
Neste contexto de crescente polarização global e preocupações de segurança diante da guerra na Ucrânia e incertezas sobre o compromisso dos EUA sob Donald Trump, a eleição presidencial polonesa realizada hoje, 18 de maio de 2025, tornou-se um referendo sobre o futuro da Polônia na União Europeia e suas prioridades internas. De um lado, o candidato da Coligação Cívica, Rafal Trzaskowski, representa a continuidade da agenda pró‑Europa do primeiro‑ministro Donald Tusk; do outro, Karol Nawrocki, indicado pelo partido Lei e Justiça (PiS), personifica o nacionalismo que busca inspiração no estilo de Trump. Ao longo deste artigo, analisamos as principais forças em disputa, os temas centrais da campanha, as intenções de voto, o contexto histórico‑jurídico e as possíveis implicações geopolíticas desse pleito.
Entre Dois Modelos de Europa
No domingo, 18 de maio de 2025, os eleitores poloneses foram às urnas para decidir se a Polônia seguirá na trilha pró‑europeia iniciada por Donald Tusk ou se se alinhará a correntes nacionalistas mais próximas do populismo conservador observado nos EUA. Esse pleito se consolidou como o maior teste à visão europeísta de Tusk desde sua vitória em 2023, quando depôs o partido Lei e Justiça (PiS).
Principais Temas na Campanha
- Reformas Judiciais e Estado de Direito: Debate sobre reversão das reformas de 2015–2022, classificadas por Tusk como entraves à independência do Judiciário.
- Políticas Sociais e Habitação: Propostas de Trzaskowski para programas habitacionais e estímulo ao crédito jovem, em resposta à crise que mantém os jovens morando com os pais.
- Direitos Reprodutivos e LGBTQ: A estagnação da liberalização do aborto e o apoio de Trzaskowski a manifestações LGBTQ colocaram esses temas em destaque.
- Segurança e Relações Exteriores: A guerra na Ucrânia e temores sobre a continuidade da proteção americana sob Trump preocupam analistas e eleitores.
- Soberania e Imigração: Nawrocki enfatiza prioridade a poloneses no acesso a serviços públicos, capitalizando o descontentamento com o influxo de refugiados ucranianos.
Dados de Pesquisas de Opinião
Institutos como CBOS e IPSOS têm registrado a evolução das intenções de voto no último mês, apontando Trzaskowski na liderança, mas com margem de erro que mantém o segundo turno como quase certo:
Data | Trzaskowski (%) | Nawrocki (%) |
---|---|---|
20/04/2025 | 35 | 30 |
01/05/2025 | 37 | 29 |
10/05/2025 | 40 | 28 |
17/05/2025 | 42 | 27 |
Contexto Histórico e Jurídico
Linha do Tempo das Reformas Judiciais (PiS 2015–2023)
- 2015: Lei reduz idade de aposentadoria de juízes do Supremo.
- 2017: Conselho Nacional de Judicatura é nomeado pelo Parlamento.
- 2018: Intervenções disciplinares no Tribunal Supremo.
- 2020–2022: Alterações em cortes inferiores e mudança de mandatos.
- 2023: Tusk assume e inicia reversão das medidas.
Poder de Veto Presidencial
- O presidente pode recusar leis, devolvendo-as ao parlamento.
- Exemplo: Em 2021, Andrzej Duda vetou controle executivo sobre nomeações judiciais.
Os Candidatos e Suas Propostas
Rafal Trzaskowski (Coligação Cívica)
- Perfil: Prefeito de Varsóvia, enfatiza valores liberais e europeístas.
- Propostas:
- Reversão das reformas judiciais do PiS.
- Fortalecimento da atuação da Polônia na UE e OTAN.
- Programas habitacionais e subsídios ao crédito jovem.
“Cada eleição é uma celebração da democracia”, afirmou Trzaskowski após votar em Varsóvia.
Karol Nawrocki (Lei e Justiça)
- Perfil: Historiador conservador, tira proveito do ressurgimento do nacionalismo.
- Propostas:
- Prioridade a poloneses em serviços públicos, reagindo ao ressentimento contra refugiados ucranianos.
- Defesa do legado histórico nacional e críticas a exumações na Ucrânia.
- Apoio militar a Kiev, porém com condicionantes orçamentárias.
“Nós estamos moldando nosso futuro”, declarou Nawrocki em Gdańsk.
Vozes da Sociedade Civil
- Czesław Wegorek, 64 anos, de Gdańsk: “Quero alguém focado no futuro da população, não em mais disputas.”
- Barbara Żurawska, de Varsóvia: “A crise habitacional atinge os jovens; a dificuldade de obter e pagar empréstimos é enorme.”
Implicações para a UE e Segurança Regional
- OTAN e Defesa Coletiva: Uma guinada nacionalista poderia enfraquecer a coesão interna da aliança, gerando disputas sobre gastos e estratégia frente a Moscou.
- Ajuda à Ucrânia: Embora Nawrocki apoie apoio bélico, seu governo tende a condicionar desembolsos e priorizar necessidades internas, afetando o ritmo do auxílio.
Desdobramentos Esperados
- Se Trzaskowski vencer: reforço do estado de direito, aceleração de reformas liberais e maior influência na UE.
- Se Nawrocki vencer: ascensão de políticas identitárias, potencial atrito com Bruxelas e continuidade de ajuda à Ucrânia sob novas condições.
Conclusão
A eleição presidencial polonesa de maio de 2025 transcende a simples escolha de um chefe de Estado: é um ponto de inflexão na trajetória democrática e geopolítica do país. Uma vitória de Trzaskowski tende a consolidar a Polônia como protagonista europeu e parceira firme na OTAN. Já uma vitória de Nawrocki pode significar um fortalecimento do nacionalismo interno e relações mais tensas com a UE, ainda que mantendo suporte militar à Ucrânia em termos mais restritos. O segundo turno, marcado para 1° de junho de 2025, será decisivo para o futuro da coesão externa e interna do país.
Faça um comentário