a ser a principal compradora de commodities estratégicas, substituindo a GASC. Essa transição garantiu 1,267 milhão de toneladas de trigo – majoritariamente da Rússia – para suprir as necessidades até junho de 2025, embora traders tenham questionado falta de detalhes sobre preços, cronogramas e volumes efetivamente contratados.
Principais Causas do Déficit
- Incentivos reduzidos aos agricultores: A inflação de insumos e a desvalorização da libra egípcia elevaram os custos de produção, desestimulando entregas maiores ao Estado. O índice de preços dos alimentos caiu para 6% em abril de 2025, mas ainda reflete tensões no setor agrícola.
- Logística e infraestrutura: Problemas de armazenagem e transporte continuam a dificultar o escoamento da colheita em áreas mais remotas, forçando fechamentos prematuros de centros de coleta.
Consequências Previsíveis
- Pressão sobre o programa de subsídio ao pão: Qualquer interrupção no fornecimento de trigo pode provocar escassez de pão subsidiado, aumentando o risco de agitação social num país onde o acesso ao pão é simbólico.
- Aumento dos custos de importação: Para suprir o déficit, o Egito poderá depender ainda mais de compras internacionais, exposto a volatilidades de preço no mercado global e flutuações cambiais que oneram o orçamento público.
- Reforço da dívida externa: Maior volume de importações e eventuais intervenções de emergência no câmbio podem ampliar o endividamento em moeda estrangeira.
- Pressões fiscais e inflação: Custos adicionais no subsídio e na compra de trigo importado podem agravar o déficit fiscal e alimentar pressões inflacionárias futuras, limitando a capacidade de investimento em outras áreas sociais.
Conclusão
O encerramento antecipado da coleta de trigo destaca desafios estruturais na segurança alimentar do Egito. Será fundamental diversificar origens de importação, fortalecer incentivos aos produtores locais e aprimorar a infraestrutura logística para manter a estabilidade do programa de subsídios e a coesão social em meio a desafios econômicos.
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