
Na véspera da eleição australiana, marcada para 3 de maio de 2025, o primeiro‑ministro Anthony Albanese e o líder da oposição Peter Dutton realizaram suas últimas mobilizações eleitorais em um cenário marcado pela influência indireta da diplomacia volátil de Donald Trump. A disputa, que tradicionalmente gira em torno de temas domésticos como custo de vida e habitação, acabou tendo suas atenções redirecionadas por incertezas globais geradas pelas flutuações nas tarifas comerciais dos Estados Unidos.
Contexto eleitoral e obrigatoriedade do voto
A Austrália está entre as poucas democracias que adotam o voto obrigatório. Até a sexta‑feira anterior ao pleito, quase 7 milhões de eleitores — de um total de cerca de 18 milhões de pessoas aptas a votar — já haviam registrado seu voto em urnas antecipadas ou por correio, segundo dados da Comissão Eleitoral Australiana. Esse alto índice de participação prévia reforça o caráter decisivo da reta final de campanha, em que cada discurso e cada declaração podem influenciar eleitores ainda indecisos.
Cenário das pesquisas: liderança de Albanese com risco de governo minoritário
Todas as pesquisas de opinião publicadas nas últimas semanas apontam vantagem do Partido Trabalhista (centro‑esquerda) de Albanese sobre a coalizão Liberal‑Nacional (conservadora) liderada por Dutton, considerando a métrica do “two‑party preferred” (preferência entre dois blocos). As estimativas variam entre 51,5% a 53% para os trabalhistas, contra 48,5% a 47% para os conservadores.
Ainda que à frente, o Labor pode não alcançar maioria absoluta no Parlamento, abrindo caminho para um governo minoritário. A amplitude desse risco motivou viagens de Albanese por regiões‑chave, de Queensland até a Tasmânia, com atenção especial a eleitorados suburbanos em Victoria e em Nova Gales do Sul, onde a disputa por assentos é mais apertada.
Temas centrais: custo de vida, habitação e “efeito Trump”
Custo de vida e habitação
Ambas as campanhas concentraram promessas em aliviar as pressões do custo de vida e em aumentar a oferta de moradias a preços acessíveis. Albanese apresentou um pacote de medidas sociais e investimentos em infraestrutura urbana, enquanto Dutton criticou a atual gestão pela alta dos aluguéis e juros, perguntando aos eleitores:
“Você está melhor hoje do que estava há três anos?”
Influência indireta de Trump
Embora Dutton tente se desvincular de comparações com Trump, analistas políticos identificam um “efeito Trump” na eleição australiana. As oscilações nas tarifas comerciais americanas geraram apreensão entre exportadores e indústrias locais, tornando‑se um dos principais temas na decisão de eleitores mais avessos ao risco. Albanese explorou essa insegurança para reforçar sua mensagem de estabilidade:
“Em tempos incertos, você pode ter certeza de que o Labor tem um plano para construir o futuro da Austrália; e pode ter certeza de que a Coalizão oferece cortes e caos.”
Principais deslizes e contrastes de campanha
- Peter Dutton chegou a liderar nas pesquisas em fevereiro, mas perdeu fôlego após anunciar uma proposta de banir o trabalho remoto para servidores públicos, recuando em face de forte repercussão negativa.
- Anthony Albanese manteve foco em promessas de longo prazo, evitando polêmicas e reforçando seu histórico de gestão desde 2022, quando assumiu o cargo.
Especialistas afirmam que, mais do que Trump, o desempenho de cada candidato em articular propostas concretas e evitar gafes foi crucial para definir o eleitorado indeciso. Ainda assim, as referências à diplomacia imprevisível dos EUA ganharam espaço em debates e discursos, ilustrando o grau de interdependência entre as economias globalizadas.
Pontos de atenção para o resultado
- Número de indecisos: pesquisas indicam uma fatia significativa de eleitores que só definiram voto na última hora.
- Regiões suburbanas de Victoria e Nova Gales do Sul: podem determinar se o Labor atinge maioria ou se terminará em minoria.
- Performance de votos antecipados: a consolidação dos votos já depositados pode antecipar tendências antes mesmo do fechamento das urnas em 3 de maio.
- Lembrança da eleição de 2019: naquele pleito, as pesquisas previam vitória tranquila da oposição, mas o Partido Liberal‑Nacional surpreendeu ao conquistar a maioria, demonstrando que a dinâmica do voto obrigatório e fatores de última hora podem reverter expectativas.
Conclusão
A eleição de 3 de maio de 2025 projeta-se como uma disputa apertada, em que fatores domésticos e internacionais se entrelaçam. De um lado, Anthony Albanese aposta na continuidade de políticas sociais e na promessa de estabilidade num contexto global turbulento. Do outro, Peter Dutton busca capitalizar o descontentamento com o custo de vida e o receio de mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que tenta mostrar independência em relação ao modelo de liderança de Trump.
O resultado definirá não apenas a orientação política da Austrália para os próximos anos, mas também o grau de resiliência de sua democracia obrigatória frente a influências externas. Com a votação antecipada atingindo patamares recordes, cada voto terá peso redobrado na decisão final.
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