
Como mencionado no artigo anterior “Autoridades dos EUA e da China Iniciam Negociações em Genebra para Amenizar Guerra Comercial”, hoje, segunda-feira, autoridades de ambos os países anunciaram, em Genebra, um acordo inédito para reduzir reciprocamente as tarifas aplicadas desde a escalada da guerra comercial. O objetivo é mitigar riscos de recessão global e restaurar o fluxo de comércio entre as duas maiores economias do mundo.
Contexto e motivações do acordo
Desde abril de 2025, os EUA haviam elevado para 145% as sobretaxas sobre produtos chineses, enquanto a China respondeu com tarifas de 125% sobre importações americanas. Essas medidas chegaram a paralisar cerca de US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo cadeias de suprimentos, elevando custos empresariais e provocando demissões em diversos setores.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, destacou que ambos os países “representaram muito bem seus interesses nacionais” e ressaltou a busca por um comércio equilibrado, evitando o que chamou de “embargo de fato”. Já o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, enfatizou que o ambiente descontraído dos encontros em Genebra – realizado em uma villa às margens do Lago Léman – favoreceu a construção de relações pessoais e a resolução de impasses.
Principais pontos do acordo
- Redução de tarifas: os EUA diminuirão suas taxas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China cortará as suas de 125% para 10%.
- Prazo de vigência: as novas tarifas valerão por 90 dias, período em que ambas as partes avaliarão impactos e buscarão avanços mais permanentes.
- Setores estratégicos: o pacto não abrange tarifas setoriais específicas; contudo, os EUA manterão seu “reequilíbrio estratégico” em áreas críticas, como medicamentos, semicondutores e aço, para reduzir vulnerabilidades em cadeias de suprimento.
Reação dos mercados financeiros
Após o anúncio, o dólar se valorizou frente a moedas concorrentes, e bolsas de valores registraram alta significativa, refletindo a crença de investidores de que o risco de uma crise global foi atenuado.
- Europa: as ações da Maersk subiram mais de 12%, impulsionadas pela perspectiva de retomada nos volumes de contêineres entre Ásia e América do Norte.
- Luxo: casas como LVMH e Kering tiveram ganhos acima de 6%, aliviando preocupações sobre queda na demanda chinesa.
- Aeronáutico: a Boeing, que vinha enfrentando atrasos e riscos contratuais na China, observa com otimismo a possível retomada de entregas após o fim das tarifas elevadas.
Análise de especialistas
Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Gestão de Ativos, considerou o acordo “bem melhor do que o esperado”, destacando que estudos iniciais projetavam cortes de tarifas apenas para cerca de 50%. Segundo Zhang, o alívio provisório “reduz preocupações imediatas sobre disrupções em cadeias globais de suprimento” e dá fôlego à economia mundial.
Apesar do entusiasmo, analistas advertem que o pacto de 90 dias é apenas um “respiro temporário”. Caso não haja avanço em negociações mais profundas — incluindo temas como transferência de tecnologia, subsídios estatais e proteção à propriedade intelectual —, as tarifas poderão ser reativadas ao fim desse período, reintroduzindo volatilidade.
Implicações políticas e geoestratégicas
O acordo ocorre em meio a tensões crescentes não apenas no terreno econômico, mas também em assuntos como tecnologia 5G, disputas no Mar do Sul da China e contramedidas dos EUA relacionadas ao fentanil. Greer mencionou que, embora a pauta sobre o opioide letal esteja em “trilha separada”, as conversas foram “muito construtivas”.
A disposição de ambos os lados em evitar uma “desconexão” econômica (decoupling) sinaliza que, mesmo em um cenário de rivalidade geopolítica, há espaço para cooperação pragmática quando os custos de uma guerra comercial se tornam insustentáveis.
Conclusão
O acordo de Genebra não resolve todas as discordâncias, mas representa um passo decisivo para evitar uma desaceleração mais profunda da economia global. Ao proporcionar um alívio temporário de três meses, as partes ganham tempo para construir pontes negociais que possam levar a uma resolução mais duradoura das disputas comerciais. O êxito dessa fase provisória dependerá agora de compromissos concretos em áreas sensíveis e da vontade política de manter o diálogo aberto e construtivo.
Atualização
Até o fechamento deste artigo, não houve anúncio de extensão do acordo além dos 90 dias iniciais. Fontes oficiais indicam que, nas próximas semanas, serão realizadas reuniões técnicas virtuais para avaliar possíveis avanços antes do término desse período provisório.
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