Eslováquia exige adiamento na votação do 18.º pacote de sanções da UE contra a Rússia por preocupações energéticas

Robert Fico em coletiva de imprensa na cidade de Handlová, Eslováquia, maio de 2025
O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, participa de coletiva de imprensa em Handlová, no centro do país, em 15 de maio de 2025. Foto de arquivo: Radovan Stoklasa/Reuters

No contexto do Conselho Europeu de 26 de junho de 2025, o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico surpreendeu seus pares ao anunciar que Bratislava não apoiará o 18.º pacote de sanções contra a Rússia sem garantias sobre o abastecimento de gás e as alternativas energéticas pós-2027. A exigência de adiamento põe em xeque a disciplina de bloco da União Europeia e reacende a histórica dependência de países do Leste Europeu em relação aos combustíveis russos.
Para uma análise complementar da postura eslovaca e seus interesses estratégicos, leia também: Eslováquia condicionaliza sanções da UE contra a Rússia em defesa de seus interesses.

Contexto do 18.º pacote de sanções

Em 10 de junho, a Comissão Europeia apresentou medidas que visam reduzir receitas de energia da Rússia, bem como impor restrições aos setores bancário e militar moscovita, em retaliação à invasão da Ucrânia que já ultrapassa três anos. Parte crucial do pacote é a proposta de eliminação gradual das importações de gás, petróleo e combustível nuclear russos até o final de 2027.

Para compreender em detalhes o escopo e a motivação dessas medidas, confira o artigo “União Europeia lança 18º pacote de sanções contra a Rússia com foco no setor energético, bancos e indústria militar” que descreve, ponto a ponto, as novas restrições e seus objetivos estratégicos.

Razões da Eslováquia

Fico argumenta que cortar importações russas sem infraestrutura de substituição provocará riscos de desabastecimento, elevação nos preços domésticos e litígios bilionários. A Eslováquia mantém contratos de fornecimento de gás com a Gazprom até 2034; o primeiro-ministro estima até €20 bilhões em reivindicações por quebra contratual caso o embargo seja antecipado.

Impactos econômicos e legais

Especialistas apontam que, sem unanimidade, as sanções não avançam. Além disso, a estatal SPP alerta para graves perturbações no mercado interno de energia e para a necessidade de mecanismos de contingência que mitiguem a volatilidade dos preços. A ausência de soluções de curto prazo pressiona a Comissão a negociar desvios de gasodutos e novos terminais de GNL para 2028.

Aliança tática com a Hungria

Budapeste, igualmente dependente do gás russo, reforça a resistência conjunta. Ambos condicionam sua aprovação à apresentação de um plano robusto de transição energética – incluindo investimentos em interconexões com a Croácia e a Áustria – antes de qualquer corte definitivo.

Repercussões políticas no bloco

A presidência polonesa da UE, prestes a encerrar-se em quatro dias, tenta articular um acordo que contemple tanto o embargo energético quanto concessões comerciais nos diálogos paralelos sobre tarifas dos EUA, onde se cogita oferecer flexibilidade ao bloco em troca de desbloquear o 18.º pacote contra a Rússia. O impasse expõe divisões entre países favoráveis à linha dura – como Polônia e Estados Bálticos – e aqueles mais vulneráveis energeticamente.

Perspectivas futuras

Caso o adiamento seja oficializado, a votação poderá ficar para a presidência tcheca, a partir de janeiro de 2026. No horizonte, fica a urgência de acelerar projetos de GNL, hidrogênio e renováveis, sob pena de comprometer a coesão estratégica da UE e o ritmo de apoio à Ucrânia.

Conclusão

A Eslováquia coloca em evidência o dilema central da UE: equilibrar a solidariedade geopolítica contra a agressão russa com a segurança energética de seus Estados-membros. Até que soluções concretas para o pós-2027 sejam apresentadas, Fico mantém o veto de fato ao 18.º pacote, testando a habilidade de Bruxelas de construir consensos em tempos de crise multifacetada.

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