
A construção da usina hidrelétrica de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, em Moçambique, representa um marco estratégico na infraestrutura energética da África Austral. Com um custo estimado entre US$ 4,5 bilhões e US$ 6 bilhões, o projeto visa gerar 1.500 megawatts (MW) de eletricidade, aumentando substancialmente a capacidade do país. A previsão mais recente indica que a primeira turbina poderá entrar em operação já em 2027, enquanto a usina completa deve estar funcional até 2031.
Contexto e Justificativa do Projeto
Localizada a cerca de 60 km a jusante da barragem de Cahora Bassa, em Tete, a Mphanda Nkuwa será uma das maiores usinas hidrelétricas da região. O projeto inclui a construção de uma linha de transmissão de alta tensão de 1.300 km, conectando Tete a Maputo, a capital do país. Além de atender à crescente demanda interna, a usina visa posicionar Moçambique como exportador regional de energia, beneficiando países vizinhos com déficits elétricos.
Aspectos Políticos e Geopolíticos
Parcerias Estratégicas e Investimentos Estrangeiros
O consórcio responsável pelo projeto inclui Électricité de France (EDF), TotalEnergies e Sumitomo Corporation, que detêm 70% da concessão, enquanto a Electricidade de Moçambique (EDM) e a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) possuem os 30% restantes. O projeto também recebe apoio financeiro indireto do Banco Mundial, garantindo seguros e mitigando riscos (en.wikipedia.org).
Essa colaboração internacional reforça a posição estratégica de Moçambique na região, atraindo investimentos e aumentando sua relevância no cenário energético africano.
Geopolítica Regional e Dependência Energética
A Mphanda Nkuwa terá impacto direto na dependência energética de países vizinhos, principalmente África do Sul e Zâmbia, que enfrentam déficits periódicos de energia. A exportação de eletricidade fortalecerá os laços bilaterais e integrará Moçambique nas estratégias da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) para segurança energética regional.
Além disso, o projeto posiciona Moçambique como hub estratégico de energia, contribuindo para a estabilidade econômica e política da região.
Desafios Ambientais e Sociais
Impactos Ambientais
A construção da barragem exigirá o alagamento de cerca de 97 km² da bacia do Zambeze, afetando ecossistemas aquáticos e terrestres. Espécies de peixes endêmicas, aves migratórias e habitats de fauna local podem sofrer alterações significativas.
O projeto segue diretrizes da International Hydropower Association (IHA), incluindo monitoramento ambiental e programas de mitigação, mas a magnitude dos impactos ambientais exige atenção constante.
Reassentamento e Impacto Social
Cerca de 1.400 famílias serão deslocadas diretamente, afetando aproximadamente 200.000 pessoas que dependem do rio para agricultura, pesca e subsistência. A implementação de políticas de reassentamento justo, compensação adequada e programas de capacitação profissional será essencial para reduzir impactos sociais e econômicos adversos.
Considerações Finais
A usina hidrelétrica de Mphanda Nkuwa representa uma oportunidade estratégica para Moçambique e a África Austral, tanto do ponto de vista econômico quanto geopolítico.
No entanto, o sucesso do projeto depende do equilíbrio entre desenvolvimento energético e responsabilidade socioambiental. Transparência, engajamento das comunidades afetadas e adesão a padrões internacionais serão determinantes para garantir que os benefícios superem os impactos negativos, consolidando Moçambique como referência em infraestrutura energética regional.
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