Espanha propõe exclusão de Israel de eventos culturais internacionais por campanha em Gaza

Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, falando na 34ª cúpula da Liga Árabe em Bagdá, maio de 2025.
Pedro Sánchez durante a 34ª cúpula da Liga Árabe em Bagdá, Iraque, em 17 de maio de 2025. Foto: Hadi Mizban/Pool via REUTERS.

O primeiro‑ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu a exclusão de Israel de competições culturais globais, como o Eurovision, em protesto contra a ofensiva em Gaza. Ele comparou a situação à suspensão da Rússia após a invasão da Ucrânia, alertando para os riscos de duplos padrões na diplomacia cultural.

Contexto histórico e humanitário

  • Ofensiva em Gaza: Desde 7 de outubro de 2023, a ofensiva israelense em Gaza, desencadeada após o ataque do Hamas que matou cerca de 1.200 israelenses, já deixou mais de 53.000 mortes de civis palestinos, segundo estimativas de autoridades locais.
  • Suspensão da Rússia: Em 2022, a União Europeia barrou a participação da Rússia em eventos culturais — incluindo o Eurovision — como retaliação à invasão da Ucrânia, estabelecendo um precedente de sanção cultural por agressão militar.

Apelo de Pedro Sánchez

Em evento em Madrid, Sánchez afirmou:

“Não podemos tolerar duplos padrões, nem mesmo na cultura. Se a Rússia foi convidada a se retirar de competições após invadir a Ucrânia, Israel também deve.”

Ele reforçou a coerência de se alinhar posicionamentos diplomáticos com as práticas em grandes eventos culturais e convocou artistas a se posicionarem em defesa de democracia, paz e direitos humanos.

Reações e posicionamentos

  • Resposta de Israel: O Ministério das Relações Exteriores de Israel ainda não comentou oficialmente o pedido de Sánchez.
  • Pressão interna na Espanha: Partidos como Podemos e Izquierda Unida apoiaram a exclusão, acusando o Eurovision de servir como “propaganda” e exigindo auditoria do televoto espanhol, cujos recursos, sugerem, poderiam ser destinados a ajuda humanitária em Gaza.
  • Compromisso da EBU: A European Broadcasting Union mantém seu princípio de neutralidade política, afirmando que decisões sobre participantes devem seguir regulamentos internos, sem interferência governamental

Comparativo de repercussões

  • Isolamento da Rússia: o banimento russo reduziu significativamente o poder brando do país — artistas viram oportunidades de exibição no Ocidente canceladas e festivais europeus romperam parcerias, gerando debates sobre liberdade de expressão versus responsabilidade política.
  • Lições para Israel:
    • Custo simbólico: Sanções culturais podem aumentar a pressão internacional, mas também conduzir a um endurecimento nacionalista, como observado na Rússia.
    • Associar cultura ao governo: A ligação da cultura israelense com a política de Netanyahu pode polarizar o apoio a artistas independentes e segmentar o público em questões humanitárias.

Cenários futuros

  1. Retaliações diplomáticas
    • Israel poderia retaliar restringindo intercâmbios culturais e cooperações acadêmicas com países que apoiarem a exclusão, afetando inclusive acordos de financiamento e vistos culturais.
  2. Impacto na cooperação artística
    • Festivais, residências e mostras podem ser cancelados ou migrar para plataformas privadas, reduzindo o intercâmbio criativo entre Europa e Oriente Médio.
    • Outros países em conflito (Turquia, Síria) poderão demandar tratamento equivalente, gerando um efeito dominó na cultura internacional.
  3. Revisão das regras da EBU
    • Propostas de um código de conduta para participação, com cláusulas sobre respeito a direitos humanos, evitando avaliações caso a caso.

Informações adicionais

  • Críticas de genocídio: Em debate parlamentar, Sánchez chegou a qualificar as ações israelenses de “genocídio”, intensificando seu tom crítico.
  • Reconhecimento da Palestina: Em 2024, Espanha, Noruega e Irlanda reconheceram formalmente o Estado palestino unificado, com Jerusalém Oriental como capital, decisão vista por Israel como incentivo ao Hamas.
  • Embargo a novas vendas de armas: em 7 de outubro de 2023, após o início da ofensiva em Gaza, o governo espanhol anunciou que não autorizaria novas operações de venda de armamentos a Israel.
  • Cancelamento de contrato específico (abril de 2025): em abril de 2025, sob pressão da coalizão governista, Pedro Sánchez determinou a rescisão de um contrato de € 6,6 milhões (aproximadamente US$ 7,5 milhões) para a compra de munições da empresa israelense IMI Systems. Esse contrato havia sido assinado antes do embargo de outubro de 2023, ou seja, tratava-se de um compromisso antigo ainda em andamento, o que gerou forte reação interna. Para mais detalhes, veja o artigo Espanha Suspende Acordo de US$ 7,5 Milhões para Compra de Munições de Empresa Israelense.

Conclusão


O chamado de Pedro Sánchez para excluir Israel de eventos como o Eurovision ilumina a crescente interseção entre cultura e direitos humanos. A comparação com o caso russo revela tanto a eficácia simbólica das sanções culturais quanto seus riscos políticos. Os cenários futuros sugerem retaliações diplomáticas, enfraquecimento de parcerias artísticas e a necessidade de regras claras para participação, garantindo coerência entre valores proclamados e práticas adotadas.

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