Eleição no Canadá é Marcada por Onda de Patriotismo e Tensões Geradas por Trump

Brian Derksen levanta pesos enquanto protesta próximo ao Parlamento, em Ottawa, na véspera das eleições federais de 2025.
Brian Derksen, manifestante em Ottawa, acredita que Donald Trump é um símbolo de liberdade, e protesta em frente ao Parlamento enquanto levanta pesos na véspera das eleições federais de 2025. REUTERS/Amber Bracken

Hoje, segunda-feira, eleitores canadenses comparecem às urnas em uma disputa eleitoral atípica, em que as ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, dominam o debate público. Ao longo de semanas, Trump sugere a aplicação de tarifas de até 25% sobre carros “Made in Canada” e chega a brincar com a ideia de transformar o vizinho ao norte no “51º estado” dos Estados Unidos. Essas declarações inflamam um sentimento de união nacional e colocam a política externa no centro da corrida, ofuscando – ainda que momentaneamente – temas tradicionalmente mais relevantes, como economia doméstica e custo de vida.

Contexto da Campanha

  • Mark Carney, ex-governador do Banco do Canadá e de dois bancos centrais do G7, assume a liderança do Partido Liberal como um novato político. Sua experiência em política monetária e reputação internacional servem para contrapor-se às incertezas geradas por Trump.
  • Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, foca sua mensagem nas questões internas: alta inflação, crise habitacional e aumento da criminalidade.

Pesquisas de última hora apontam vantagem modesta dos Liberais:

  • Ipsos indica Liberais com 42% e Conservadores com 38%
  • Angus Reid mostra Liberais em 44% e Conservadores em 40%

Esses números sinalizam, em projeção, um quarto mandato Liberal, mas possivelmente apenas em minoria, forçando acordos com partidos menores.

Impacto do Ataque em Vancouver

Ontem, domingo, um homem lança um SUV contra participantes de um festival da comunidade filipina em Vancouver, resultando em pelo menos 11 mortos e dezenas de feridos. O ataque leva Carney a suspender brevemente sua agenda de campanha. Ambos os líderes – Carney e Poilievre – prestam solidariedade às vítimas em seus atos finais.

Especialistas divergem sobre o efeito desse trágico evento nas urnas. Duane Bratt, cientista político da Mount Royal University, não espera que o episódio altere significativamente o comportamento dos eleitores, uma vez que as motivações centrais da campanha estão ancoradas nas relações Canadá-EUA .

A Centralidade de Trump

Analistas concordam que o tema Trump se torna o “fator X” desta eleição. Kelly Saunders, da Brandon University, afirma:

“Tudo é ofuscado pelas ameaças vindas dos Estados Unidos. Esta provavelmente é a eleição mais consequente da minha vida.”

Carney explora sua experiência internacional para se posicionar como o líder capaz de conter as investidas de Trump, enquanto Poilievre acusa os Liberais de explorarem o medo para se manter no poder.

Divisão Regional e Demográfica

  • A participação de eleitores jovens aumenta nos eventos conservadores, mudando o panorama de eleições anteriores.
  • Zonas urbanas (especialmente nos centros de produção automotiva, como Windsor) demonstram maior apoio aos Liberais, motivados pelo receio de retaliações econômicas.
  • Áreas rurais, notoriamente mais conservadoras, mantêm o foco em crescimento econômico e custo de vida, garantindo base sólida a Poilievre.

Possíveis Cenários de Governo

  • Equilíbrio Estagnado: sem maioria clara, prolonga incertezas políticas e possivelmente leva a novas eleições em curto prazo.
  • Mandato Liberal Minoritário: o mais provável, exigindo negociações com Novo Partido Democrático (NDP) ou Bloc Québécois para aprovar orçamentos e legislação.
  • Vitória Conservadora: visto como improvável, demandaria “cenário mágico” e queda abrupta no apoio liberal nas grandes cidades.

Conclusão

Esta eleição canadense torna-se marcada pela interferência política transfronteiriça e pela reação nacional a ameaças externas. A mensagem de Carney de “Um Canadá Forte” (“Un Canada Fort”) ecoa em palanques e cartazes, contrapondo-se ao slogan de Poilievre de “mudança para a estabilidade econômica”. Independentemente do resultado, o país enfrenta o desafio de reconstruir sua confiança nas relações com os EUA e de enfrentar problemas internos — como habitação e inflação — que permanecem na agenda do próximo governo.

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