Eleição Presidencial na Polônia: Teste ao Caminho Europeísta de Tusk

Slawomir Mentzen, candidato presidencial da aliança de extrema-direita Confederação, durante comício final em Cracóvia, Polônia, 16 de maio de 2025.
Slawomir Mentzen discursa em comício final de campanha em Cracóvia, Polônia, em 16 de maio de 2025. Foto: Jakub Wlodek / Agencja Wyborcza.pl via REUTERS.

Neste contexto de crescente polarização global e preocupações de segurança diante da guerra na Ucrânia e incertezas sobre o compromisso dos EUA sob Donald Trump, a eleição presidencial polonesa realizada hoje, 18 de maio de 2025, tornou-se um referendo sobre o futuro da Polônia na União Europeia e suas prioridades internas. De um lado, o candidato da Coligação Cívica, Rafal Trzaskowski, representa a continuidade da agenda pró‑Europa do primeiro‑ministro Donald Tusk; do outro, Karol Nawrocki, indicado pelo partido Lei e Justiça (PiS), personifica o nacionalismo que busca inspiração no estilo de Trump. Ao longo deste artigo, analisamos as principais forças em disputa, os temas centrais da campanha, as intenções de voto, o contexto histórico‑jurídico e as possíveis implicações geopolíticas desse pleito.

Entre Dois Modelos de Europa

No domingo, 18 de maio de 2025, os eleitores poloneses foram às urnas para decidir se a Polônia seguirá na trilha pró‑europeia iniciada por Donald Tusk ou se se alinhará a correntes nacionalistas mais próximas do populismo conservador observado nos EUA. Esse pleito se consolidou como o maior teste à visão europeísta de Tusk desde sua vitória em 2023, quando depôs o partido Lei e Justiça (PiS).

Principais Temas na Campanha

  • Reformas Judiciais e Estado de Direito: Debate sobre reversão das reformas de 2015–2022, classificadas por Tusk como entraves à independência do Judiciário.
  • Políticas Sociais e Habitação: Propostas de Trzaskowski para programas habitacionais e estímulo ao crédito jovem, em resposta à crise que mantém os jovens morando com os pais.
  • Direitos Reprodutivos e LGBTQ: A estagnação da liberalização do aborto e o apoio de Trzaskowski a manifestações LGBTQ colocaram esses temas em destaque.
  • Segurança e Relações Exteriores: A guerra na Ucrânia e temores sobre a continuidade da proteção americana sob Trump preocupam analistas e eleitores.
  • Soberania e Imigração: Nawrocki enfatiza prioridade a poloneses no acesso a serviços públicos, capitalizando o descontentamento com o influxo de refugiados ucranianos.

Dados de Pesquisas de Opinião

Institutos como CBOS e IPSOS têm registrado a evolução das intenções de voto no último mês, apontando Trzaskowski na liderança, mas com margem de erro que mantém o segundo turno como quase certo:

DataTrzaskowski (%)Nawrocki (%)
20/04/20253530
01/05/20253729
10/05/20254028
17/05/20254227

Contexto Histórico e Jurídico

Linha do Tempo das Reformas Judiciais (PiS 2015–2023)

  • 2015: Lei reduz idade de aposentadoria de juízes do Supremo.
  • 2017: Conselho Nacional de Judicatura é nomeado pelo Parlamento.
  • 2018: Intervenções disciplinares no Tribunal Supremo.
  • 2020–2022: Alterações em cortes inferiores e mudança de mandatos.
  • 2023: Tusk assume e inicia reversão das medidas.

    Poder de Veto Presidencial

    • O presidente pode recusar leis, devolvendo-as ao parlamento.
    • Exemplo: Em 2021, Andrzej Duda vetou controle executivo sobre nomeações judiciais.

    Os Candidatos e Suas Propostas

    Rafal Trzaskowski (Coligação Cívica)

    • Perfil: Prefeito de Varsóvia, enfatiza valores liberais e europeístas.
    • Propostas:
      • Reversão das reformas judiciais do PiS.
      • Fortalecimento da atuação da Polônia na UE e OTAN.
      • Programas habitacionais e subsídios ao crédito jovem.

    “Cada eleição é uma celebração da democracia”, afirmou Trzaskowski após votar em Varsóvia.

    Karol Nawrocki (Lei e Justiça)

    • Perfil: Historiador conservador, tira proveito do ressurgimento do nacionalismo.
    • Propostas:
      • Prioridade a poloneses em serviços públicos, reagindo ao ressentimento contra refugiados ucranianos.
      • Defesa do legado histórico nacional e críticas a exumações na Ucrânia.
      • Apoio militar a Kiev, porém com condicionantes orçamentárias.

    “Nós estamos moldando nosso futuro”, declarou Nawrocki em Gdańsk.

    Vozes da Sociedade Civil

    • Czesław Wegorek, 64 anos, de Gdańsk: “Quero alguém focado no futuro da população, não em mais disputas.”
    • Barbara Żurawska, de Varsóvia: “A crise habitacional atinge os jovens; a dificuldade de obter e pagar empréstimos é enorme.”

    Implicações para a UE e Segurança Regional

    • OTAN e Defesa Coletiva: Uma guinada nacionalista poderia enfraquecer a coesão interna da aliança, gerando disputas sobre gastos e estratégia frente a Moscou.
    • Ajuda à Ucrânia: Embora Nawrocki apoie apoio bélico, seu governo tende a condicionar desembolsos e priorizar necessidades internas, afetando o ritmo do auxílio.

    Desdobramentos Esperados

    • Se Trzaskowski vencer: reforço do estado de direito, aceleração de reformas liberais e maior influência na UE.
    • Se Nawrocki vencer: ascensão de políticas identitárias, potencial atrito com Bruxelas e continuidade de ajuda à Ucrânia sob novas condições.

    Conclusão

    A eleição presidencial polonesa de maio de 2025 transcende a simples escolha de um chefe de Estado: é um ponto de inflexão na trajetória democrática e geopolítica do país. Uma vitória de Trzaskowski tende a consolidar a Polônia como protagonista europeu e parceira firme na OTAN. Já uma vitória de Nawrocki pode significar um fortalecimento do nacionalismo interno e relações mais tensas com a UE, ainda que mantendo suporte militar à Ucrânia em termos mais restritos. O segundo turno, marcado para 1° de junho de 2025, será decisivo para o futuro da coesão externa e interna do país.

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