Marrocos e a Estratégia Atlântica: Um Passo para a Integração Econômica Africana

Ministro Nasser Bourita de Marrocos e representante português em conferência conjunta sobre iniciativas atlânticas, 22 de julho de 2025
Portugal, como país atlântico, saúda as iniciativas atlânticas lançadas pelo rei Mohammed VI em prol do desenvolvimento e integração econômica africana. Foto: 22 de julho de 2025

O Reino de Marrocos tem se destacado nas últimas décadas por sua diplomacia proativa e iniciativas estratégicas que visam fortalecer sua presença econômica e política no continente africano. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Nasser Bourita, afirmou que a visão do rei Mohammed VI coloca o mar como elemento central da estratégia de integração econômica africana, com projetos voltados para a cooperação atlântica. Essa abordagem não apenas consolida a posição de Marrocos no continente, mas também reflete tendências geopolíticas que podem redefinir o equilíbrio econômico e estratégico da África.

Contexto Histórico e Estratégico

Marrocos historicamente manteve relações estreitas com países africanos do Norte e Oeste. A reaproximação com a União Africana (UA) em 2017, após décadas de ausência devido à questão do Saara Ocidental, marcou o retorno de Rabat ao centro do diálogo africano. Nesse contexto, a estratégia atlântica emerge como uma iniciativa para aproveitar a posição geográfica estratégica de Marrocos, conectando portos atlânticos a redes comerciais e financeiras continentais e globais.

Segundo especialistas do Moroccan Center for Strategic Studies, “a estratégia atlântica de Marrocos não é apenas econômica, mas também uma ferramenta de soft power, consolidando a influência do país em áreas estratégicas da África Ocidental e Atlântica”.

A Estratégia Atlântica de Marrocos

A estratégia atlântica envolve diversos projetos voltados para infraestrutura portuária, logística, comércio marítimo e integração regional:

  1. Desenvolvimento de portos estratégicos
    O Porto Tanger-Med, inaugurado em 2007, é o maior porto da África e possui capacidade de movimentar até 9 milhões de TEUs por ano. Sua modernização e expansão têm como objetivo consolidar Marrocos como hub logístico continental e global, conectando rotas africanas a Europa, América e Ásia.
  2. Rotas comerciais e transporte marítimo
    A estratégia busca fortalecer o comércio intrarregional entre países da costa atlântica africana, apoiando parcerias comerciais e atraindo investimentos internacionais. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), a África Atlântica movimenta mais de 100 bilhões de dólares em comércio anual, e a integração regional pode aumentar esse volume em até 25% nos próximos anos.
  3. Cooperação industrial e energética
    Marrocos investe em projetos de energia renovável e infraestrutura industrial em cooperação com países parceiros, visando promover desenvolvimento sustentável e integração econômica regional.
  4. Foco em inovação e tecnologia
    Sistemas de monitoramento portuário, logística inteligente e segurança marítima são priorizados para garantir eficiência e competitividade nos corredores atlânticos.

Implicações Geopolíticas

A estratégia atlântica de Marrocos tem impactos claros sobre o panorama geopolítico africano:

  • Fortalecimento da liderança regional
    Marrocos se posiciona como polo estratégico atlântico, influenciando decisões econômicas e políticas no continente.
  • Integração com blocos econômicos
    A iniciativa aumenta a cooperação com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS) e a União Africana, reforçando laços comerciais e diplomáticos.
  • Competição internacional e riscos políticos
    O investimento de Marrocos pode gerar rivalidade com potências externas, como China, União Europeia e Estados Unidos, interessadas em portos estratégicos. Países vizinhos, como Argélia e Mauritânia, podem interpretar a estratégia como uma forma de expansão de influência econômica e geopolítica, aumentando tensões regionais.

Impactos Econômicos e Regionais

A execução da estratégia atlântica tem potencial de gerar impactos econômicos concretos:

  • Atração de investimentos estrangeiros diretos (IED)
    A modernização portuária e a integração regional aumentam a atratividade de Marrocos para investidores internacionais. Em 2024, Marrocos recebeu aproximadamente 5,2 bilhões de dólares em IED, boa parte relacionada a infraestrutura e logística.
  • Criação de empregos e desenvolvimento regional
    Projetos portuários e logísticos promovem oportunidades locais e fortalecem economias regionais.
  • Facilitação do comércio intrarregional
    Redução de custos de transporte e fortalecimento de cadeias de suprimento entre países africanos da costa atlântica.

Desafios e Perspectivas

Apesar das oportunidades, a estratégia atlântica enfrenta desafios:

Concorrência regional e internacional
Outros países africanos e potências globais disputam influência em portos e rotas estratégicas.

Sustentabilidade ambiental
Projetos portuários devem considerar impactos ecológicos e regulamentações ambientais.

Integração política e regulatória
Diferenças legais e regulatórias entre países africanos podem dificultar integração econômica plena.

Ainda assim, a visão do rei Mohammed VI e a execução estratégica de Nasser Bourita indicam que Marrocos está determinado a consolidar seu papel como protagonista atlântico africano, projetando influência econômica e política de longo prazo.

Conclusão

A estratégia atlântica de Marrocos representa uma abordagem inovadora para integrar economicamente a África, unindo infraestrutura, comércio, inovação e diplomacia. Ao colocar o mar no centro de sua política continental, o país fortalece sua posição econômica e exerce um papel geopolítico cada vez mais relevante. O sucesso dessa estratégia poderá redefinir relações comerciais, alianças políticas e o equilíbrio estratégico da África Atlântica, consolidando Marrocos como ponte entre o continente e o resto do mundo.

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